Os ventos estavam se formando.
Eram 12 classes, portanto 12 turmas, cada
qual com seu paraninfo, seu padrinho, o professor ou a professora que mais se
destacara perante a turma no ano anterior.
Foi um festão, sempre era.
Das primeiras turmas às últimas era sempre
uma alegria a formatura.
Havia também o pessoal do pré-primário, do
jardim de infância dos ventos, da turma de socialização, que vez em quando caía
no berreiro.
Pé de Vento, bem mirradinho, era um dos
garotinhos, assim como Pum, apenas apelido, tão pequeninho e tão fraquinho, mas
que por vezes fazia um barulhão e constrangia o pai ou a mãe, esta sempre muito
recatada, soltava o Pum às escondidas: vá brincar, meu filho.
Pum tinha sido chamado pelo Vinícius para
fazer uma ponta na música dele para crianças. Pé de Vento debochou, porisso
mesmo Pum fez questão de cantar.
A
PONTA DO PUM
O Vento
Estou vivo mas não tenho corpo
Por isso é que não tenho forma Peso eu também não tenho, Não tenho cor. Estou vivo mas não tenho corpo Por isso é que não tenho forma Peso eu também não tenho, Não tenho cor. Quando sou fraco, me chamo brisa E se assovio, isso é comum. Quando sou forte, me chamo vento Quando sou cheiro, me chamo pum. Estou vivo mas não tenho corpo Por isso é que não tenho forma Peso eu também não tenho, Não tenho cor. Estou vivo mas não tenho corpo Por isso é que não tenho forma Peso eu também não tenho, Não tenho cor. Quando sou fraco, me chamo brisa E se assovio, isso é comum. Quando sou forte, me chamo vento Quando sou cheiro, me chamo pum. |
- Viu? Ham!
Os adultos estavam conversando.
- Ainda bem que os arruaceiros não vieram,
né?
- É mesmo, ano passado Furacão e
Tempestuoso, que estavam nas classes anteriores, quebraram tudo por aqui, foi
um horror minha filha, um despropósito, uma desconsideração. Os pais e as mães
que não tomam conta...
- Ainda por cima trouxeram o Ciclone, o
Tornado e o Tornado Tropical, irmão gêmeo do outro, que vieram de outras
paragens. Eles nunca tinham vindo, mas o Tufão, primo deles, passou por Santa
Catarina e arrasou, inda bem que não veio pra cá. Adolescente é um problema
sério, isso de pré-adulto é um saco, muita adrenalina.
Ali por perto os das primeiras séries não
paravam quietos, Bafagem, Aragem, Moderado e Vento Fraco, que ficava bravo à
bessa quando o chamavam assim, ele não gostava muito de ser Fraco, nome da
família do pai, no email sempre colocava o nome da mãe, Vento, por mais que o
pessoal dissesse que não tinha nada a ver.
Os veadinhos Fresco e Muito Fresco tentavam
se aproximar de Vento Forte, mas este cortava volta, “que é isso, meus
irmãozinhos?”.
- Nossa, que muque que você tem! Podemos
pegar?
- Sai pra lá, boiolagem.
Muito Forte, o irmão maior de Forte, se
intrometeu.
- Vou cubar vocês na porrada, seus
bostinhas.
- Ui, que medo. Mãe, pai, Muito Forte que
bater na gente.
- Quietos aí, crianças.
Novamente os adultos.
- Você tá de quantos meses?
- Seis.
- Menino ou menina?
- Menina, Calmaria. É uma graça, uma
tranqüilidade que só vento, uma gravidez muito boa.
Duro e Muito Duro, os gêmeos de classes
diferentes, passaram pisando com força. É que no ano anterior Duro ficou se
engraçando pras moças e reprovou, um ano atrasado, o irmão o gozava: “Tô duro,
tô duro”, imitando as galinholas. E ria, ria sem parar.
E de novo os adultos.
- E os Alísios, já chegaram?
- Não, deu problema no avião que vinha da
França.
- Coisa grave?
- Não, de modo nenhum, devem chegar logo.
- Olha lá a Brisa, ela não é uma gracinha
de menina? Tão calma, tão comportada,
tão nobre, faria tanto gosto se ela casasse com um dos meus! Mas são uns
abrutalhados.
- Nem parecem seus meninos, logo você.
- Puxaram ao pai, minha filha.
- E a Monção, veio?
- Não, minha irmã é muito temperamental.
- E os anticiclones?
- Deus que me livre e guarde, se eles
viessem acabariam com a festa. Rezo e faço penitência, cruz credo.
- E os Ventos do Leste, do Oeste, do Norte
e do Sul?
- Só os Ventos do Oeste. Se vier uma
família não vem as outras, é um inferno, incompatibilidade mesmo, não há nada
que faça eles freqüentarem o mesmo lugar.
- Vamos que a diretora está chamando.
Histórico (retirado da Internet)
Sir Francis Beaufort (1774-1857), almirante Britânico, criou uma
escala, de 0 a 12, observando o que acontecia no aspecto do mar (superfície e
ondas), em conseqüência da velocidade dos ventos. Posteriormente, esta tabela
foi adaptada para a terra. Em 1903 a equivalência entre os números da escala
e o vento foi estabelecida pela fórmula: U = 1.87B3/2 onde U
é a velocidade do vento em milhas náuticas por segundo e B é o número
Beaufort.
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