Maria decidiu
certo dia mudar de vida.
Escolheu uma
cidade bem distante e foi.
Mas não foi assim como quem vai às
goiabas, de qualquer jeito, sem preparação. Pelo contrário, ela contratou uma
firma, a firma de mudança Nova Vida.
Houve uma entrevista.
- O que a senhora vai querer ser?
- Prefeita custa caro?
- Custa. Mais de um milhão. E é
preciso encontrar uma prefeita que deseje abandonar a vida dela, com ou sem
marido e filhos, que é preciso também convencer. Custa caro e é trabalhoso.
- O que você tem por 300 mil?
- Temos muitos advogados, gente que
pensou que ia ganhar os burros do dinheiro e virou gandula de porta de cadeia, encarregados
de pegar as bolas fora. Economistas que pensavam ir dirigir os governos e as
multidões “vão pra lá, vem pra cá”, e a construir empresas; muitos, muitos.
Administradores mirins que achavam ser gigantes da economia que iriam organizar
isso e aquilo, um horror! Engenheiros desempregados, uma tonelada. Dentistas
fracassados, médicos derrotados, funcionários públicos insatisfeitos a gente já
perdeu a conta.
- Não tão baixo assim.
- A senhora sabe que terá de
compensar, né, se a sua nova vida recebia salário maior.
- Como assim?
- Se a pessoa ganha 100 mil por ano
e a senhora ganha 80 mil evidentemente ela vai receber 20 mil a menos e isso a
senhora terá de pagar anualmente. Aconselhamos poupar. A firma é inflexível
nisso.
- É compreensível.
- E há nossos honorários, 10 % tanto
da senhora quando da outra parte, há muitas preparações a fazer, adequações, acompanhamento
por psicólogos, uma quantidade impressionante de tarefas.
- Vamos precisar eu e ela nos
conhecer e assinar os papéis, eu li.
- Com certeza a senhora leu os
prospectos e sabe que não é possível mudar para papel de homem (nem
vice-versa): a senhora assinará um contrato ao entrar na nova vida.
- Sim, compreendo. Nem quero isso.
- E, depois, se a senhora tem marido
e a outra tem também, é preciso que os maridos (e os filhos) aceitem.
- Estou ciente.
- É necessário que os dois grupos se
conheçam.
- E se a senhora desejar voltar seria
o caso de fazer toda uma negociação contrária e começar tudo de novo, com novos
gastos. A outra pode não querer, entende?
- Não tem retorno.
- A senhora leu a caderneta, o
livrinho?
- Li, sim, detalhadamente.
- Então, por favor, assine aqui.
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