Thursday, October 31, 2013

Profissional de Orientação (da série Expresso 222..., Livro 2)


Profissional de Orientação

 

                        Por incrível que pareça, num mundo tão vasto e complexo quanto este (para quem vem de trás), há neste planeta falta de orientação. Como pudemos falhar tão clamorosamente assim? O máximo a que chegamos foi a Orientação Familiar (para casais com problemas de relacionamento – algo em desuso), Orientação Educacional ou Estudantil (um arremedo, que trata dos testes de QI e pouco mais) e Orientação Profissional (que não passa de uma concessão interesseira da burguesia).

                        O modelo vai muito mais longe que isso.

                        Ele diria de orientações pessoambientais: ORIENTAÇÕES PESSOAIS (individuais, familiares, grupais e empresariais) e ORIENTAÇÕES AMBIENTAIS (municipais/urbanas, estaduais, nacionais e mundial).

                        Falaria de orientações aos conhecimentos altos (Magia, Teologia, Filosofia e Ciência) e aos conhecimentos baixos (Arte, Religião, Ideologia e Técnica) e à Matemática. De orientações científicas (Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5, Dialógica/p.6). De orientações psicológicas: psicanalítica (às figuras – quem), psico-sintética (dos objetivos alcançáveis ou metas – por quê), econômica (da produção – com quê), sociológica (da organização – como), espacial (do espaço ou lugar – onde), temporal (do tempo ou instante – quando). De orientações econômicas: agropecuárias/extrativistas, industriais, comerciais, de serviços e bancárias. Sem falar nas 6,5 mil profissões que, segundo dizem, são professadas no mundo-Terra.

                        E assim por diante.

                        Enfim, o modelo vê a ORIENT/AÇÃO (ato permanente de orientar) como uma nova dimensão das relações humanas.

                        É evidente que toda a PEDAGOGIA é uma espécie de orientação, dos professores (representando as escolas, e estas ao modelo educacional – mundial, nacional, estadual, municipal/urbano) aos alunos, ao estudantado. E vice-versa, a orientação é uma pedagogia mais ampla, geral. A Orientação (em maiúscula conjunto ou família ou grupo de orientações) é o modo geral de ensinar, de transferir o conhecimento. A pedagogia seria a orientação-educacional, havendo outras, evidente.

                        Torna-se claro, raciocinando assim, que os governos e as empresas, os governempresas, as políticadministrações devem inquestionavelmente preparar-se para oferecer essa ajuda, no mundo MUITO MAIS complexo que o futuro está desenhando.

                        As pessoas e os ambientes estão necessitando tremendamente desse amparo, desse empurrão para continuarem em frente proveitosamente ao máximo. O mundo humano tornou-se intricado demais para ser encarado sozinho, seja por qual conjunto for, exceto a própria totalidade do mundo. Ninguém consegue deixar de ter inquietações, verdadeiros arrepios de pasmo e receio, diante do enfrentamento posto pelos dias de hoje.

                        Por via de tal pensamento, os PROFISSIONAIS DE ORIENTAÇÃO, nova e larguíssima profissão do futuro, devem primeiro ser formados num contingente apropriado e depois multiplicados com rígido controle de qualidade, de forma que dentro de três décadas tenhamos milhares e mesmo milhões deles em todo o mundo, portanto uma formidável carga e dados em bancos de dados extraordinariamente dilatados.

                        Que mundinho mais besta era esse pelo qual eu tinha paixão infantil! Quanta arrogância e estupidez nós tínhamos diante de tudo!

                        Antes acordar tarde que nunca, diz o ditado popular reformado. Cabe correr para estabelecer o quanto antes esse novo grupo de profissionais, criando as faculdades para o chamado “ensino superior” dela modalidade nova de pensimaginação.

                        Vitória, sexta-feira, 03 de maio de 2002.

Os Níveis do Xadrez (da série Expresso 222..., Livro 2)


Os Níveis do Xadrez

 

                        O tabuleiro do xadrez tem 64 casas, 8 x 8.

                        São em geral chamadas de BRANCAS e PRETAS, mas podem ser de quaisquer cores, aos pares, até cor-de-rosa e brancas, digamos, para os veados. Ou verdes e azuis, o que for, verde representando a vida e azul os ataques a ela, para os ecologistas.

                        As peças são de cores contrárias, peças pretas em casas brancas e peças brancas em casas pretas, como no Yin e Yang – os times jogam dialeticamente nas posições contrárias.

                        Há oito peões na fileira da frente; e na fileira de trás duas torres nas extremidades, dois cavalos mais para dentro simetricamente, dois bispos, o Rei e a Rainha. O Rei das Pretas fica em casa branca, mas do outro lado, em oposição, o Rei das Brancas, ficando em casa preta, se situa defronte do seu opositor, e vice-versa, de modo que as rainhas também se opõem.

                        Evidentemente os peões representam o trabalho braçal, e são empurrados à frente sem a mínima consideração (seja dos patrícios escravistas, dos reis feudalistas, da burguesia capitalista ou dos intelectuais socialista). Os cavalos simulam as forças armadas de defesa e ataque. Os bispos – veja que são bispos, não sacerdotes – significam o conhecimento, mediado pelas lideranças, e não, como primitivamente, a Igreja. Mais recuadamente seriam os magos. Não são somente os magos/artistas, nem os teólogos/religiosos, nem os filósofos/ideólogos, nem os cientistas/técnicos e os matemáticos, mas todos, em conjunto, ou seja, a pesquisa & desenvolvimento, a busca de entendimento.

                        A Rainha representa o sexo feminino e o Rei o sexo masculino, porém, além disso, ambos representam a estabilidade do Estado.

                        As torres expressam o poder econômico/sociológico, a produção/organização.

                        Com isso está montado o cenário para os conflitos todos, das guerras às disputas por informação/controle-comunicação, ou info-controle ou IC. O objetivo todo é “tomar o Rei”, quer dizer, incorporar o Estado estrangeiro à sua órbita de influência.

