Sunday, July 14, 2013

Anti-quadro (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


                        Comecei a pensar em porque aceitar o quadro da pintura delimitado por moldura. De fato, o mundo não é enquadrado como numa janela. Três décadas passadas, no começo dos 1980, conversei com certa moça sobre pintar os muros, o que era proposta mais ampla do que o acontecido. As pinturas murais deveriam equivaler a movimento social, inclusive com a participação dos governos, envolvendo pontos de ônibus, universidades e muros, como se a cidade fosse coisa alegre, casa nossa em que vivêssemos. Na sequência pensei em baixos e altos relevos, estátuas postas nas praças imitando nossos atos de vida, toda a grandeza de vida, toda nossa pequenez também.
Não foi adiante desse jeito.
De fato, degenerou em grafites tenebrosos.
Então comecei a ver isso.

                       A VIDA NÃO É EN-QUADRADO (A VIDA NÃO É “TRÊS-POR-QUADRO”)
A vida não é só estática, não é só parada, não é só chata: ela é 3D, é tridimensional, é quadridimensional 4D com o tempo. Ela se espalha, ela transborda, ela se esparrama, ela vai além.
                    
                       (aqui há imagens de quadros que, devido a direitos autorais, não posso anexar)


VIDA, MINHA VIDA, OLHE O QUE QUE EU FIZ (VIDA FAZER, TUDO PULSAR)

(imagens)

                        Então, por quê não deixá-la trans-bordar, sair das bordas, sair das margens, ir além das molduras e das contenções, nas paredes ultrapassando as mo-duras?
Como dizem, falar é fácil, fazer é que são elas.
Tomei um esporro danado do diretor do meu centro, o centro de artes, artes de fazer calar.
Fiquei quadradinho.
E ele não se vexou de fazer isso na frente de todo mundo, embora eu tenha quase 50 anos e seja professor há mais de 25 anos. Ninguém o aplaudiu, mas podíamos ver alguns olhares brilhando de água da satisfação, os des-afetos.
É porisso que estou da mudança, cansei de não ser eu, de me acomodar ao que os encolhedores de cabeça querem. Vou por Rio, vou nadar noutras praias, a província tenta me matar. E aqui você deve pensar porque a metrópole é grande? Porque ela não tolhe os talentos, ela os recolhem de onde aparecem, aceita a tudo e a todos e é tão grande quanto essa aceitação. Ou você pensa que os grandes de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Nova Iorque, de Paris nasceram todos lá?

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