Era uma cigana
diferente, veio com uns gatget, uns aparelhinhos muito dos esquisitos, fiquei
na minha. Perguntou se eu queria ver meu destino, eu disse que não. Ela disse
que era experimental; de graça até injeção na testa, deixei. Ela se sentou à
cadeira, espalhou tudo aquilo na mesa, pegou minha mão direita (por quê não a
esquerda?), instalou toda aquela porcaria ligada a um notebook do lado, com
vários programas de matemática, estatística e probabilidades e sei lá mais o
quê, fiquei só assuntando.
Eu tinha 17 anos,
quando a gente não sabe o que será da vida.
Ela fez perguntas,
respondi, disse que era filho de operários, ela pegou a lista de presidentes do
Brasil, só tinha o Lulambão vendido para os burgueses, a chance era pequena de
eu ser presidente. E foi dizendo que se eu não chegasse pelo menos ao terceiro
grau, universitário, as chances de eu conseguir cargo de chefia no Brasil eram
quase nulas, havia uma reserva de mercado. E não tendo curso superior tinha
tantos porcento de probabilidade de não conseguir ganhar mais que X reais. A
chance de eu viajar sem ter um salário elevado na morcegagem estatal ou ter uma
empresa era pequena. Se fosse empresário (sem curso superior eu poderia ser,
inclusive político, pois muitos eram analfabetos de pai e mãe, inclusive
Lulambão, que nasceu analfabeto) teria grandes probabilidades de sonegar “de
montão” (foi ela que disse, assim mesmo, acho que ela não gostava de
empresários).
Sem curso superior,
ganhando pouco, o mais certo era eu ir para um bairro da periferia cheio de
traficantes com muitas oportunidades de cair no tráfico, ser baleado, ser preso
com ou sem julgamento.
As chances de pegar
mulher bonita e gostosa eram mínimas (ela não falou assim, disse “mulher
elegante”). Sem dinheiro, como visitar o estrangeiro? Se a algum lugar eu
chegasse seria no máximo ao Paraguai. Como envelhecer além dos 80 ou 90 anos?
Sem remédios, sem tratamento dentário, sem cuidar do corpo e da mente
certamente encontraria o alemão, Alzheimer ou o outro da tremedeira, Parkinson,
que acho que esse é inglês, americano, sei lá.
E falou e falou e
falou.
Acreditei.
Não eram só as
maquininhas, nem só a positividade e autoconfiança dela, era a confiança que a
gente tem nas previsões. Não que aquilo fosse ser verdadeiro, tanto que não
foi; foi mais que acreditei, tive medo de cair na linha do meu destino, porisso
fiz o esforço sobre-humano de estar longe de todos aqueles lugares de
diminuição, fiz tudo ao contrário das piores probabilidades, juntei-me aos
“bons”, pelo menos eles se jactam de sua bondade. Fiquei longe do que seria a
minha turma: fiz curso superior e até mais, como empresário roubei dos
governos, financiei deputados ladrões e depois fui eu mesmo roubar ainda mais.
Hoje patrocino os
estudos da filha da cigana, que agora tem programas Cigana 3.0.
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