Friday, October 11, 2013

Rindo e Chorando (da série Vale 100 Contos)

Rindo e Chorando

Oscar Niemeyer – “Mas, na vida, caminhamos rindo e chorando o tempo todo: é preciso, então, aproveitar o lado bom da vida, usufruir o melhor possível e aceitar os outros como eles são”. Vários, Grandes Entrevistas do Milênio (O olhar de grandes pensadores sobre o mundo atual e suas perspectivas), São Paulo, Globo, 2008.

Levando em conta esse conselho, o empresário havia contratado um “chorador” (como na Índia os pensadores – acompanhantes dos jogadores - são consultados pelo seus patronos na hora das jogadas).
Imagine só o constrangimento de um grande diretor ou mesmo presidente de empresa que, diante da diretoria reunida, começasse a se debulhar em lágrimas, mostrando fraqueza? O que iriam pensar os associados, os sócios? Poderiam pensar que ele se tornara mole, incapaz de dirigir a predação empresarial do ambiente nacional e das pessoas.
Isso começou quando aquele diretor-presidente divorciou da esposa (casou-se antes da sabedoria da separação total de bens e da constituição de 88, sendo a esposa, sabiamente, “do lar”, dondoca doméstica) e teve de dar 20 milhões de dólares, depois que ela se misturou com o jardineiro. Foram para as Bahamas e as Brahamas “curtir a vida” e ele teve de recomeçar da metade, tendo de continuar a roubar e a empregar todo tipo de recursos escusos para suplantar os concorrentes e os competidores que concorriam para pegar o que era dos outros e competiam para deixá-lo para trás, os pulhas.
Não iria ele chorar na frente de todos, isso não, definitivamente, não, nunca mesmo, nem pensar. Sendo assim, ele travava, calava fundo quando lembrava que tinha investido na felicidade do garanhão, que raiva, mordendo o rico dinheirinho dele.
Quando batia a vontade intensa de chorar chamava o chorador e ele vinha, indo chorar no banheiro, que alívio, meu Deus, isso o livrava daquele constrangimento.
Ao comunicar o artifício, a princípio os amigos riram, debocharam, mas pouco a pouco foram adotando, de forma que mais para frente todo mundo que se julgava (e alguns eram, realmente) elegantes e dignos tinham seu chorador a postos. Virou instituição, depois foram os médio-altos e os médios. Os pobres e os miseráveis, não, porque eram eles que choravam, choravam por conta dos ricos e médio-altos. Os médios pediam desconto, só meio choro, classe mérdia.
Ó, não venha com essa de que “o lado bom da vida” é fácil, porque não é, de jeito nenhum, é preciso ser muito criativo, empurrar os choros para os outros, para os pobres e miseráveis, que senão ninguém agüenta, é ruim de levar. Só com muita criatividade. Os pobres e miseráveis carregavam a carga deles e a dos outros, era assim mesmo, quem paga mais chora menos. Temos de “usufruir o melhor possível”, no dizer do grande Niê; e “aceitar os outros como eles são”. Não pega bem ver rico chorando, parece que os esteios do mundo estão desabando. Já pobre e miserável chorando a gente vê o tempo todo.
Serra, sexta-feira, 16 de agosto de 2013.
José Augusto Gava.

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