Monday, April 22, 2013

A Religião do Estado (da série Tudo Conto)


O Estado decidiu colocar uma religião.
Uma religião-autarquia, não era empresa pública porque religião, enquanto empresa, já estava sendo praticada pelos protestantes.
E, depois, pegava mal, porque o Estado foi declarado leigo.
O Estado já cobrava mais de 80 tributos do povo, sobretaxando-o vergonhosamente, tomando tudo que era possível da parte de César, como Jesus admitira; agora, alguns ponderavam, porque não tomar também a parte de Deus? Aqueles desocupados (no bom sentido) de Brasília começaram a pensar, montaram workshops (que palavra horrível, a começar por work, trabalho, mas vá lá; seguida de shop, oficina – oficina de trabalho, aquilo dava arrepios nos mais puristas, que nunca tinham dado um dia de trabalho para a nação, feito Lulambão, argh!).
Por que não?
Deus não dava as caras há dois mil anos e até apareceu pichado nos muros da UFES “Jesus não vai voltar”.
Isso já levava a pensar naqueles outros 50 %.
Alguns diziam que o governo já levava 50 %, mas longe disso, pois não contavam a renda oculta, que era de 60 %; contando o invisível chegava a 20 ou 25 % no máximo, mas poderia chegar a 50 % de fato, como na Suécia (era tão bom ser avançado, mas o problema é que lá o governo oferecia serviços de alta qualidade – se houvesse um jeito de pegar 50 % como lá com serviços de baixa qualidade como no Brasil, seria um chuá).

CEASAR PARQUES E DEUS DARÁ (com que viveriam o povo e as elites eles não tinham pensado, mas também você não quer que eles pensem tudo, né?) NA 
MESMA PRAÇA, PARA ECONOMIZAR DINHEIRO DO CONTRIBUINTE.

PARTE DE CÉSAR
PARTE DE DEUS
50 %
50 %

Acontece que os governos já cobram impostos, como cobrar dízimo também? Uns foram a favor de acoplar o dízimo aos impostos como mais 10 %, mas outros temiam a resistência, já de si bastante grande. Incrível como o povo é ingrato e incoerente! Não seria tão mais justo juntar o leigo com o religioso num pacote só?
Outros perguntavam como os funcionários iriam se vestir, se de gravata e terno, com estola, ou se de batina. Como padres ou como pastores? Não era fácil enfrentar 50 mil empresas-igrejas adventistas em outras tantas denominações.
Como chamar?
RELES (Religião do Estado) dava ideia “de qualidade ordinária, digna de desprezo; grosseiro, insignificante”, como dizia o Houaiss eletrônico.
A presidanta deveria aparecer na capa como pastora?
Ou bispa?
Ou bisca?
OU, QUEM SABE, como cardeala? (Puxa, cara, nessa você se superou, ELA vai gostar pra caramba).
Ou papisa, sei lá (Aí já é exagero).
E os ministros, seriam cardeais doravante? (Já existem cardeais, não vamos nos repetir, de qualquer forma é marca registrada da Igreja). Mas podem ser ministros mesmo, só não podem ser ministros protestantes porque ELA não vai gostar. Terrorismo, não!
Essa coisa tá mais difícil do que pensamos.
Até pra tirar dinheiro das ovelhas é preciso dom.
Tosquiar ovelha depende de prática, mais do que teoria. Ser governo e coBRar inumeráveis tributos é até mais fácil, você sabia?
Tá cada vez mais difícil enganar os trouxas, porque há poucos trouxas e todo trouxa que há alguém já pegou.
É, falta trouxa.
É mesmo.
Temos de concluir que tá faltando trouxa.
É, cara, se houvesse mais trouxas seria mais fácil.
Agora você falou tudo, a gente poderia colocar uma fábrica de trouxas, uma TV, mais uma ou qualquer media, cinema.
Escola!
Gênio, toca aqui, é isso mesmo, escola do governo.
DEPOIS a gente coloca a religião do Estado.

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