                        Existem dois tipos de perigo: o xeque, em que o Rei-Estado é ameaçado, mas há chance de escapar, e o xeque-mate, em que não há nenhuma oportunidade de evasão – segue-se que o Rei-Estado se rende, é tombado simbolicamente.

                        Como curiosidade, diz-se que quando o inventor apresentou o jogo ao Rajá (rei hindu, da Índia) há muitos e muitos séculos, ele ficou tão satisfeito que prometeu uma recompensa. O inventor, modestamente, pediu que fosse colocada na primeira casa um grão de arroz, na segunda dois, na terceira quatro e assim por diante, de modo que o rei, mais feliz ainda, mandou prontamente que ele fosse satisfeito. Isso é uma progressão geométrica, na 64ª casa sendo necessários 9.223.372.036.854.775.808 grãos, ou seja, 9,2 quintilhões (se um grão pesar um grama, isso equivaleria a 9,2 milhões de toneladas), e a soma é o dobro disso menos um, quer dizer, 18,4 quintilhões. O inventor, apesar de matemático muito esperto, foi logo em seguida morto pelo carrasco do Rajá, segundo contam.

                        Evidentemente o xadrez tem encantado as gerações continuamente. Existem grandes mestres, mestres, aficionados, meros jogadores sofríveis e espectadores. É tão difícil que a URSS em sua emulação ou imitação do Ocidente, querendo estar acima e à frente, investia horrores na descoberta dos talentos e em seu financiamento, de forma que, enquanto existiu o pseudocomunismo a maioria dos grandes mestres veio de lá. O primeiro grande mestre americano a vencer os soviéticos foi Bobby Fisher, na década dos 1970, e o primeiro brasileiro a se tornar grande mestre foi Mequinho, que depois entrou em colapso e se retirou da mídia.

                        Só recentemente, creio que em 2001, um programa de computador foi capaz de derrotar um grande mestre.

                        E, veja só, o xadrez tem todas essas dimensões.

                        De divertimento, de co-elaborador do pensamento, de visão larga dos conflitos, de árvore das decisões. E tem um outro sentido, mais alto, de ser a briga ou disputa de dois infinitos, 8 x 8, Natureza e Deus, as duas faces de ELI, dois mundos ou modelos em choque.

                        O xadrez deveria ser jogado por todos. Eu mesmo sou um apaixonado que nunca o jogo, pois haveria risco de empenho demais, e de eu me esquecer das tarefas. Em todo caso ele deveria ser ensinado em todas as escolas, mormente nas mais elevadas, como graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, bem assim nas empresas, em particular as grandes, onde decisões sobre investimentos devem ser tomadas, necessitando das precauções que esse jogo espetacular poder proporcionar, vertendo-se o Estado ou governo para Administração empresarial, e redesenhando as figuras: peões como força de trabalho, bispos como conhecimento econômico (agropecuário/extrativista, industrial, comercial, de serviços e bancário), etc.

                        E pensando em cada elemento por sua psicologia (figuras, objetivos, economia/produção, sociologia/organização, e espaçotempo ou geo-história).

                        Ora, essas alterações tornam o jogo ainda mais interessante.

                        Vitória, segunda-feira, 13 de maio de 2002.

Os Gênios São Egoístas? (da série Expresso 222..., Livro 2)


Os Gênios São Egoístas?

 

                        No modelo são sete (mais o centro iluminante, 8, ELI, Natureza/Deus, Ela/Ele) os tipos psicológicos, conforme sua capacidade de ver e agir sobre o mundo: 1) povo, 2) lideranças (comunitárias, sindicais, estudantis), 3) profissionais (liberais, políticos, professores), 4) pesquisadores (mestres e doutores), 5) estadistas, 6) santos e sábios, 7) iluminados.

                        Todos são criadores, todos são gênios.

                        Porém, quando se usa a palavra, está-se realizando uma seleção ou partição ou divisão, no sentido do menor conjunto, o chamado “quartil superior”, os 25 % mais, no caso acima iluminados e Iluminante. Como este é inacessível, devemos recolocar como santos e sábios, e iluminados, para os quais, em termos de criações duradouras, todos os outros trabalham.

                        São essas criaturas criadoras egoístas? Padecem do egoísmo (no modelo todo “ismo” é doença do info-controle/comunicação mais apto, agoraqui a humanidade), a superafirmação do EGO/EU?

                        Como não poderia deixar de ser esses indivíduos são extremamente centrados, porque muito firmes em suas posições e resoluções. Neste sentido são egoístas, voltam-se para si mesmos e para seus propósitos, a nada mais prestando atenção, nem se deixando dissuadir por nenhum projeto externo. E têm mesmo de ser, pois se trata de inventar o futuro, de reinventar o passado. Se fosse diferente, se cedessem às aspirações, desejos e comandos alheios, o futuro nunca seria diferente, ou não tão diferente quanto é necessário. A humanidade sucumbiria aos riscos e às mudanças desastrosas que, vira-e-mexe, estão batendo à nossa porta coletiva. Para conduzir a humanidade devem ser portadores dessa independência a toda prova.

                        Por outro lado não são, nem podem ser.

                        Não são na medida em que o que fazem não é para eles, é para as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo). Não vivem para si, e sim para os outros. São desprovidos de auto-interesse.

                        Então, como o modelo pede, a resposta é sim e não ao mesmo tempo. São egoístas em razão de suas missões pedirem uma centralização insistente e duradoura em suas opiniões, sentimentos e razões. Não são, de outra banda, porque dessas missões nada sobra ou resta para eles, a não ser martírio, dor, preocupações, perseguições.

                        O prêmio que levam, evidentemente, é a realização, e antes disso, se aquela não acontece em vida, a busca da realização.

                        Por sinal prêmio valiosíssimo, que os destaca em meio à multidão. Prêmio que, por si mesmo, é maior que tudo o que os outros recebem ainda em vida, como reconhecimento, glória, fama, riqueza, sexo até.

                        Portanto a resposta dupla deixa escapar que os gênios são egoístas, sim, mas egoístas do jeito que todos deveriam ser, se desejassem um mundo melhor para todos. A diferença é que, quanto mais se desce na escada, mais o indivíduo deseja a felicidade só para si.

