Friday, January 01, 2010

A Causa da Queda de Atlântida (da série Tudo Conto)


Do Guardião a D’us:
Meu Senhor, há 20 milênios, anos circunsolares deste mundo a que me mandaste fiz cair nave invasora de 400 km de diâmetro nas proximidades do paralelo que é agora chamado Trópico de Câncer, no lugar antes denominado Mar de Sargaços e hoje Triângulo das Bermudas pelos locais, vossos filhos planejados.
Por oito mil anos ela ficou à superfície, estacionada sobre os picos submersos da região das Bermudas; desenvolveu uma cultura parcial, montando planos de recuperação, tentando instruir uma cultura local que fosse capaz de consertá-la e levá-la de novo aos céus longe da minha intervenção ordenada. Como esperado, os nativos não tinham muita capacidade e pouco puderam fazer naqueles tempos, além do quê procurei impedi-la, segundo vossas orientações sobre povos invasores.
Durante a Glaciação de Wisconsin (segundo os americanos) ou de Worms (segundo os europeus) as águas dos oceanos desceram 160 metros (de 115 a 12 mil anos atrás) e a nave ficou outro tanto visível, como área que foi por oito milênios sendo coberta de solo e cultivada plenamente. Cultura dominante se estabeleceu no local e tentou controlar a Terra. Conhecida como Atlântida, a nave-ilha foi adorada em razão de suas construções simétricas circulares, com a torre central em forma de cone-pirâmide; era meramente a antena da nave, mas os nativos se dispuseram a culto idólatra.
A nave continuou a gerar energia residual, o que faz ainda, elevando coluna de calor criador dos sargaços acima.
Observei-a todos esses milênios e algumas vezes me diverti atrapalhando seus planos.
Entrementes, o afundamento dela foi casual.
Com o fim da glaciação choveu durante mil anos.
A neve acumulada derreteu na mais recente (ainda em curso) bola de fogo, as águas elevaram-se, acumulando tremendo peso sobre as bordas redondas da nave e com o tempo tal massa de água foi demais para os picos abaixo, afundando-a da noite para o dia. No decorrer de horas a nave foi ao fundo, dando-me descanso por alguns milênios, do 12º ao 6º. Todos os planos de conquista deles foram literalmente para o fundo do mar. Só sobraram os navios que estavam longe ou aqueles que tinham prevenidamente migrado.
Eventualmente, diversas vezes, tentaram conquistar a Europa, a África, as Américas e até lugares mais distantes, mas armei os nativos contrários e eles sempre foram derrotados.
Os atlantes verdadeiros estão dormindo.
Estão longe de serem as pessoas boazinhas dos mitos.
Não os deixei acordar, mas de vez em quando a inteligência da nave (longe está ela de poder disputar comigo) liberta simulacros info-cibernéticos humanóides, século após século. Divirto-me, Meu Senhor. Mais recentemente ela tem sido mais constante e tenho enviado meus anjos à caça. Os simulacros apreendem aqui e ali uns e outros humanos, por vezes libertam-nos, dizendo-se eles abduzidos. Os simulacros os dissecam, na esperança de conseguir reproduzi-los, mas tenho estado vigilante. Por vezes até se apoderam de suas consciências aqui e acolá, tudo dentro do planejamento de Meu Senhor.
Há 300 mil anos estou aqui, velando por sua criação, interferindo minimamente na geração da Natureza local.
Quando vosso filho primeiro chegou com sua consorte, há perto de seis milênios, os atlantes dispuseram-se a opor-se a sua presença ordenada. Haviam se disseminado os “descendentes” dos atlantes, desde o afundamento, para norte até a América do Norte, para sul até a América do Sul, para leste até a África. Difundiram suas crenças no que ficou sendo o Egito, de onde elas se espalharam. Construíram pirâmides dessemelhantes das suas e dali planejaram contaminar a cultura mundial futura.
Durante esses 300 milênios desde o aparecimento dos neanderthais e da língua venho gravando absolutamente tudo, que envio em acordo com suas instruções. Estando chegando os dias do vosso planejamento, peço instruções diretas: se procedi corretamente, o que fazer a seguir? Que correções proceder?
Devo intervir?
Os bilhões de anjos estão de prontidão.
As armas da cultura local, tanto a fração descendente dos atlantes quanto a fração vinda de vossos filhos divididos em puros e impuros não seriam páreo nem mesmo para pequena parte dos meus recursos.
Que devo fazer?
Agora mesmo estão planejando trazer a nave de volta à superfície, visando copiar seus conhecimentos, acreditando estarem mortos os atlantes.
Devo vaporizar a nave?
O que fazer?

Serra, sábado, 24 de outubro de 2009.
José Augusto Gava.

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