Wednesday, August 21, 2013

Os 12 Trabalhos de Hércules (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


                        Hércules era um cara parrudo lá de Gurigica de Dentro. Grande MESMO, vou te contar. Embora eu tenha 1,85 m, aquele cara me intimidava: 2 x 2 x 2. Dois metros de altura por dois de largura e dois de profundidade. É claro que estou exagerando, mas se você visse o cara procuraria sair de fininho.

Uma vez ele foi servir de juiz num amistoso em Santo Antônio, os dois times tavam fazendo arruaça, ele grudou um capitão com cada braço, arrastou pra beira do campo e falou pra eles: “vocês não vão querer me ver brabo”. Depois disso foi tudo tranqüilo, uma beleza de jogo. Fluiu tranqüilo, macio que só ele.
Quando ele bebia era logo um barril, um barril pequeno, não era o de 50 litros, claro que não, até pra ele seria muito.
Vida extraordinária.
Contando ninguém acredita.
Primeiro ele deu uma chave de braço no Leão que quase quebrou o pescoço dele, ficou enfaixado mais de mês com aquelas talas de imobilização, o pobre do moço ficou com o pescoço duro.
Depois a Lerna o convidou para consertar o hidrômetro da casa dela, ele não entendia direito do assunto, ficou bravo, deu um tranco e arrancou o hidrômetro da Lerna.
Depois ele perseguiu a Celinha mais de dois quilômetros e ela corria pra caramba! Uma massa enorme daquela atrás de uma moça novinha, 19 anos, não sei como o coração dele não explodiu. Deu uma “coça” nela, de brincadeirinha, porque apesar de grande ele era amoroso com as mulheres.
Mais tarde uns anos fomos caçar na fazenda do Armando, veio um porco do mato (sabe aqueles parecidos com javali?) pro lado dele e foi uma porrada só, o bicho tombou de uma vez por todas. Nunca vi coisa nem parecida, se eu não estivesse lá teria duvidado. Só acredito porque vi.
O Armando ficou bravo pra caramba e mesmo comendo o bicho numa festa logo em seguida exigiu que o Hércules limpasse o curral dos bois, não sei quantos milhares de animais mijando e cagando um tempão, era de arrepiar, coisa de dar nó nas tripas. O Hércules tava no auge, era um rei, um rei no auge, poderoso, deu conta.
No lago defronte matou centenas de urubus que viviam em volta do matadouro do Armando. Só na pedrada, tinha uma pontaria formidável e fazia as pedras irem lá no alto, não teve pra ninguém, competência total.
O sétimo trabalho que deixou ele famoso foi tirar aquele touro da greta. O bicho estava furioso, ninguém conseguia nem se aproximar, ele foi lá e deu-lhe um tapão, o bicho amansou na hora, ele amarrou o cabresto e veio puxando o animal mansinho.
Houve aquele tal de Diomedes do morro vizinho - rei da droga, como era conhecido - que se meteu a besta com ele, que faria e aconteceria confiante nos capangas que passavam fogo em toda a boca do fumo; não teve outra, Hércules acertou o nariz dele, o otário foi parar na UTI, ficou em coma seis meses, quando saiu ninguém queria nada com ele.
Tinha umas mulheres enormes na região, As Manzonas, que lutavam queda de braço ou braço de ferro e acharam que podiam com o Hércules, pobres delas, pelo menos três saíram com os braços estraçalhados, depois queriam processar o Hércules, mas nada a ver, os próprios advogados disseram que não.
Esses desafios começaram a acontecer cada vez mais, porque a fama do Hércules corria pela cidade. Certo Cérion se achava um gigante, achou que podia com o Hércules, desafiou-o, foi derrubado, teve três costelas partidas, envergonhado mudou até de cidade, deixou o cabelo crescer, assim como a barba, está irreconhecível.
O 11º trabalho foi trazer o cachorrão Cérebro do cemitério, o mundo dos mortos. Foi risível, pois o cachorro amedrontador quando viu o Hércules começou a ganir, deitou no chão, acho que o pessoal batia nele, é revoltante. Hércules o adotou e ele ficou mansinho, é o xodó da casa (imagine que Hércules teve vários filhos e filhas, todos enormes), mais de 110 kg, Hércules pega “a criaturinha” (é como ele diz, tão castiço) no colo, é de amolecer o coração.
Para terminar, ele foi um dia roubar laranjas maduras amarelinhas (verdadeiros “pomos de ouro”) nos quintais de várias ex-perdidas, várias putas que se cansaram da vida fácil e criaram um condomínio “familiar” tentando se regenerar perante a sociedade. O caseiro o colocou para fugir com tiro de sal, o que envergonhou o Hércules, agora já pai de vários filhos adultos. A Celinha, dona Célia, puxou literalmente as orelhas dele e ele finalmente aquietou o facho. Subiram o morro e criaram uma chácara chamada O Limpo no alto dos morros no ES, lá pelos lados de Domingos Martins, mas ainda não fui lá.


Serra, terça-feira, 10 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

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