                        Daí que, quando vejo certos biógrafos negativistas analisarem os gênios sob a ótica de sua existência humana, eu rio, eu gargalho de cair no chão, metaforicamente.

                        Vitória, segunda-feira, 13 de maio de 2002.

O Que Einstein Buscou e o Que Ele Achou (da série Expresso 222..., Livro 2)


O Que Einstein Buscou e o Que Ele Achou

 

                        Em 1905 Albert Einstein (físico judeu-alemão naturalizado americano, 1879-1955) publicou seu artigo sobre a relatividade restrita. Em 1916 publicou o da relatividade geral, hoje chamada de Teoria da Gravitação de Einstein, que nos diz ser o espaço curvo, por oposição à Teoria da Gravitação de Newton. Trabalhou também o efeito fotoelétrico, pelo qual ganhou o Prêmio Nobel.

                        Uniu espaço e tempo em espaçotempo, que chamei Primeira Chave de Einstein, e a matéria (massa) e a energia através da fórmula E = mc², a Segunda Chave.

                        Desde a publicação da Relatividade Geral ele trabalhou na busca da Teoria do Campo Unificado, que uniria as quatro FORÇAS (na realidade ondas ou campartículas ou materenergias) FUNDAMENTAIS, até sua morte em 1955. Nunca a encontrou.

                        Para os físicos essas quatro forças são: a gravitacional, a eletromagnética, a fraca e a forte.

                        É pensamento geral que ele morreu sem conseguir.

                        Tendo escrito o modelo de 07/1992 a 07/2001, segui fielmente os físicos. Finalmente comprei e li partes do livro admirável de Brian Greene, O Universo Elegante (supercordas, dimensões ocultas e a busca da teoria definitiva), São Paulo, Cia. Das Letras, 2001. Vários físicos estão agora falando da Teoria de Tudo (TT) -- na Física (TTF) --, que englobaria as quatro forças.

                        A Teoria das Cordas, que surgiu na década dos 1960 e ficou estacionada durante certo tempo, foi retomada na década dos 1980 e atingiu o patamar da Teoria das Supercordas, através da qual os teóricos reuniram três das quatro forças: primeiro a eletromagnética com a fraca, na Teoria Eletrofraca, depois as duas com a forte na Supersimetria.

                        Nas páginas 201 e ss, Greene mostra com gráficos e palavras que a distâncias cada vez menores, próximo da distância de Planck, as três forças convergem numa só, ficando de fora apenas a gravitacional.

                        Na Teoria de Tudo os físicos desejam unir a Teoria da Relatividade com a Teoria Quântica, numa recém denominada Geometria Quântica, ou Teoria da Relatividade Quântica.

                        Ora, o modelo vê tudo em quádruplas, de modo que o arranjo das quatro forças era satisfatório.

                        Mas, raciocinando sobre James C. Maxwell (físico escocês, 1831 – 1879, morreu muito cedo, infelizmente), que reuniu as forças elétrica e magnética numa só, eletromagnética, vi que ele JÁ HAVIA REUNIDO DUAS DELAS, e que as quatro forças seriam a ELÉTRICA, a MAGNÉTICA, a FRACA e a FORTE, sendo a GRAVITACIONAL a quinta força. As quatro formam um quadrado de base de uma pirâmide, a gravitacional estando no topo.

                        Conseqüentemente, já existiam quatro forças, a gravitacional sendo a quinta delas, o chamado “quinto elemento” das lendas, o elemento central. Sem o saber, talvez, Maxwell já tinha produzido, com seu intelecto brilhante, essa primitiva reunião, que deve servir de modelo para as demais. Então o certo seria unir a fraca e a forte numa dupla fraca-forte, e então os dois pares na nova Teoria Quântica, que não mais estaria em conflito com a Teoria da Relatividade, pois esta se referiria à conformação espaçotemporal.

                        Na minha opinião, a constante gravitacional que Einstein buscava inicialmente, e depois descartou, é G, na fórmula F = G m1.m2/d². Isso tornaria o universo estático, o que iria contrariar a hipótese de Gamow, do Big Bang (Grande Explosão, Barulhão, precedido do Grande Estresse).

                        Contudo, comecei a pensar que devem existir DOIS espaçotempos, a saber: 1) o ET de configuração, eterno e infinito, e 2) o ET de modulação/modelação, este finito e limitado no qual estamos. Desta forma o UNIVERSO ESTÁTICO, de Einstein, teria uma constante gravitacional, mas não o UNIVERSO DINÂMICO, de Gamow. Em conjunto eles seria estático-dinâmicos, numa mecânica universal de criações, da qual emergiriam os universos.

                        A gravidade seria o notificador universal, para todos os universos, mas não sempre com o mesmo valor de G. Teríamos um G (i), do qual este que conhecemos seria um G (n, de nosso), com um G (0) tendo começado o processo.

                        Como coloquei no modelo, duas forças (a elétrica e a magnética) estariam no plano da Química, e as outras duas (a fraca e a forte) no plano da Física. O campartícula ou onda primordial seria agora a gravitacional, criando a seguir os quarks e a nuvem de campartículas ou ondas denominadas sub-partículas. Ao passo que a força eletromagnética seria a responsável pela organização dos átomos e das moléculas, tudo crescendo como na micropirâmide do modelo.

                        Com esse re-arranjo não haveria mais dificuldades, nem conflito ou antagonismo entre as teorias quântica e da relatividade, que têm colocado os físicos uns contra os outros por 80 anos. A Teoria de Tudo não precisaria ser ainda produzida, já estaria funcionando, e restaria descobrir como a materenergia ou onda ou campartícula gravitacional CONSTRÓI as partículas e os átomos, por intermediação dos quarks. Ficaria pendente a reunião das forças fraca e forte nos moldes de Maxwell, com campos ortogonais, e criando ou possibilitando máquinas, como o eletromagnetismo proporcionou.

                        Quais são o campo/matéria e a partícula/energia gravitacionais?

