Monday, June 10, 2013

Graduação dos Ventos (da série Tudo Conto)

Os ventos estavam se formando.
Eram 12 classes, portanto 12 turmas, cada qual com seu paraninfo, seu padrinho, o professor ou a professora que mais se destacara perante a turma no ano anterior.
Foi um festão, sempre era.
Das primeiras turmas às últimas era sempre uma alegria a formatura.
Havia também o pessoal do pré-primário, do jardim de infância dos ventos, da turma de socialização, que vez em quando caía no berreiro.
Pé de Vento, bem mirradinho, era um dos garotinhos, assim como Pum, apenas apelido, tão pequeninho e tão fraquinho, mas que por vezes fazia um barulhão e constrangia o pai ou a mãe, esta sempre muito recatada, soltava o Pum às escondidas: vá brincar, meu filho.
Pum tinha sido chamado pelo Vinícius para fazer uma ponta na música dele para crianças. Pé de Vento debochou, porisso mesmo Pum fez questão de cantar.


A PONTA DO PUM
O Vento
Estou vivo mas não tenho corpo
Por isso é que não tenho forma
Peso eu também não tenho,
Não tenho cor.

Estou vivo mas não tenho corpo
Por isso é que não tenho forma
Peso eu também não tenho,
Não tenho cor.

Quando sou fraco, me chamo brisa
E se assovio, isso é comum.
Quando sou forte, me chamo vento
Quando sou cheiro, me chamo pum.

Estou vivo mas não tenho corpo
Por isso é que não tenho forma
Peso eu também não tenho,
Não tenho cor.

Estou vivo mas não tenho corpo
Por isso é que não tenho forma
Peso eu também não tenho,
Não tenho cor.

Quando sou fraco, me chamo brisa
E se assovio, isso é comum.
Quando sou forte, me chamo vento
Quando sou cheiro, me chamo pum.


- Viu? Ham!
Os adultos estavam conversando.
- Ainda bem que os arruaceiros não vieram, né?
- É mesmo, ano passado Furacão e Tempestuoso, que estavam nas classes anteriores, quebraram tudo por aqui, foi um horror minha filha, um despropósito, uma desconsideração. Os pais e as mães que não tomam conta...
- Ainda por cima trouxeram o Ciclone, o Tornado e o Tornado Tropical, irmão gêmeo do outro, que vieram de outras paragens. Eles nunca tinham vindo, mas o Tufão, primo deles, passou por Santa Catarina e arrasou, inda bem que não veio pra cá. Adolescente é um problema sério, isso de pré-adulto é um saco, muita adrenalina.
Ali por perto os das primeiras séries não paravam quietos, Bafagem, Aragem, Moderado e Vento Fraco, que ficava bravo à bessa quando o chamavam assim, ele não gostava muito de ser Fraco, nome da família do pai, no email sempre colocava o nome da mãe, Vento, por mais que o pessoal dissesse que não tinha nada a ver.
Os veadinhos Fresco e Muito Fresco tentavam se aproximar de Vento Forte, mas este cortava volta, “que é isso, meus irmãozinhos?”.
- Nossa, que muque que você tem! Podemos pegar?
- Sai pra lá, boiolagem.
Muito Forte, o irmão maior de Forte, se intrometeu.
- Vou cubar vocês na porrada, seus bostinhas.
- Ui, que medo. Mãe, pai, Muito Forte que bater na gente.
- Quietos aí, crianças.
Novamente os adultos.
- Você tá de quantos meses?
- Seis.
- Menino ou menina?
- Menina, Calmaria. É uma graça, uma tranqüilidade que só vento, uma gravidez muito boa.
Duro e Muito Duro, os gêmeos de classes diferentes, passaram pisando com força. É que no ano anterior Duro ficou se engraçando pras moças e reprovou, um ano atrasado, o irmão o gozava: “Tô duro, tô duro”, imitando as galinholas. E ria, ria sem parar.
E de novo os adultos.
- E os Alísios, já chegaram?
- Não, deu problema no avião que vinha da França.
- Coisa grave?
- Não, de modo nenhum, devem chegar logo.
- Olha lá a Brisa, ela não é uma gracinha de menina?  Tão calma, tão comportada, tão nobre, faria tanto gosto se ela casasse com um dos meus! Mas são uns abrutalhados.
- Nem parecem seus meninos, logo você.
- Puxaram ao pai, minha filha.
- E a Monção, veio?
- Não, minha irmã é muito temperamental.
- E os anticiclones?
- Deus que me livre e guarde, se eles viessem acabariam com a festa. Rezo e faço penitência, cruz credo.
- E os Ventos do Leste, do Oeste, do Norte e do Sul?
- Só os Ventos do Oeste. Se vier uma família não vem as outras, é um inferno, incompatibilidade mesmo, não há nada que faça eles freqüentarem o mesmo lugar.
- Vamos que a diretora está chamando.



