Oscartástrofe
Os planejadores do novo prêmio estavam sentados às cadeiras duma mesa oblonga (parente da redonda). Tinham colocado um aviso na porta: “não entre, isso aqui está um caos”.
- Daremos o prêmio somente a catástrofes vivas, como o Nobel faz?
- Não, não, muita gente boa ficaria excluída, por exemplo, os vulcões de antigamente que, não obstante, tiveram enorme apelo e ajudaram tanto a bagunçar a Terra. E os supervulcões...
- Os supervulcões não estão provados.
- Como, não estão provados? E o de Wyoming, 80 km de boca?
- Pode ser um meteorito, já aplicaram a teoria?
- Não...
- Nobres colegas, vamos nos ater ao principal. O objetivo aqui não é provar teorias, é garantir critérios lógicos para o enquadramento. Pouco importa se A ou B entram ou não. Por exemplo, temos catástrofes físico-químicas, biológicas-p.2, psicológicas-p.3, três grandes grupos, com dois sub-grupos cada, são seis, isso é classificação.
Houve um minuto de silêncio, porque uma boa oportunidade de brigar tinha morrido naquele instante.
- Certo. Então, vamos ver, catástrofes no ar, na água, na terra/solo, que incidem diretamente nos depósitos extratores de energia, segundo a bandeira elementar, e na vida e na racionalidade-psicologia.
- E temos passado, presente e futuro.
- Êpa, calma lá, você não pode dar prêmio a algo que ainda não aconteceu.
- Enchentes?
- Enchentes são pequenas, por mais que queiram valorizar não estão na mesma classe dos vulcões e dos supervulcões, das flechas (cometas e meteoritos), dos maremotos/tsunamis, dos tufões/furacões, da furação de olho nas repartições públicas, dos desvios de verbas, do Flamengo perder um jogo, da presença do Lulambão e da Dilmandona no governo, das perdas de merenda escolar por descaso dos diretores, dos desmatamentos na Amazônia, maus-tratos aos animais, desaparecimento de espécies, esperar em fila de banco. Não estão. Nem adianta tentar forçar para dizer que estão, que não estão mesmo.
- Apoiado, apoiado, apoiadíssimo.
- Gente, se for para fazer zona eu apóio, mas fala logo, que quero participar.
- Furacão, que nível?
- Cinco.
- Mas o Katrina foi três.
- Foi. Parece que foi, depois temos de confirmar na Internet.
- Posso incluir as explosões da minha mulher?
VÁRIOS – não!
- E aquele tsunami do Japão?
- Bom, bom, esse merece entrar.
- E os grandes assassinos da história (Stalin, Hitler, Mao, Pol Pot, Leopoldo e outros)?
- Com certeza, de um milhão para cima senão vai ter muita gente.
- Jack, o Estripador?
- Não, de jeito nenhum, quem é Jack perto de Stalin? Fichinha. Nada desses pequenininhos, queremos os grandes.
- Bush I e II?
- Não, porque aí teriam de partilhar o prêmio, iria fragmentar muito.
- Como está a preparação do museu?
- Vai bem, assim como da biblioteca. Como vamos desviar algum, vamos precisar de mais verba, dá pra justificar?
- Claro.
Serra, sexta-feira, 02 de agosto de 2013.
José Augusto Gava.
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