                        Eles seriam os verdadeiros construtores do espaçotempo, definitivamente einsteiniano (tenho umas coisas para falar sobre isso).

                        Vitória, segunda-feira, 29 de abril de 2002.

O Prêmio dos Ruins (da série Expresso 222..., Livro 2)


O Prêmio dos Ruins

 

                        A gente fica irritada com o fato palpável e comprovado de que aparentemente só os ruins, só os maus são recompensados nesta vida.

                        No ES um contraventor e assassino foi eleito deputado estadual por três vezes quatro anos, tendo sido presidente da Assembléia Legislativa por duas vezes dois anos, agora no terceiro mandato. Os “colarinhos sujos” (gente do “colarinho branco”, burocratas desviados e infiéis) ladrões de governos e empresas vivem em mansões, têm carros do ano, piscina, dinheiro na poupança, e o resto das comodidades. Os corruptos em geral, inclusive na minha categoria, o Fisco, estão sempre “por cima”, bem de vida, como se diz.

                        Os que colam na escola se formam, os que param em fila dupla fazem tudo com mais facilidade, os que batem nas mulheres são amados por elas, enquanto os dedicados à família são tidos como frouxos, os esforçados no serviço como otários, os honestos como bobos e assim por diante.

                        Bom, como eu já disse, a honestidade é o melhor valor de sobrevivência, porque, sendo mais difícil, exige mais qualidades. Eventualmente todos os seres humanos dependem dos honestos para continuar a sobreviver, a deixar mensagem psicológica, para além da genética, para o futuro. Ano após ano o futuro é retrato da honestidade. Só que, ela sendo 50/50 com a desonestidade, não percebemos isso. Entretanto, SEMPRE, essa desonestidade de agora é muito menos desonesta que qualquer uma do passado, e cada vez mais, quanto mais se recue.

                        Além disso, estava conversando com Gabriel, meu filho de, agoraqui, 16 anos, sobre pessoalidade e impessoalidade, conforme entendida pelos hindus.

                        O modelo diz que ambas as opções são verdadeiras: Deus (na realidade Natureza/Deus, Ela/Ele, Grande Mãe e Grande Pai, ELI) é tanto pessoal quanto impessoal. Quer dizer, umas “almas” (o que quer que sejam) serão absorvidas indiferenciadamente e outras manterão suas consciências, isto é, verão a ELI em toda sua grandeza e imensidão do Plano da Criação ou construção do pluriverso. Para uns o prêmio é dado em vida e outros só “na outra vida”, se existe isso.

                        Naturalmente um pensamento assim pode ser só conformismo, uma forma de não lutar nas guerras de agoraqui, um tipo de covardia ou subtração tão aguda que arranja uma desculpa na chamada “metafísica”, o que está além das provas e demonstrações, para não enfrentar os perigos dos choques com os abrutalhados e violentos. Acho que é isso – TAMBÉM. De outra parte, pode ser verdade, nunca saberemos em vida. É indemonstrável, depende de fé e confiança. Os que são religiosos, e os teólogos, compreenderão essa mensagem e a sustentarão, porém paira a dúvida, claro.

                        Apesar disso o modelo, sendo 50/50, evidencia essa postura.

                        Para uns o prêmio é deste mundo e para outros não.

                        Uns, não confiando, avançam e com raiva e fúria arrancam o prêmio logo agora, logo aqui, neste espaçotempo ou tempespaço, neste tempolugar, neste pontinstante, sem deixar passar nada. Querem logo, querem para já, A QUALQUER CUSTO, seja assassinato, mentira, infidelidade, crueldade, banalidade, sujeição, bajulação, perfídia e todo o lado ruim do Dicionário e da Enciclopédia.

                        Do outro lado estão os reservados, os quietos, os mansos de coração, os que são humilhados de nascença, os do lado bom do D/E.

                        Claramente, mais uma vez, embora tanto a ruindade quanto a bondade sobrevivam, ESTATISTICAMENTE, 50/50, na realidade a bondade é que leva o mundo adiante, é ela que é o valor maior de sobrevivência, o índice superior na luta pela sobrevivência biológica/p.2 e psicológica/p.3 das criaturas todas. É um funil, em que só os bons do caminho estreito e difícil passam, indo para o futuro. Os ruins conduzem à morte.

                        Como é que, em cada era, os ruins estão sempre presentes?

                        É que é 50/50, a cada geração A RUINDADE É REINVENTADA, e todavia sempre melhores-ruins vão aparecendo. Os maus de agora são muito menos maus que os maus de antigamente, o que renderia teses de mestrado e doutorado incríveis, se a Academia não fosse tão parva, tão ignara, tão bronca.

                        Basta olhar a geo-história para comprovar esse fato.

                        Os judeus de outrora eram muito piores que esses de agoraqui. Tanto assim que foi necessária toda uma Bíblia, Antigo Testamento, com os Dez Mandamentos e os ensinos continuados dos profetas, para melhorá-los. E para os cristão, isso e mais o Novo Testamento. Imagine como o mundo era terrível antes. E os orientais? E os muçulmanos?

                        E do mesmo modo todos os povos.

                        Como haveríamos de suportar, em nossos dias, as atrocidades dos maias assassinos rituais ou dos europeus de antanho?

                        Se você pensar bem, seria intolerável.

                        E quanto a nós, tudo o que fazemos, batendo nas mulheres e crianças, desprezando os velhos, roubando e matando, perpetrando milhares de desvios, consumindo-nos em drogas e violências, desfavorecendo os seres humanos de outras cores de pele, de outros sexos, de outras idades, de outras formas de riqueza, de outros espaços e outros tempos? Como o futuro nos verá, senão com criminosos dignos de pena?

                        Portanto, o futuro é sempre melhor. Se for se tornando pior encontrará um beco sem saída e desaparecerá.

                        Mesmo os maus de hojaqui se sentiriam mal perante os maus de antes. Sentiriam repugnância com as atrocidades de outrora.