Histórico (retirado da Internet)

Sir Francis Beaufort (1774-1857), almirante Britânico, criou uma escala, de 0 a 12, observando o que acontecia no aspecto do mar (superfície e ondas), em conseqüência da velocidade dos ventos. Posteriormente, esta tabela foi adaptada para a terra. Em 1903 a equivalência entre os números da escala e o vento foi estabelecida pela fórmula: U = 1.87B3/2 onde U é a velocidade do vento em milhas náuticas por segundo e B é o número Beaufort.
ESCALA BEAUFORT DE FORÇA DOS VENTOS
Força
Designação
Velocidade
km/h
nós
Aspecto do Mar
Influência em Terra
0
CALMARIA
0 a 1
0 a 1
Espelhado.
A fumaça sobe verticalmente.
1
BAFAGEM
2 a 6
2 a 3
Mar encrespado em pequenas rugas, com aparência de escamas.
A direção da bafagem é indicada pela fumaça, mas a grimpa ainda não reage.
2
ARAGEM
7 a 12
4 a 6
Ligeiras ondulações de 30 cm (1 pé), com cristas, mas sem arrebentação.
Sente-se o vento no rosto, movem-se as folhas das árvores e a grimpa começa a funcionar.
3
FRACO
13 a 18
7 a 10
Grandes ondulações de 60 cm com princípio de arrebentação. Alguns "carneiros".
As folhas das árvores se agitam e as bandeiras se desfraldam.
4
MODERADO
19 a 26
11 a 16
Pequenas vagas, mais longas, de 1,5 m, com frequentes "carneiros".
Poeira e pequenos papéis soltos são levantados. Movem-se os galhos das árvores.
5
FRESCO
27 a 35
17 a 21
Vagas moderadas de forma longa de uns 2,4 m. Muitos "carneiros". Possibilidade de alguns borrifos.
Movem-se as pequenas árvores.
Nos lagos a água começa a ondular.
6
MUITO FRESCO
36 a 44
22 a 27
Grandes vagas de até 3,6 m. muitas cristas brancas. Probabilidade de borrifos.
Assobios na fiação aérea. Movem-se os maiores galhos das árvores. Guarda-Chuva usado com dificuldade.
7
FORTE
45 a 54
28 a 33
Mar grosso. Vagas de até 4,8 m de altura. Espuma branca de arrebentação; o vento arranca laivos de espuma.
Movem-se as grandes árvores. É difícil andar contra o vento.
8
MUITO FORTE
55 a 65
34 a 40
Vagalhões regulares de 6 a 7,5 m de altura, com faixas de espuma branca e franca arrebentação.
Quebram-se os galhos das árvores. É difícil andar contra o vento.
9
DURO
66 a 77
41 a 47
Vagalhões de 7,5 m com faixas de espuma densa. O mar rola. O borrifo começa a afetar a visibilidade.
Danos nas partes salientes das árvores. Impossível andar contra o vento.
10
MUITO DURO
78 a 90
48 a 55
Grandes vagalhões de 9 a 12 m. O vento arranca as faixas de espuma; a superfície do mar fica toda branca. A visibilidade é afetada.
Arranca árvores e causa danos na estrutura dos prédios.
11
TEMPESTUOSO
91 a 104
56 a 65
Vagalhões excepcionalmente grandes, de até 13,5 m. A visibilidade é muito afetada. Navios de tamanho médio somem no cavado das vagas.
Muito raramente observado em terra.
12
FURACÃO
105 a ...
66 a ...
Mar todo de espuma. Espuma e respingos saturam o ar. A visibilidade é seriamente afetada.
Grandes estragos.

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