Tuesday, August 27, 2013

Piadaria (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


Romilda era um caso diferente, diferentemente da maioria das mulheres ela gostava de contar piadas. Para elas piadas são coisas infantis, masculinas, perda de tempo diante de tarefas mais sérias de um dia ocupado a ocupadíssimo. Só os homens, com seu excesso de tempo, se preocupavam com piadas.
Bem, Romilda era diferente.
Fosse porque fosse, ela gostava de contar piadas.
Pensando bem, os homens ficavam em volta dela e ela aproveitava para pegar um e outro, era uma isca, ficavam igual insetos em volta da lâmpada e ela só abocanhando, mirava e ia certeira.
Os homens amavam, ela se especializou.
Bonita não era, mas era simpática, que é o que conta, gostava de homem, GOSTAVA MUITO, era ninfomaníaca, ficou amiga de centenas. Eles riam, ela ria, eles gargalhavam, ela gargalhava, tava pra ela.
Ela se aprofundou mais ainda.
Rica não era, mas os homens não a deixavam pagar a conta nem de bebida nem de comida, disputavam a tapa para pagar a parte dela, no final da noite ela escolhia um, os outros já sabiam.
Ela foi mais fundo ainda.
Começou a colecionar, criou arquivo cada vez maior das que conhecia, das que perguntava aos outros, das antigas e das novas, por gênero, como vários já fizeram, por exemplo, Ary Toledo. Muitos, muitos sites/sítios, inumeráveis, quase se tornara impossível contar uma piada nova, porque tudo ia parar na Internet.
E, já que era assim, ela criou um site internacional, em inglês, para coletá-las de todo o mundo falante dessa língua agora universal. Choveram piadas.
O sítio dela era acessado mediante pagamento. Por que pagar, se você podia obter de graça a graça na Internet? O caso é que o dela era o mais amplo que existia, de longe o mais completo, todo mês tinha coisa nova, por conseguinte as pessoas pagavam pela novidade: podiam baixar e espalhar, mas se não fosse com o sinete da Romilda as pessoas não gostavam, achavam banal. E esse plus mensal, esse “mais” que ela tinha cuidado de colocar separando para adultos e crianças, leves e pesadas, era realmente a atração. Ele recontava no português do Brasil as piadas internacionais, por vezes as adaptando.
Show de bola.
Vivia disso, literalmente a vida da Romilda era uma piada.
E a fome sexual insaciável dela estava sempre sendo cortejada, agora que tinha além de apetite, dinheiro.
Tem gente que não se acha.
Já a Romilda se achou.


Serra, quinta-feira, 05 de abril de 2012.
José Augusto Gava.

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