                        De um jeito ou de outro, seja na Magia/Arte, na Teologia/Religião, na Filosofia/Ideologia, na Ciência/Técnica ou na Matemática, em qualquer interpretação, física ou metafísica, o prêmio dos ruins é sua vida errada. O que, como vimos, só leva à perdição, em vida ou na presumida pós-vida.

                        O prêmio dos maus é a consumição, e o da maldade é o desaparecimento progressivo.

                        Bom, que não seja a nossa, ELI nos livre e guarde no bom caminho, pois todo mundo é livre para inclinar-se, para fazer escolhas, possuindo a liberdade, o livre-arbítrio, tal como disse Maimônides, tantos séculos atrás de encarnar o mal ou o bem. Cada um que escolha. E pague o preço.

                        Vitória, domingo, 12 de maio de 2002.

O Olhar (da série Expresso 222..., Livro 2)


O Olhar

 

                        No Darwin, de Vitória/ES, os professores perguntaram a Gabriel, meu filho de 16 anos que está cursando o integral do terceiro ano do segundo grau, o que era o olhar: que ele discorresse sobre isso.

                        Em profundidade podemos fazê-lo de muitos modos, segundo o modelo que escrevi.

                        Em primeiro lugar teríamos as CONDIÇÕES DO CONHECIMENTO: altos (Magia, Teologia, Filosofia e Ciência) e baixos (Arte, Religião, Ideologia e Técnica) e matemático do emissor e do receptor, conforme sua potência ou inteligência explicativa. A Tecnociência (em maiúsculas conjunto ou família ou grupo de ciências) se abriria em Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6 – na assim chamada Pontescada Tecnocientífica, pelo seu lado alto, e em Engenharia/X1, Medicina/X2, Psiquiatria/X3, Cibernética/X4, Astronomia/X5 e Discursiva/X6, para interpretar as naturezas, de N.0 a N.5, da Físico/Química à Dialógica/p.6. A Psicologia, por outro lado, se abriria em Psicanálise (quem? – figuras), Psico-síntese (para quê? – objetivos ou metas), Economia/Produção (com quê? – objetos ou produtos), Sociologia/Organização (como? – métodos ou ordenamentos) e Geo-História (quando-onde? - espaçotempo ou tempespaço, tempolugar, pontinstante ou geografia-história). Em que tempo nos situamos? Temos um sistema de contagem que começa em 1 d.C., depois de Cristo e nos coloca agoraqui no ano 2002. E quanto ao espaço, onde nos situamos?  Se estivermos no hemisfério norte veremos de um modo (aí podemos dividir o planeta em latitudes, longitudes e altitudes - 360° x 360° x “n” partições, desde o nível histórico do mar, por exemplo a preamar de 1900, num sistema qualquer de medição, digamos o padrão SI, Sistema Internacional de Unidades, em metros ou múltiplos ou submúltiplos). A Economia se abriria em seus setores: agropecuário/extrativista, industrial, comercial, de serviços e bancário, que é o coração ou centro da produção. E ainda podemos falar de quatro teorias sobre as indústrias, fora a Teoria de Campo, ou Teoria de Tudo na Economia, que reúne os elementos pelo centro – o quinto elemento ou modelo. Faz todo sentido saber a que altura ou profundidade se situa o emissor e o receptor. Se um está num nível muito profundo (o central, por exemplo) da teoria industrial na economia, que é uma psicologia, que é uma ciência, que é um dos cinco conhecimentos, e outro é um diletante popular, então a transmissão de conhecimento sofre distorções, perdendo-se muito no trânsito. Ainda poderíamos colocar os avanços relativos da produção, os quatro mundos (primeiro, segundo, terceiro e quarto – na Terra, com até há pouco 217 países, seriam quatro grupos de 55 deles, aproximadamente). É diferente o estado de espírito do observador na Suécia e no Zaire, devido às menores ou maiores pressões socioeconômicas ou de produçãorganização.

                        Em segundo lugar, podemos indagar das CONDIÇÕES DE TRANSMISSÃO ou meio (MacLuhan dizia que “o meio é a mensagem”, ou seja, o a mensagem depende integralmente do meio). Nestes termos deveríamos apelar para a Bandeira Elementar: ar, água, terra/solo e fogo/energia, nos vértices de um losango, como numa bandeira brasileira, tendo no centro a Vida geral e no centro do centro a Vida-racional. Transmite-se através do ar? O mecanismo modulador é eficiente no confronto com o meio-de-transmissão? Qual é o seu rendimento? Num planeta como a Terra fomos preparados pela evolução, situando-nos em nosso específico nicho ecológico humano para proporcionar-nos um certo rendimento; se fôssemos transpostos a ou transportados para Marte a coisa mudaria totalmente de figura, porque o ar local é escasso, ou seja, Marte reteve pouca atmosfera, em virtude de sua pequena massa relativa. Teríamos dificuldade de falar.

                        Em terceiro lugar teríamos as CONDIÇÕES DE CHAVE CST (ou do ESTAR). Chave do TER (CT): matéria, energia e informação. Chave do SER (CS): memória, inteligência e controle ou comunicação. Somos ricos (A), médios-altos (B), pobres (C)ou miseráveis (D) em informação-controle/comunicação, info-controle ou IC? Uma criança treinada nas melhores escolas desde o pré-primário até o final do terceiro ano do segundo grau não pode ser comparada em expressividade a outra que venha de alguma relaxada e não-exigente escola, pública ou privada. Teria tido muita matéria, energia e informação à disposição? E quanto às sub-condições CS? Qual é seu índice de MIC (chamei de QIMC, Quociente de inteligência, memória e controle – não só o autocontrole como também o controle externo ou condutividade)? Em geral, qual seu nível de QEIM (Quociente de energia, informação e matéria) e de QIMC, ou QEIM/QIMC, ou QQ? A pessoa tem tempo e espaço em casa para estudar? Dispõe de informações atualizadas? E assim por diante.

