O jornalista de A Capeta foi
entrevistar Sísifo, aquele que vivia trabalhando pra levar a pedra lá em cima
do morro e chegando lá ela voltava à base, tendo de reiniciar tudo.
- Bom dia, seu Sísifo.
- Só se for procê, seu idiota.
- Calma, meu senhor.
- Calma o caralho.
- Mudando de insulto, o que o senhor
está fazendo?
- O que você acha?
- Sei, mas a gente precisa informar
os leitores.
- Estou terminando de levar a pedra,
tá vendo que estou quase na hora do recreio?
- E depois disso?
- Bom, depois ela rola até lá
embaixo.
- E o senhor vai buscar?
- Não, você que vai, seu animal.
- E aí?
- Aí é sábado e domingo, desço bem
devagar pra durar.
- Segunda pega de novo.
- É, ad infinitum, agora que o PT
chegou.
- Ao infinito? E a aposentadoria?
- Só Deus sabe, se a Dilmandona não
aumentar para oitenta anos.
- E no mais?
- No mais eu rio daquele idiota lá
na metade do morro. Está na quarta etapa, ainda faltam duas. (GRITA) Se foda,
seu corno. (O OUTRO FAZ COM O DEDO).
- Vou lá entrevista-lo.
- Já vai tarde, seu bosta.
O jornalista desce, no meio há outro
Sísifu.
- Bom dia, seu Sísifo.
- Vá tomar no c*, sua porra.
- Nossa, que agressividade.
- Agressividade de c* é rola.
- Calma, meu senhor.
- Não tá vendo que eu tô lutando com
a pedra? Ainda faltam dois dias, o que aquele puto lá de cima falou procê?
- Bem, não é política da empresa
falar das fontes.
- Manda a empresa tomar.
- Meu senhor, sou só pau mandado,
onde o chefe manda eu vou. O senhor tá bem?
- Eu tava ouvindo o que você tavam
falando lá em cima, vou mandar você por mesmo lugar, seu titiquinha.
- Fora esse nervosismo o senhor é
feliz?
- Como posso ser feliz, a única
satisfação que eu tenho é ver o chifrudo de baixo, que ainda tá começando, rá,
rá, rá.
- Quem, o Sífudeu III?
- Isso mesmo (GARGALHA, FALA PRA
BAIXO). Sua coisa ruim, vai penar cinco dias.
O de baixo mostra os dedos das duas
mãos.
O jornalista desce.
- Bom dia, seu Sísifudido.
- É Sísifo, com muito orgulho, estou
trabalhando para sustentar minha família.
- Ainda bem que o senhor vê mérito
na coisa, os lá de cima tão bravos.
- É que eles estão para aposentar, o
mais de cima faltam cinco anos (se a Dilmandona não passar pra 15 anos, só de
pensar ele tem um troço).
- O senhor tá satisfeito, então?
- Satisfeito não tou, mas tenho que
falar que tou, né? Quer me ajudar um pouco?
- Não, senhor, minha pedreira é
outra.
- Eu tenho 15 anos de trabalho,
esperava aposentar com mais 20, agora faltam 25 com o Lulambão, se a Dilmandona
não aumentar para 35. Mas tá bom, pelo menos já tou no trampo. E aquele cavalo
lá, que ainda está aprontando a pedra dele? Tá vendo, cúbica ainda, tá na
escola, até se formar e tudo a pedra vai ficar redondinha pra ele começar a
empurrar – dou dois, três anos ele se forma, aí começa, quero ver ele ficar
saltitando igual uma vaquinha de presépio, rindo igual um cavalo. (GRITA) Vai,
seu estudantinho de merda, se você não roubar que nem o Dizeu vai se fuder
direitinho. Ou tem de ser genuíno, meu chapa ou um pallocci de circo. E aí,
gente boi? (DÁ COM A MÃO ALEGREMENTE, O OUTRO RESPONDE TODO FELIZ)
- Tem coisa pior do que tá
começando?
- Se tem? Claro que tem! Tá vendo
aquele cavalo de crista ali? (APONTA).
- Estou, sim, senhor.
- Pois é, aquele animal tá voltando
das férias, um mês inteirinho longe das pedras (GARGALHA), que filho da puta
(GRITA), PÓOOTA QUE O PAAARIU, POOORA, vá se lascar seu salafrário.
- Muito palavrão aqui na profissão,
né?
- Meu filho, tenta empurrar esta
porra de pedra...
O jornalista tenta, sua, peida, a
pedra mal se move do lugar.
- Já entendi.
No comments:
Post a Comment