Tuesday, December 15, 2009

A Bomba H do Maranhão (da série Tudo Conto)


Para fazer trocadilho, a notícia caiu como uma bomba e a imprensa ficou ouriçadíssima, quem iria imaginar que o Maranhão estivesse avançado a ponto de fabricar a Bomba H? O Brasil no seletíssimo clube dos atômicos? Não dá para imaginar.
As equipes nacionais de jornalistas foram despachadas às pressas, atabalhoadamente, enquanto os jornalistas estrangeiros cobravam antigos favores de amortecimento das notícias contra Lula, contratavam intérpretes. Os vôos para São Luís estavam repletos, gente fazendo fila nas áreas VIP, telefonemas desesperados, pauzinhos sendo mexidos, ninguém queria perder tal evento.
Quando na universidade federal souberam do fuxico, do tititi ficaram estarrecidos.
PROFESSOR – onde essa gente está com a cabeça, uma coisa tão simples, pra quê tanta confusão?
OUTRO PROFESSOR – sei lá, Nat (Natanael), cada um tem um jeito de ser. É bom para a escola de engenharia, faz propaganda, deixe vazar.
NATANAEL – fale você então com o reitor, organize a visita, vê se não vão quebrar os laboratórios. Pegue o Dan (Daniel) e o Roberval, chame os guardas, toca pra frente.
Dias depois, lá vai o grupo.
Roberval vai guiando.
ROBERVAL – por aqui, vamos lá nos fundos.
JORNALISTA (muito nervosa e excitada, agradecida por a terem deixado fazer parte) – o laboratório é grande?
ROBERVAL – como é o nome da senhora?
JORNALISTA – Gina.
ROBERVAL – Gina?
GINA – é, Gina.
ROBERVAL – Dona Gina (pareceu outra coisa, as pessoas riram um pouco, disfarçaram), é médio, nem grande nem pequeno (mais risos).
JORNALISTA 2 – eu pensava que esses laboratórios eram enormes.
ROBERVAL – não, nem tanto, mas não chegamos de pronto à Bomba H, começamos com a Bomba A.
Ao redor as pessoas balançam as cabeças em assentimento.
JORNALISTA 3 – é lógico, de A até H.
JORNALISTA 4 – pretendem avançar?
ROBERVAL – claro, isso é só o começo.
A emoção toma os presente, o Maranhão dando uma lição ao Brasil e ao mundo.
ROBERVAL – já estamos muito além da H, já chegamos à N.
GINA – Bomba N, caramba! De nêutrons!
ROBERVAL (sem entender) – claro, bomba N, depois vamos pra frente, não vamos esmorecer.
Os jornalistas brasileiros da comitiva incham de orgulho, os estrangeiros sussurram pasmados. A comitiva avança, chega a uma sala, Roberval pede ao guarda para abrir. Entram, não há ogivas nem nada.
JORNALISTA (à socapa) – tão compacta assim? Está em alguma bancada?
ROBERVAL (entrando e se dirigindo à bancada) – sim, lógico, aqui está ela (vê-se uma bomba de irrigação).

Serra, sábado, 31 de outubro de 2009.
José Augusto Gava.

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