                        Em quarto lugar podemos pensar nas CONDIÇÕES DA PIRÂMIDE PESSOAMBIENTAL (pessoas: indivíduos, famílias, grupos e empresas; ambientes: municípios/cidades, estados, nações e mundo). Que conjuntos cercam o observador? Eles o estimulam ou castram? A situação de predisposição ao olhar são de aceitação ou recusa? A pessoa se sente intimidada ou favorecida na pesquisa & desenvolvimento (P&D) por seu ambiente? Além da mesopirâmide poderíamos falar da micropirâmide (como se formou o ser que olha: partícula primordial, subpartículas, átomos, moléculas, replicadores, células, órgãos e corpomentes – heranças biológica/p.2, ou do ADRN, e psicológica/p.3 , ou do crescimento, vindas do pai e da mãe) e macropirâmide (planeta, sistema estelar, constelação, galáxia, aglomerado, superaglomerado, universo e pluriverso), pois faz sentido perguntar em torno de que estrela estamos. No caso o Sol é uma GO amarela de 10 bilhões de anos, nem jovem nem velha, uma estrela secundária resultante da explosão de uma supernova, com relativamente muitos elementos pesados que levaram à nossa formação terrestróide característica, recebendo certa porção-padrão de radiação (luz e calor) por segundo e metro quadrado. Vemos preferencialmente em torno da janela-de-luz, entre o vermelho e o azul, mas não o infra-vermelho ou o ultra-violeta, ou rádio, ou raios gama, ou raios X. Então, nosso olhar é do tipo GO-VA (vermelho-azul). Numa outra estrela poderíamos ter dificuldade de ver.

                        Em quinto lugar podemos falar das CONDIÇÕES ESTAMENTARES DO OBSERVADOR. Em que patamar ele se situa, quanto à sua condição de percepção? Não é a mesma coisa da Chave CST, porque lá é o que a pessoa tem, e aqui é o que ela faz com o que tem. O quê ele fez com aquilo  de que dispunha? Quanto interesse manifestou pelo mundo? Quanta dignidade atribuiu ao entorno? São sete os níveis: povo, lideranças (estudantis, comunitárias, sindicais), profissionais (professores, políticos, liberais), pesquisadores (mestres e doutores), estadistas, santos/sábios e iluminados. Se a pessoa atribui pouco interesse ao mundo e muito a si mesmo, ela se recusará a olhar para fora. A qual Classe do Fazer pertence (provisoriamente, sempre – não são castas hindus) o observador? Operária, Intelectual, Financista e Militar, ou Burocrática? Isto é, a qual visão de mundo é ele filiado? Se é um militar, verá o mundo como extrema competição entre pares polares (recusando-se a ver a completaridade dos opostos), no limite a guerra entre, digamos, Bem e Mal, Esquerda e Direita, Norte e Sul, Tempestade e Calmaria, Mocinho e Bandido, Vigilante e Vigiado, Falso e Verdadeiro, etc.

                        Em sexto lugar focaríamos as CONDIÇÕES POLÍTICADMINISTRATIVAS (ou governempresariais), quer dizer, em que condição se situa a produçãorganização ou sócioeconomia? Temos o Escravismo, o Feudalismo, o Capitalismo, o Socialismo, o Comunismo e o Anarquismo (ou, para não adotar os nossos nomes, Estágios P/A– de um a seis), conforme se passe de liberdade quase nenhuma a liberdade ou confiança quase total, quer dizer, da desconfiança quase absoluta à desconfiança quase nula em relação aos outros. Se o indivíduo é um escravo, dificilmente se sentirá à vontade para ficar “xeretando”, tão tremenda seria a desconfiança. No capitalismo de terceira onda (pois são quatro, a quarta já adentrando o Socialismo), não fazemos idéia da liberdade relativa que temos, por comparação com as anteriores, e da falta dela, por comparação com as posteriores.

                        Em sétimo lugar diríamos das CONDIÇÕES DE PROTEÇÃO: Moradia, Saúde, Armazenamento e Segurança, e no centro Transporte. Imaginemos um aluno que more a 20 quilômetros da escola e deva pegar dois ônibus, ficando no trânsito, na ida e na volta, um total de quatro horas espremido, com todo tipo de manifestação ao redor, e um outro que more a 20 metros dela, à qual pode chegar a pé por ruas arborizadas. E outros dois tipos, um sadio e um doente. Em extremo, um que more mal, tenha péssima saúde, dificuldade para conseguir os produtos de que necessite, viva em insegurança e tenha transporte deficiente.

                        Em oitavo lugar descreveríamos as CONDIÇÕES DE TRANSCRIÇÃO - se são excelentes, muito boas, boas, médias, ruins, muito ruins e péssimas. É diferente uma excelente apostilha ou livro muito bem impresso de uma apostilha mimeografada ou escrita com caligrafia horrível.

                        Em novo lugar delinearíamos as CONDIÇÕES DOS SUPORTES, chamados de meios ou mídia (o que é incompleto, pois os meios poderiam ser todos os da Pontescada Tecnocientífica: meios físicos, meios químicos, etc.): TV, Rádio, Revista, Jornal, Livro (dita editoria) e Internet, entre outros. É diferente o olhar de uma garota paulista que disponha de Internet de banda larga e uma paraguaia com acesso restrito aos meios mais antigos. Dentro disso há ainda a qualidade de edição, desde a altíssima até a baixíssima – quer dizer, o acabamento ou editoria geral. Quantos cuidados foram empregados na apresentação da obra que será vista? Quem tem mais idade pode comparar os livros de agora com os de 30 anos atrás, ou mais.

                        Em décimo lugar descreveríamos as CONDIÇÕES DE FORMAÇÃO: 1º, 2º e 3º graus, mestrado, doutorado e pós-doutorado ou pesquisa. É um funil pedagógico ou cultureducacional (cultura é a educação baixa ou geral ou desordenada, educação é a cultura alta ou focada ou ordenada). Um aluno de segundo período de engenharia olha o mundo do mesmo modo produtivo que um doutorando?

