Os Aliens que Viviam no Mundo Plano (da série Cometários)

Os Aliens que Viviam no Mundo Plano

 

Quando vão expor nossa fragilidade em conceber um mundo quadridimensional (que, aliás, nem existe – é pura ficção mesmo, exceto na matemática, onde de tudo pode acontecer) os matemáticos costumam dar idéia de pessoas vivendo num mundo plano e tendo dificuldade em imaginar ou entender o que seria viver num mundo tridimensional.

Se você olhar direitinho e considerar que somos os aliens, ou seja, os alienígenas em relação a quem vivesse alhures, noutro mundo racional, nós, esses aliens daqui vivemos num mundo plano.

Não somos como os pássaros a atravessar o grande espaço livre do céu, nem como os peixes, estes mais restritos, eis que confinados em menor volume aquático. Na realidade, por mais surpreendente que seja, vivemos em planos, vários planos, por vezes comunicados por escadas ou por elevadores, por helicópteros ou aviões e assim por diante.

Hoje me peguei pensando isto: num prédio temos vários planos, por vezes até perto de 200, como nos grandes edifícios, mas são sempre planos.

Somos aqueles aliens do mundo plano mencionados acima.

Não somos como os pássaros do ar, nem como os peixes da água, nem como os vermes da terra-solo que sobem e descem pelos túneis, nem como as notícias a trafegar no fogo-energia, na Internet. Alguns túneis nós fazemos e neles subimos e descemos, nossos aviões passam no ar por várias altitudes, bem como os carros nas estradas e assim por diante.

Em alguma medida nós estamos tridimensionalizados, mas é surpreendente pensar que nossos prédios não têm comunicação entre andares de uns e outros.

Em cada prédio devemos ir ao solo e depois subir até o andar pretendido no outro prédio, embora os andares possam estar à mesma altura. Os prédios não foram pensados como ocupando volume, até porque há a questão da independência.

Nos primórdios não foram imaginados em grande quantidade como hoje em dia: surgia um aqui e outro acolá, muito distante uns dos outros – eram esporádicos em seu surgimento. Ao passo que agora são milhares numa cidade, milhões no mundo, muitos deles colados.

Em algum momento do futuro os planejadores terão de ligar os edifícios, unindo-os num propósito só, usando alguns andares como praças do tráfego geral.

As coisas, as realidades mudam muito.

E nos vão deslumbrando em seus desdobramentos.

Vitória, segunda-feira, 20 de setembro de 2010.