Algum galhofeiro misturou Papai Noel com
Pappy, essa suposta figura paterna incestuosa com filha, segundo a Internet
sexual que toca na banda podre.
Foi quanto bastou para que a polícia,
pegando o bonde a caminho, intuísse sabiamente haver algum velhinho barbudo e
barrigudo atrás de garotinhos e garotinhas para pedofilia, dando-lhes presente,
pois a galhofa desconfiava de Pappy Noel descendo pelas chaminés para “passar o
saco nas crianças” e corromper os baixinhos (assim como fizeram com Sócrates -
sabe-se lá se este tinha culpa no cartório, perguntava a polícia maliciosa),
não o brasileiro doutor do futebol, mas o outro de quase dois mil e quinhentos
anos atrás.
- Aí tem - disse o doutor Frisado, delegado
de plantão.
- Pode ser mesmo - ajuntou Carlão, o
policial amigo das prostitutas.
- Você acha, Carlão?
- Claro, doutor, quem inventou isso é gente
da Praia do Cantinho, classe média alta que sabe das coisas, entende?
Carlão falava igual Pelé, que ele admirava
e imitava, exceto na genialidade, pois Carlão era burro feito porta analfabeta.
Era das antigas, antes dos concursos, pois se participasse de algum ficaria em
penúltimo lugar, por não ter competência a ponto de ser o mais idiota. Nem
isso.
Doutor Frisado franziu a testa, mergulhando
os olhos rumo ao nariz em extrema concentração.
- Realmente, pode ser um código de
denúncia. Não querendo dar nome ao boi, ele foi indireto.
- Isso, doutor, o senhor é um gênio.
Carlão puxava o saco do delegado sem o
menor constrangimento, como se faz nas repartições públicas, onde tudo é
público.
- Pode ser dar de ser alguém das relações
do rapaz na Internet que anda traçando os garotinhos e menininhas, isso é uma
nojeira sem fim.
O delegado não se incomodava de ele mesmo
ter inventado tudo.
Carlão confirmou.
- É isso mesmo, doutor.
E apontava o dedo para dar ênfase.
Foi assim que nasceu a investigação.
Eles ficaram na butuca. Por meses a fio, a
par de outras investigações, nos tempos vagos eles ficaram na tocaia, com a
ajuda de um hacker das redondezas com algumas passagens pela 38º DP.
E finalmente descobriram alguém que “batia”
mais ou menos: tinha barba, mas não era tão grande, nem completamente branca.
Tinha cabelo branco, era velho e relativamente gordo. E não é que o velho
safado ficava na IS (Internet sexual)? Ficava mesmo, o ordinário.
Dito e feito, grampearam o paisano,
positivo e operante. Foi quando ele estava enviando um arquivo. Fixaram o
cretino, puseram o dedão dele e os dedos todos na almofada e carimbaram no
papel, agora o bicho tava que tava preso e ninguém soltava. O camaradinha
inventor de tudo, vendo as semelhanças, ajudou a propagar na web e a gente toda
achou graça, foi uma risadaria danada, Pappy Noel pra cá, Pappy Noel pra lá, a
imprensa montou em cima.
O delegado foi entrevistado e Carlão saiu
na foto como papagaio de pirata, na margem, com o delegado empurrando-o para
fora com o cotovelo. O Chefe de Polícia parabenizou a iniciativa. A prisão foi
capa da prestigiada revista nacional Veja e Leia.
O tal senhor foi preso e processado, os filhos
se afastaram dele, a mulher se divorciou, na repartição deram gelo nele,
ameaçando processá-lo, só não o fazendo por pouco, pois era ótimo funcionário.
Seis meses depois ele foi a julgamento e foi inocentado, pois não passava de
engano: ele apenas estava transferindo inocente matéria em que havia fotos de
crianças.
O dano estava feito.
Desculpas foram pedidas pelo Tribunal, mas
não saíram na imprensa. Os filhos, envergonhados por terem duvidado do pai,
tornaram-se ainda mais arredios. A mulher, já tendo se envolvido com outro,
pediu divórcio. Com isso o falso e inocente Pappy ficou sem casa e foi morar em
hotel, despesa alta demais, ele acabou mudando-se para bairro da periferia. Os
amigos, constrangidíssimos de o terem abandonado e falado mal pelas costas,
fizeram questão de ignorá-lo.
Certa noite, estando na pizzaria da
periferia comendo pizza com guaraná foi depois de violento bate-boca atingido
no peito por revoltado pai de família não sabedor da inocência dele e, levado
às pressas ao pronto-socorro, morreu.
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