                        Em décimo primeiro lugar contaríamos as CONDIÇÕES DE APRESENTAÇÃO TECNARTÍSTICAS de apoio: que tecnartes do corpo estão amparando a mostra? Da visão: poesias e prosas, pinturas, desenhos, fotografias, modas, danças, etc. Da audição: músicas e discursos. Do paladar: comidas, bebidas, pastas e temperos, etc.Do olfato: perfumaria, etc. E do tato, sentido central: cinema, teatro, arquiengenharia, paisagismo/jardinagem, urbanismo, decoração, esculturação, tapeçaria, etc. O que é chamado de suporte áudio-visual (neste caso falando apenas de dois sentidos).

                        Em décimo segundo lugar exporíamos as CONDIÇÕES DE TRÃNSITO POLAR entre os pares de opostos/complementares. Em que ponto do trânsito estamos? Por exemplo, se a fase é de evolução, lenta e gradual, procedemos com calma no olhar; mas se estivermos numa fase intensa de revolução, rápida e violenta, nosso olhar deveria ser breve, pois estaríamos no limiar da sobrevivência. Em que ponto da evolução estamos? Logo no início, depois de completada a revolução, ou em 10 % a 90 % (ou, com mais precisão, 1 a 99 %)?

                        Em décimo terceiro lugar exibiríamos as CONDIÇÕES DA FIGURA (de sexo, de raça, de idade, de posição ou respeitabilidade – de que a riqueza é só um índice -, de tamanho). Há 500 anos as mulheres, os negros e os índios eram vistos como desprovidos de alma ou humanidade ou racionalidade. Faz poucos anos as mulheres eram desaconselhadas a estudar ou instruir-se. Os negros, nos Estados Unidos do sul da década dos 1960 não podiam entrar nas melhores escolas para competir (sempre as dos homens brancos anglo-saxões protestantes de lá) porque, por definição, eram supostos inferiores. Coisa de uns anos atrás um grupo de burguesinhos brasilienses queimou um índio. Tão recente quando a primeira metade do século XX crianças e velhos estavam à margem da sociedade/civilização/cultura. E ainda perguntamos de que família um indivíduo é, suas condições de sustentação (própria e alheia), em que bairro mora, com quê trabalha e assim por diante, numa discriminação disfarçada, sem aproveitar apenas a presença alheia. Além disso, obviamente, ser magro ou gordo, alto ou baixo, ser “bem proporcionado” ou não, “belo” (pelos critérios dominantes) ou não conta ponto na classificação instintiva que fazemos.

                        Em décimo quarto lugar apresentaríamos as CONDIÇÕES DE OFERTA do conhecimento, se é prático ou teórico, isto é, superficial ou profundo, exterior ou interior, sentimental ou racional. Ao fazer um bolo estamos apenas querendo algo para o café ou estamos estudando-o como um dos quatro grupos de alimentos, na engenharia de alimentos?

                        Em décimo quinto lugar daríamos conta das CONDIÇÕES INSTRUMENTAIS ou de programáquinas (por exemplo, software/programa ou hardware/máquina, nos computadores) ou de processobjetos ou produtinstrumentos ou de pesquisador-aparelho -  sejam as dos sentidos externinternos (olho externo, corporal, e olho interno ou mental), ou dos sentidinterpretadores (sentidos exteriores, interpretadores interiores), e a relação entre o pesquisador e o aparelho que usa. O aparelho é o mais avançado oferecido no mercado, ou de três gerações atrás? O indivíduo tem visão perfeita de um lado ou no extremo oposto é cego? Faz calor ou frio? É lugar protegido ou exposto?

                        Poderíamos continuar investigando, para depois reunir os índices em quatro super-grupos, como pede o modelo.

                        Não vale a pena, porque o objetivo é mostrar COMO É DIFÍCIL OLHAR, e porquê perguntar o que é olhar demanda ou pede toda uma extremadíssima e ainda mal-posta (ou não-posta) Filosofia do Olhar, para não falar dos outros modos do Conhecimento partido, digamos uma mais perfeita e completa Ciência do Olhar, com uma Teoria de Tudo do Olhar.

                        Em resumo: quando fazemos uma pergunta, QUAL É A CARGA DE RESPOSTA QUE DESEJAMOS? Além da métrica espacial física podemos falar de outras métricas: química, biológica, p.2, psicológica, e aí segue. A métrica da resposta psicológica nos remeteria à Pedagogia, à articulação do GRAU ou METICULOSIDADE ou RELEVÃNCIA da resposta. O que estamos pedindo, de fato? Pedir simplesmente que se fale do olhar pode levar a uma dissertação como esta, a um livro de 800 páginas da Ciência, a meia página de alunos de quinto ano do primeiro grau. QUE OLHAR É ESSE? É preciso definir, metrificar a resposta. Estabelecer LIMITES ÚTEIS naquele pontinstante específico do crescimento psicológico humano.

                        Fica especialmente difícil responder, se os limites não foram estabelecidos por uma carga correlativa anterior, assim como uma aula ministrada, ou um texto apontado para leitura.

                        Porque tudo se torna vago demais, para almas tão diferentes, vindas de tantas condições de formação. Se não é estabelecido um funil, é tão escuro como a noite em que se dorme, como disse a Clarice Lispector. Sendo as possibilidades tão amplas, onde está o quadrante de julgamento, e nele a particular seta do professor?

                        Vitória, domingo, 05 de maio de 2002.

O Cobertor Atmosférico da Terra (da série Expresso 222..., Livro 2)


O Cobertor Atmosférico da Terra

 

                        A atmosfera, a gente vai raciocinando, não tem poucas utilidades, tem muitas.

                        1) impede que os daninhos raios cósmicos nos atinjam, com a camada de ozônio (O3) interpondo-se entre eles e nós. Atacada desde faz algum tempo pelo gás de geladeira CFC, clorofluorcarbono, abriu-se nela um buraco enorme sobre a Antártica;

                        2) tendo o oxigênio, altamente tóxico, mas que a vida usa para se manter, é fundamental para nós (se o ser humano pode ficar um mês sem se alimentar e uma semana sem beber, não viveria mais que três minutos sem respirar);

                        3) impede que a maioria dos meteoritos (menos os relativamente grandes, que são mais raros) caia sobre nós em enxames;

                        4) previne que o calor gerado pela radiatividade do interior da Terra escape para o espaço, o que permite a manutenção dos vulcões e outras atividades essenciais. Sem a atmosfera a temperatura seria muito menor na superfície. De fato, o efeito estufa mantém a temperatura de Vênus em 450º. Talvez a da Terra caísse 30º ou mais, o que inviabilizaria a vida como a conhecemos, pois a água congelaria;

                        5) facilita enormemente o vôo dos pássaros, que são fertilizadores, pois levam sementes a grandes distâncias;

                        6) ajuda a propagação da fala, e assim por diante.

