Saturday, November 30, 2013

O Jorge Foi para o Espaço (da série Cometários)


O Jorge Foi para o Espaço


 

Jorge Luiz Calife é o brasileiro que deu a Arthur C. Clarke a ideia de continuidade de 2001 (ele prosseguiu com 2010, 2061 e 3001, todos muito bons). É de Niterói no espaço, de 1951 no tempo, 61 anos entre datas. Escreveu a trilogia Padrões de Contato, em que há muitos exageros mágicos (sem qualquer conotação científica), mas é diversão muito boa (não li o terceiro).

Comprei As Sereias do Espaço, Rio de Janeiro, Record, 2001, 14 contos. Logo no primeiro, ele diz na página 14: “Mas com esse tipo de base só vamos poder recriar o corpo dela. A mente exigiria uma varredura de mémorons”. Onde ficariam os “mémorons”? Com a série Perdidos no Espaço, talvez. Como a irradiação de máxima probabilidade é esférica - contando que a dispersão se dê com a velocidade da luz -, imagine só reagrupar todo esse pessoalzinho. A dispersão de mínima probabilidade é browniana, aleatória, e é pior ainda.

Contudo, é como haver afirmação e contrafirmação: você não pode provar que não, ele não pode provar que sim. É nesse sentido que é anticientífico, pois não obedece aos critérios de Popper da testabilidade, não se pode testar.

Não é nisso que quero me pegar.

Ele diz na página 22: “Hugo, Deus não existe. Isso foi provado pelo teorema de Sinclair-Hobsbawn há trezentos anos”. Acontece que a Prova ou o Teorema de Godel (embora não prove a existência de Deus) afirma a insustentabilidade RACIONAL da matemática, motivo para acreditarmos que o par polar i Deus-Natureza é necessário-suficiente POR EXCLUSÃO – quer dizer, se não foi a racionalidade quem inventou a matemática, deve haver um elemento exterior respondendo pela sustentação de toda a dialógica e da matemática em TODOS os universos.

Depois, Calife diz, mais abaixo, p. 22: “No final só havia paz e esquecimento”. Ora, para haver esquecimento deve haver objeto-programa QUE ESQUECE, quer dizer, qualquer mente, devendo permanecer para então esquecer: quem sustentaria as mentes após a morte? E paz é o oposto-complementar de guerra: seria situação de paz “eterna”, quando sabemos que tudo é ciclo. Estaria sendo negada a racionalidade, pois estar nesta é justamente candidatar-se a ciclo, vários deles, vários ciclos.

Há no livro muitos lugares comuns ficcionais e muitos preconceitos sociais atuais travestidos de futuro, não há tempo para comentar ponto a ponto.

Apesar disso, é plástico o bastante para render bons episódios, desde que sejam depurados das incongruências gritantes.

Serra, domingo, 04 de março de 2012.

José Augusto Gava.

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