- Você já reparou que os
documentários da VVC, por exemplo, aquela série Caminhando com os
Tiranossauros, parecem realistas DEMAIS?
- Agora que você falou, fiquei me
perguntando isso várias vezes. A água parece água mesmo, com as borbulhas, as bolhas
grandes com bolhas pequenas por fora, a gente fica impressionado. Teve uma vez
que um dinossauro piscou pra mim, fiquei todo arrepiado, parecia que ele estava
olhando para a câmara e diretamente para mim...
- Pois é, eles conseguiram realismo
demais, né?
- Puxa, fico verdadeiramente
maravilhado. Quando eles falaram do Oceano Tetys, foi como se eu estivesse lá.
As texturas de cada época, todos os milhões de anos e olhe que sou pesquisador,
paleontólogo da linha de frente. Primeiro pensei que os bichos fossem feitos
como naqueles filmes pobres de antigamente, com imitações movidas por
mecanismos modelados, mas não, parecia algo diferente.
O outro estava vibrando de animação.
- E já reparou como a câmara parece
ficar pairando? E que vai se aproximando, você prestou mesmo atenção?
- Sim, é surpreendente!
O outro estava quase pulando para
fora do corpo.
- Futuro.
- O que é futuro?
- Documentários.
- É o caminho do futuro?
Documentários já existem há muito tempo.
- Não (ele olhou para um lado e outro
da mesa de bar e falou baixinho). Vem do futuro.
- O que vem do futuro? Tá doido?
Nada vem do futuro, tudo vem do passado.
- Fale baixo. Não, rapaz, os
documentários da VVC vêm do futuro. Há entrega todo sábado, oito dias antes, só
toca num aparelhinho que eles entregaram. Entendeu?
- Entendeu o quê?
- Porque é tudo tão realista?
- Por quê?
- Ora, PORQUE ELES FILMAM
NO PASSADO MESMO, você
é difícil de entender as coisas, hem?
- Tá de gozação!
- Não.
- É porisso que é tudo tão
realístico!
- Então.
- Tô dentro. Trabalharia até de
graça. Não é leitor de DVD?
- Que nada. O sistema todo é uma
espécie de caneta, não tem ligação nenhuma, não tem acesso, não recebe, só
emite e só para aquela específica máquina nossa. É inviolável, não dá para
abrir, já tentamos de tudo. Não tem jeito de provar que é do futuro, pois não
temos acesso, pra todos os efeitos é uma caneta mesmo, até escreve. TOTALMENTE
BLOQUEADA. Sem a mínima chance. Como sabemos que é do futuro? Você pode
examinar as telas em máxima ampliação, não existe nenhuma falha. Pode ampliar
indefinidamente, sempre há detalhes cada vez mais precisos. Pega um galho de
árvore, vai ampliando de modo indefinido até as células. E se colocar em 3D ou
4D (com o tempo) em máquina que já construímos, pode ver o ambiente todo em
volta. Já fizemos todo tipo de teste, não há a mínima falha. E se você
investigar no canto inferior direito, há assinatura de tempo e enquadramento
LAL (latitude, altitude, longitude). Se olhar para cima vê as estrelas daquela
época. Os tecnocientistas estão usando o material para estudar o passado e ver
a evolução AO NATURAL.
Serra, terça-feira, 03 de abril de
2012.
José Augusto Gava.
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