                        A gente não pára para pensar, mas a atmosfera é um cobertor que a Mãe Natureza nos deu. Claro, se ela não existisse a Vida procuraria outras saídas, porém com ela tudo é mais fácil e amplo.

                        Deveríamos fazer o exercício de retirar a atmosfera mentalmente e ver o quanto isso nos custaria, em todos os sentidos. A Clarice Lispector diz que “a falta é a arte”, isto é, só descobrimos quanto uma coisa é importante para nós quando ela se ausenta. Nós nunca demos importância à água, exceto agora, quando ela começou a ficar escassa.

                        O ar é ainda mais onipresente que a água.

                        Se, para obter água, devemos buscar um rio ou uma lagoa, ou poço, ou o que for, o ar está sempre presente onde estivermos, daí nós nunca pensarmos nele como uma mina, como um recurso extrativo, que pode um dia faltar. Conseqüentemente, somos displicentes com ele, MUITO MAIS do que com a água. E se um rio poluído não nos atinge exceto quando vamos até ele, o ar SEMPRE nos alcançará.

                        Nas escolas as gerações não vem sendo preparadas para o FUTURO DO AR, da atmosfera terrestre. Ninguém discute a questão dele, nem o da água, nem o da terra/solo, nem o do fogo/energia. Um dos motivos é, para estes dois últimos itens, os interesses da burguesia. Para os outros dois é a ignorância, o pecado do desconhecimento, e a estupidez de não querer entender, de não desejar ver.

                        Contudo, em 50 anos o ar estará em perigo.

                        Se achamos que o caso da Cidade do México foi grave, que dirá desse futuro? Pense-se em quanto pagaremos em termos de hospitais e tratamento médico por nosso descaso, como psicopatias e sociopatias de todo tipo. A medicina curativa é boa, mas a medicina preventiva é muito melhor. A psicologia curativa é boa, mas a psicologia preventiva é muito melhor.

                        Penso que um grupo-tarefa deveria ser incumbido o quanto antes de fazer um mapeamento exaustivo, completo, da questão do ar, com investigação da importância tremenda da atmosfera da Terra para nós, mostrando seus resultados a todos, em particular às crianças.

                        Vitória, segunda-feira, 20 de maio de 2002.

                  

No Ramo da Adubação (da série Expresso 222..., Livro 2)


No Ramo da Adubação

 

                        Em 1985 nossa família comprou um pedaço de terra (na verdade um areial) nas Cacimbas, no Degredo, distrito de Povoação, Linhares/ES. Coisa de 80 alqueires, 400 hectares, quatro milhões de m2, dois quilômetros de frente para o mar. A mata que existia lá foi derrubada antes de chegarmos, de forma que sobrou só a areia.

                        Meu irmão mais novo, Rogério, ia e vinha todo dia até plantar 10 mil coqueiros (os que existiam lá eram gaseificados naturalmente), de um projeto de 50 mil. Com a consorciação com maracujás nativos dulcíssimos e cajueiros, se fosse possível (não houve tempo de testar) eu imaginava que poderíamos chegar a obter no limite 7,5 milhões de dólares por ano. Na pior das condições, um terço disto.

                        Tudo isso foi perdido, e ficamos muito chateados.

                        Nos onze anos desde essa perda em 1991 muitas propriedades passaram a plantar os coqueiros, que podem ser de quatro tipos: amarelos (baianos) e verdes (gigantes, anões e anões gigantes). Virou uma espécie de febre no ES. Uma empresa de envasamento da água de coco surgiu, nos mesmos moldes que eu pensava, inclusive com a produção de mudas.

                        De modo que no ES e no restante do Brasil milhares de pessoas tomam água de coco, que é apenas um dos itens aproveitáveis, como fiquei sabendo nos estudos que fiz até elaborar um documento de umas quinze páginas. Dez ou mais anos, agora penso nisso, não deixaram de trabalhar por nós.

                        Do seguinte modo: os coqueiros, agora em quantidade muito maior, e no futuro ainda maior (até chegarmos às dimensões da do sudeste asiático, da Indonésia e do restante da Oceania), PRECISAM SER ADUBADOS.

                        Ora, eles são:

1.       de quatro tipos diferentes (4);

2.       plantáveis em todo tipo de terra (“n” composições);

3.      objetos de desejo econômico de pequenas, médias e grandes propriedades (3);

4.      para produção e para paisagismo (2).

Só esses índices já nos dão uma variedade imensa: 2 x n x 3 x 2 = 12n (“n” precisando ser identificado). Digamos que “n” seja 4 – daí teríamos quase 50 tipos diferentes de fórmulas de adubação. Que pode ser feita com materiais nobres (para os empenhados em produção industrial) ou pobres (para os que desejam produção familiar), quer dizer, com restos de todo tipo, desde os restos orgânicos das casas até outras soluções, no ramo próprio de aprendizado.

Olhe só que aqui podemos desenvolver o recolhimento desses restos, a preparação dos sacos (em díspares cores e números para os distintos tipos de adubo), a venda nas fazendas ou em lojas das cidades, com marca planejada para o franqueamento através do país.

Sacos de 50, 40, 30, 20, 10, 5, 2,5 e 1,0 quilograma. Aí já vamos a 400 tipos de embalagens.

Em seguida há as máquinas associáveis à adubação.

Mais adiante podemos voltar a comprar propriedades dedicadas à plantação, mas não presas à monocultura. E outras idéias.

Vitória, sexta-feira, 03 de maio de 2002.