Tuesday, August 27, 2013

Placas Indicativas (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


A cidade era bem sinalizada.
Nas placas você podia ler:
- não corra demais;
- se for dirigir não beba, se beber não dirija;
- não coma excessivamente;
- nas mulheres não se bate nem com uma flor;
- não deixe para fazer as coisas na última hora;
- as crianças são nosso futuro, não as estrague;
- não escute música a todo volume nos ônibus;
- não gaste demais, controle as finanças;
- não desmate na beira dos rios a mata ciliar;
- não faça queimadas;
- não use agrotóxicos;
- não maltrate os animais;
- não jogue lixo nas ruas;
- não sonegue.

E mais uma tonelada de avisos muitos salutares, placas de advertência, placas indicativas cujo teor todo mundo conhecia.
Cadê que obedecíamos!

Os mais velhos detinham o conhecimento do que era daninho, porém os mais jovens não liam as indicações.

(imagens de placas)

Os melhores conhecimentos estavam disponíveis, contudo as pessoas não queriam ler. Eles não eram disseminados, não havia uma escola para adultos, fosse através de qual mídia (TV, Internet, Revista, Jornal, Livro-Editoria, Rádio) fosse, com preocupação de veiculação das coisas sabidas, pontos batidos, conhecimento pacificado pela tecnociência há muitas décadas. Ninguém resumia os pontos pacíficos para torná-los amplamente divulgados no que poderíamos chamar de “conhecimento de placa”, coisas batidas e repetidas.
Éramos uma coletividade perdulária, disposta a perder coisas valiosas; e tínhamos a maior desconsideração, pois muito se perdia a cada ano por não lermos as indicativas. Um pouco de esforço e tanto seria poupado! Era somente questão de escrever e ler.
Tanta gente morta no trânsito, tantos assassinatos, tanto consumo de drogas, tanta gente espancada, era horrível. Tudo porque não liam a mais preciosa das indicações: “amai-vos uns aos outros”.


Serra, segunda-feira, 16 de abril de 2012.
José Augusto Gava.

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