Saturday, November 30, 2013

Mulheres Fingidas (da série Cometários)


Mulheres Fingidas

 

Brincando com as mulheres do serviço que pintam os cabelos disse que eram “mulheres fingidas”, por semelhança com mulheres tingidas.

Comecei a reparar.

De fato, hoje em dia elas pintam os cabelos de amarelo, de vermelho, de azul, de roxo, de abóbora, de qualquer cor, inclusive preto. Passam “chapinha” para alisar. Colocam argolas nas orelhas, além de brincos; colocam-nas nos tornozelos e nos antebraços. Inserem-nos nos lábios, como piercing, bem como no nariz, no umbigo ou na vagina. Furam as línguas. Fazem tatuagens em toda parte do corpo.

Colocam adereços, que são às centenas, sem falar em sapatos (são fissuradas) e sandálias de todo tipo, roupas externas e internas. Óculos, de grau ou não. Pulseiras nos punhos, anéis nos dedos. Pintam as unhas, raspam não somente as axilas e as pernas, desde muito tempo, como agora raspam em volta da vagina e até do anus. Retiram parte das sobrancelhas e raspam os pelos de dentro do nariz, além dos buços.

Pintam as unhas não apenas de uma cor, como antes, mas com inúmeros motivos. Passam base e cor nas faces. Colocam aparelhos para corrigir os dentes (o que é muito meritório), “fazem os pés”, “fazem os cabelos”, injetam botox nos lábios, fazem lipoaspiração, alteiam a bunda.

Quantos procedimentos as mulheres realizam, em média, num mês?

Quantos num ano?

Tudo isso mais a criação dos filhos, as relações maritais, os cuidados da casa, as tarefas no emprego.

Como é possível ler, estudar, desenvolver teses, conhecer aparelhos, instrumentos, máquinas, programas?

O tempo dedicado à alteração da aparência é grande demais.

São verdadeiras identidades secretas.

Pois não se trata apenas de colocar, é preciso comprar, testar, combinar roupas até achar a forma ideal imaginária.

Pense nas menstruações, nas limpezas, nas gravidezes.

Pense nas compras para o lar, nos cuidados de saúde.

Ser mulher não é nada fácil.

Serra, quinta-feira, 25 de agosto de 2011.

No comments: