Ciro ficou anos
pensando, até colocar a Firma de Amolar,
Ciro & Filhos, Amolamos para você.
As pessoas
inicialmente levavam tesouras, facas, até espadas, ele dizia que não, que era
outro gênero de amolar.
AMOLAR (Houaiss
eletrônico)
adjetivo e substantivo masculino
1 que
ou o que amola ou afia (facas, navalhas, tesouras e outros instrumentos
cortantes); afiador
2 Regionalismo:
Brasil.
que ou o que
aborrece ou enfada; maçador
3 diz-se de ou máquina ou
instrumento us. para amolar
|
Era amolar pessoas.
E havia quem os
contratasse?
Sim, Ciro era
advogado, fazia tudo dentro da lei e fazia muito bem feito, nisso de amolar os
outros. Também tinha feito cursos de psicologia. Orientara os filhos e filhas
para administração, contabilidade, economia, direito – e psicologia, cada um,
sempre dois cursos – tudo que servisse para amolar a gente.
Se você tivesse um
desafeto, alguém de quem não gostasse, contratava o Ciro e ele e os filhos se
punham em campo. Com cursos de informática e computação, com numerosos computadores,
eles trabalhavam mais em casa, exceto algum necessário trabalho de campo.
Ficavam “de butuca”, sondando a vida do sujeito ou da fulana, procurando
descobrir algum passo em falso, contabilidade com caixa dois, vida pregressa
cheia de furos, drogas, filhos naturais (fora do casamento), importações
duvidosas, qualquer coisa servia.
Não era simples,
nem era coisa pra pobre, embora eles fizessem algum trabalho “pro bono”, para o
bem, gratuito, de graça.
Contudo, Ciro não
atendia qualquer um, nem pagando. Tinha de ser justo, tinha de ser causa justa;
e a garantia era que se eles fossem enganados passariam a amolar o distinto
trambiqueiro, do que ele muito se arrependeria. A fama de Ciro e dos filhos e
filhas era tanta que raramente alguém se metia a besta. Acontecia, mas nesse
caso o empenho deles era duplo, não só pela raiva como principalmente porque o
boçal fazia perder tempo útil destinado a causas verdadeiras.
Depois de pronto o
dossiê (o que levava meses até, algumas vezes), Ciro mandava os filhos (mais
tarde eles passaram a se dedicar apenas ao teletrabalho), a seguir os
contratados e associados, pessoal devidamente treinado que se incumbia de se
aproximar dos alvos calmamente. Alguns achavam que era chantagem, de modo
nenhum seria, de maneira nenhuma. Alguns chamavam a polícia, que já estava
informada de tudo – de fato, o serviço de Ciro era benemérito, as pessoas
hesitavam antes de fazer alguma bandalheira, sabendo que poderiam ser pegas.
A fama de Ciro
crescia e mercado era o que não faltava, pois o Brasil era campo farto. Ciro
trabalhava no que gostava, ao mesmo tempo em que combatia o banditismo, ajudava
até a solucionar crimes.
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