Thursday, August 15, 2013

Homem de Aço (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


Não havia Mulher de Aço porque pegaria mal.
Mulher de Aço afastaria todo mundo, muito dura e intransigente, o contrário do que pensamos das mulheres, doces e compassivas, conciliadoras, amorosas. Nem os homens se aproximariam; e se tivesse filhos e filhas estes e estas achariam demasiadamente estranha essa mulher. Intransigente, excessivamente rigorosa, birrenta, dominante.
Não era Homem de Ferro, porque esse já seria outro, precedido pelo Homem de Bronze e suplantado pelo Homem de Titânio. Nem Homem de Ferro Fundido, que se parte fácil, uma florzinha.
O Homem de Aço dependia da quantidade de carbono, pois ele engolia carvão e quando tomava umas canas bravas cuspia fogo, incandescia, o estômago queimava. E esse Homem de Aço queria mais que tudo ser Homem de Aço Inoxidável, de preferência Homem de Aço Ginsu.
Ele era duro.
Duríssimo.
Não temia pegar chuva, nem muito menos sereno, nem sereno da madrugada, nem chuvarada, nem tempestade, zombava de tudo isso cantando “cotoco de vela quer me segurar”.
Nada temia esse Homem de Aço, exceto o Homem de Diamante ou homens quase tão duros quanto este, que aí já seria demais, procurava evitar. Não que fosse covardia, de jeito nenhum. Nem ele judiava do Homem de Vidro ou do Homem de Alumínio, mais fracos, não, ele era cuidadoso com o pessoal inferior. Uma vez o Homem de Latão implicou com ele, estava bêbado, o pobre infeliz, um peteleco e ele teria se amassado todo, mas em vez disso o Homem de Aço agüentou tudo caladinho, sem piar. O Homem de Duralumínio, que estava do lado e já era um parente mais evoluído do Homem de Alumínio, falou: “bate nele, bate nele”, mas o Homem de Aço ficou quietinho, que não era de bater nos mais fracos. Bom, na realidade depois de muita implicância pisou no pé e esmagou os dedinhos, mas não foi mais do que isso.
Homem de Quartzo também ficou do lado, vibrando e empurrando, querendo ver sangue, tudo perfeitamente inútil. Homem de Chumbo, muito maleável, se dobrava facilmente e ficou atiçando, acho que ele é masoquista, gosta que afundem a cara dele. É um nojento, gosta de apanhar. Nem tem vergonha, o pulha. O Homem de Cobre também é fraco, não vem me dizer que não é, é sim, falo aqui e falo na cara dele! Eu sei. Eu vi, meninos, eu vi.
O Homem de Aço é um gentleman, um cavalheiro, um gentil-homem, um nobre, uma postura que vou te falar! Não se fazem mais homens iguais. Aço é o Homem, é o que há, dou testemunho, não é por ser meu primo, não senhor, é a dignidade. Pra você ter uma ideia, ele se esfrega com Bombril pra dar brilho e palha de aço daquelas de antigamente para limpeza mais profunda. E toma banho de ácido.


Serra, quarta-feira, 04 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

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