Assim como os artistas vão aos pais
e às mães de santo para exorcizar qualquer possível pensamento intruso, os
tecnocientistas vigiam com muito cuidado o “eu acho” e sua superafirmação, o
achismo.
Eles se pelam de medo.
No final das contas, tudo é opinião,
mesmo a mais abalizada, a do mais metódico, do mais convicto cartesiano, que
não passa de “eu acho”, “eu acredito”, “eu penso”.
Do lado dos magicartistas qualquer
vestígio de pensamento ou consciência pode ser muito doloroso e provoca
pruridos, coceiras inacreditáveis, porisso eles e elas são muito ocupados e
ocupadas. Comprar livros? Nunca! Nem morto. Filmes complicados? Procure evitar.
Palestras? Passe longe. Debates? Esconjure.
Do lado dos tecnocientistas o perigo
vem do oposto, ser ou parecer incompetente em exorcizar os demônios da classe
Acho.
Outro dia um estudante de engenharia
pego em plena sala de aulas dizendo “eu acho...” foi imediatamente conduzido
por professores nervosos e colegas escandalizados a uma sabatina na Sala São
Descartes, depois na Sala de Escrutínio São Bacon. Foi suspenso por três meses,
com ameaça de expulsão no caso de recidiva.
Pior ainda foi a do professor que
falou “eu acho” (embora em mesa de bar) e quando voltou à escola foi coberto
com piche e penas, sendo obrigado a desfilar assim por toda a escola (lá perto
do Castelinho).
Outro dia um implicante e provocador
aluno do Centro de Artes grafitou toda a parede leste do Centro Tecnológico com
“eu acho” de cima abaixo (a parte mais alta tem sete metros de altura, usaram
escada, mas infelizmente não se conseguiu digitais, certamente estavam de luvas,
um segurava pro outro pichar). Tal insulto não passou em branco e o CA foi
emporcalhado logo em seguida. Como souberam que foi gente do CA? Eram gritantes
“eu acho” artísticos, os sacanas.
Os professores e alunos do curso de
filosofia se solidarizaram, claro, bem com a Física, a Química, a Estatística e
a Matemática, que funcionam no IC.
Maior vexame, que nem os protestos e
a gritaria abrandaram.
Maior sufoco, os ânimos estão
exaltados.
No comments:
Post a Comment