Thursday, August 15, 2013

Oficina de Achômetro (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


Jorginho estava agoniado porque os aparelhos de afinação tinham quebrado e os “eu acho” não estavam podendo ser afinados. A aceitação dos cientistas/técnicos ia de 100 a 75 %, a dos filósofos/ideólogos de 75 a 50 %, a dos teólogos/religiosos de 50 a 25 %, a dos magos/artistas de 25 a 00 %, invenção total que nem queria se parecer com verdade.
Dentre os artistas havia os prosódicos fixados na ficção dita científica que precisavam fazer as letras parecerem científicas ou pelo menos técnicas, porisso queriam seus parecerômetros bem afiados.
Jorginho estava todo sem graça, clientes de anos, dois ou três até de décadas, mas que azar danado! Acontecer logo agora que os romancistas querem fazer seus textos parecerem história! Chamam de “romance histórico” depois de passar pela oficina, serão seria só invencionice.
Era a falta de graça da falta de graça. Os artistas das letras estavam usando muito os aparelhos para dar seriedade às suas invenções histriônicas e com isso sobrecarregaram os instrumentos sérios da oficina, puta merda!
Por exemplo, os tecnocientistas não queriam dizer “eu acho”, iam à oficina do Jorginho e saíam de lá com teorias científicas ou pelo menos provas, teoremas, lemas, corolários. Transformar “eu acho” em teoria científica sem o “achômetro” para graduar era um “o” para conferir, o “o” do borogodó, uma coisa de doido, Jorginho porejava, a testa dele despejava cataratas de água, era dureza.
Sem o “achômetro” era obrigado a usar o parecerômetro dos artistas, com resultados deploráveis para os conhecimentos altos.
Os tecnocientistas não poderiam ficar no “eu acho”, tudo devia ser tido como verdadeiro. Imagine se o Aquecimento Global fosse tido apenas como “eu acho”? E tantas e tantas vezes que o “eu acho” fora convincentemente posto de lado? Tudo trabalho da oficina do Jorginho. E todas aquelas vezes que os T/C disseram taxativamente que iria acontecer isso e aquilo, não acontecia, mas aí já era outra geração e tudo era esquecido? Se não fosse pelo achômetro do Jorginho nada daquilo teria sido possível, tudo teria desmoronado.

ESQUECIMENTO GLOBAL (tantas coisas afirmadas como verdadeiras!)

 (imagem)
(imagem) 



Jorginho estava passado!
E não era apenas no Brasil. Só que no estrangeiro os achômetros eram de melhor qualidade, mais bem afinados e tudo parecia mais verdadeiro e mais difícil de contestar.


Serra, terça-feira, 10 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

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