Monday, June 10, 2013

Escola de Motos (da série Tudo Conto)

Era uma escola muito bonita, com os lugares de estacionamento das motos legais, com grama do lado, com as baias para cada uma.
A escola em si era bem grande, com salas e mais salas de aula, um mundo, com rampas, com tudo que tem direito, com instrutores bacanas e bem apanhados. A Harley Davidson estava lá, antiga, mas bonitaça, toda inteiraça depois do check-up. Fazia presença, de impor respeito.
Tinha as porqueirazinhas, novinhas ainda pirralhas, nem davam pro gasto, ciclomotores.
Tinha as estrangeiras, 750, imponentes.
O professor chegou à porta e falou grosso e ríspido, aquele vozeirão de deixar a gente sem graça, toda lubrificada.
PROFESSOR – para quem não me conhece sou O Professor e exijo respeito.
Quase derreti, ai.
PROFESSOR – Todo mundo de frente pra cá, vamos parar aí com a falação, todo mundo de olho no quadro negro.
HARLEY (como se fosse alguma mocinha charmosa) – Eu também, professor?
PROFESSOR – a senhora também, não tem regalia aqui pra ninguém, não. A senhora pode ser famosa, mas direção defensiva faz bem a todas, de todas as idades e potências. (ENFEZADO, MUITO SÉRIO, CARRANCUDO MESMO) – turma, é para andar em corredor de carros?
TURMA (a todo pulmão, querendo agradar o mestre) – não, fessô.
PROFESSOR (rindo) – é para fazer zig-zag na pista?
TURMA (rindo também) – não, fessô.
PROFESSOR (feliz da aceitação) – é para andar rápido onde tem pedregulhos?
DONA HONDA (sôfrega) – não, fessôzinho!
PROFESSOR (cortando) – dona Honda, a senhora que é maior e mais poderosa, dê exemplo pras mocinhas aqui presente, não se antecipe, se faz favor. Perguntei pra toda a turma. E aí, turma?
TURMA (rindo, ganindo, se divertindo com o atrapalhamento da japonesa) – NÃO, FESSÔ!
DONA HONDA (sem graça) – foi a Yamaha que me cutucou.
PROFESSOR – não interessa, toda a turma tem de participar. É para dar rabeada? Já que a senhora gosta tanto de se projetar, dona Honda, diga.
DONA HONDA (cabeça baixa) – não, professor, rabear nunca, se o patrão insistir, desligar o motor.
PROFRESSOR – muito bem, dona Honda. E a senhora pare de cutucá-la, dona Yamaha, senão mando para a oficina do diretor.
DONA YAMAHA – isso não, Professor.
PROFESSOR – e as brasileirinhas lá dos fundos, senhoritas Agrale, Cagiva, Zanella? O que tem pra dizer?
AS TRÊS (em uníssono) – a gente não tem muito a dizer, não, Professor, estamos mais aprendendo. Estamos prestando atenção tentando dar o melhor de nós (parecia tudo ensaiado).
PROFESSOR – então, gente, CORREDOR DE CARROS, NUNCA. Andar na chuva só com muito cuidado. Nunca dar tudo de si, para evitar dar aos donos excesso de expectativas. Nas competições o máximo de cautela e é só para as experimentadas. Deitar nas curvas com os patrões só com o MÁXIMO de prudência, com proteção. Alguma pergunta a mais, por hoje?
A TURMA TODA – não, fessô.
PROFESSOR – certo, amanhã vamos falar de cilindradas.
VIXON (francesa, toda melindrosa) – ai, professor, isso morde (ri)? Tô brincando, fessô.
FERRARI (toda coquete, jogando charme) – vamos dar uma festa lá em casa hoje, quer ir professor?
TODAS – vai professor. (FAZENDO CORO) Vai, vai, vai.
PROFESSOR – tá bom. Vou com tudo, tá bem? Vou levar meus amigos, vamos entrar arrebentando.
TODAS – ui.

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