Wednesday, July 03, 2013

Amolador (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


Ciro ficou anos pensando, até colocar a Firma de Amolar, Ciro & Filhos, Amolamos para você.
As pessoas inicialmente levavam tesouras, facas, até espadas, ele dizia que não, que era outro gênero de amolar.

AMOLAR (Houaiss eletrônico)

adjetivo e substantivo masculino
1        que ou o que amola ou afia (facas, navalhas, tesouras e outros instrumentos cortantes); afiador
2       Regionalismo: Brasil.
que ou o que aborrece ou enfada; maçador
3             diz-se de ou máquina ou instrumento us. para amolar

Era amolar pessoas.
E havia quem os contratasse?
Sim, Ciro era advogado, fazia tudo dentro da lei e fazia muito bem feito, nisso de amolar os outros. Também tinha feito cursos de psicologia. Orientara os filhos e filhas para administração, contabilidade, economia, direito – e psicologia, cada um, sempre dois cursos – tudo que servisse para amolar a gente.
Se você tivesse um desafeto, alguém de quem não gostasse, contratava o Ciro e ele e os filhos se punham em campo. Com cursos de informática e computação, com numerosos computadores, eles trabalhavam mais em casa, exceto algum necessário trabalho de campo. Ficavam “de butuca”, sondando a vida do sujeito ou da fulana, procurando descobrir algum passo em falso, contabilidade com caixa dois, vida pregressa cheia de furos, drogas, filhos naturais (fora do casamento), importações duvidosas, qualquer coisa servia.
Não era simples, nem era coisa pra pobre, embora eles fizessem algum trabalho “pro bono”, para o bem, gratuito, de graça.
Contudo, Ciro não atendia qualquer um, nem pagando. Tinha de ser justo, tinha de ser causa justa; e a garantia era que se eles fossem enganados passariam a amolar o distinto trambiqueiro, do que ele muito se arrependeria. A fama de Ciro e dos filhos e filhas era tanta que raramente alguém se metia a besta. Acontecia, mas nesse caso o empenho deles era duplo, não só pela raiva como principalmente porque o boçal fazia perder tempo útil destinado a causas verdadeiras.
Depois de pronto o dossiê (o que levava meses até, algumas vezes), Ciro mandava os filhos (mais tarde eles passaram a se dedicar apenas ao teletrabalho), a seguir os contratados e associados, pessoal devidamente treinado que se incumbia de se aproximar dos alvos calmamente. Alguns achavam que era chantagem, de modo nenhum seria, de maneira nenhuma. Alguns chamavam a polícia, que já estava informada de tudo – de fato, o serviço de Ciro era benemérito, as pessoas hesitavam antes de fazer alguma bandalheira, sabendo que poderiam ser pegas.
A fama de Ciro crescia e mercado era o que não faltava, pois o Brasil era campo farto. Ciro trabalhava no que gostava, ao mesmo tempo em que combatia o banditismo, ajudava até a solucionar crimes.

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