Tuesday, August 06, 2013

Força de Vontade (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


Ele era físico mais ousado que os outros, não tinha medo do falatório dos pares, grande parte dos quais viviam de fazer “papers” e encher lingüiça, contando e recontando, esquentando e requentando sempre as mesmas descobertas dos verdadeiros gênios que abriam as largas avenidas pavimentadas pelos outros com paralelepípedos, depois com pedrinhas e por fim com pastilhas minúsculas, cada qual com seu infinitésimo.
Incomodava-lhe seguir na trilha de usar graduandos, mestrandos, doutorandos para pesquisar suas teses, na tentativa de com tantos pequenos fazer um grande.
Aquilo de publicar em revistas só para ganhar as promoções medíocres não lhe interessava, ele se sentia independente dessas pequenas correntes, queria pegar o grande canal do grande rio da vida, fazer algo original, não derivado, que fosse seu mesmo.
Então, pensou.
Sem seguir modas, sem temor, pensou.
Ora, o povo fala “força de vontade”. Evidentemente cada força corresponde a um campo e as forças são todas conhecidas: força gravinercial (gravitacional-inercial), elétrica, magnética, fraca e forte. São cinco no plano da física-química (primeira ponte) e não podem ser outras nos planos superiores biológico-p.2, psicológico-p.3, informacional-p.4, cosmológico-p.5, dialógico-p.6.
Para todos os planos, são somente aquelas.
Se houvesse chance dessa “força” de vontade existir, o que ela seria? Campo físico não poderia ser, contudo poderia ser aplicação biológica de força física, modelação eletromagnética desde os primórdios da Vida na Terra há 3,8 bilhões de anos. Se houvesse uma “força de vontade”, ela constituiria o “campo da vontade”, a que corresponderia uma “partícula de vontade”. Já que a partícula presumida existente do campo gravitacional é o gráviton, a do campo da vontade seria o vóntadon, esquisito de falar, sem dúvida alguma, mas só até nos acostumarmos; ademais, a segunda geração já falaria sem qualquer embaraço.
O que seria o vóntadon?
Por suposto, há uma curva do sino associada ao uso dele, desde os menos dotados 1/40 até os mais repletos dela, 2,5 % de todos, os ricos em vóntadon, aqueles de vontade inquebrantável. Quais seriam as equações da partícula-campo, o campartícula vóntadon? Seguramente elas agiam desde a biologia-p.2, passando pela psicologia-p.3, mas tinham de ter suas características definidas no eletromagnetismo de Maxwell, dentro das possibilidades das quatro equações, uso particular delas.
As cinco forças físicas interfeririam no campartícula vóntadon?
Ele começou os testes, tanto na administração de eletrochoques em cobaias (pois não eram mais permitidos em humanos; infelizmente, em cobaias, ele se condoia, mas o que fazer? – procurou aplicar em si mesmo, observando cuidadosamente os resultados). Depois investigou as drogas, os químicos, os fármacos. Também releu todos os relatórios sobre os astronautas, desde a simples circulação da Terra, as voltas orbitais, até as poucas idas à Lua.
E os raios cósmicos?
E o cinturão de Van Allen?
Buscou as fontes de informações, os relatos dos balonistas desde 200 anos, os primeiros aviadores, tudo que dissesse respeito a exposições diferentes da média: as minas profundas, os batiscafos franceses, os relatos dos remanescentes dos bombardeios atômicos no Japão.
Tudo mesmo, tudo.
Leu milhares de páginas.
E começou a fazer projeções de experiências.
Sabe aquilo de “dobrar a força de vontade”? Pois ele conseguiu, tanto no sentido de multiplicar quanto no de reduzir, quebrar. Obviamente isso teria aplicações militares e foi nesse ponto que paramos de ter notícias dele. De repente, sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. Escafedeu-se. Uns dizem que as Forças Armadas queriam para si, bem como temiam o uso contrário dos aparelhos; que os foram aprimorando. Que as forças armadas de outros países o raptaram e que ele vive agora em instalações profundas.
Todo tipo de boato veio apimentar as fofocas diárias.
Uns dizem que ele foi para algum “programa de testemunhas”, que mudou de nome. Em todo caso, claro, nunca publicou em revista nenhuma.
Assim, puf.
Que coisas os milicos vem escondendo?
A gente fica com “a pulga atrás da orelha”, coçando, coçando.


Serra, quinta-feira, 05 de abril de 2012.
José Augusto Gava.

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