Wednesday, August 21, 2013

Os Cinco Sentidos (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


Eles eram cinco e saíam todo dia para o Happy Hour antes de ir cada qual para as respectivas famílias, eram todos casados.
Nesse dia o João estava mal e quando digo mal é mal de verdade, mal MESMO, nem as piadas tradicionais ou as novas o acordavam do torpor.
- O que cê tem, João?
- Tô mal, não tô legal, tô meio sentido com uma coisa que aconteceu.
Alguém brincou, pra ver se melhorava o humor dele.
- Ih, zentem, o João está sentidinho, que gracinha.
Nem isso ajudou, João continuou mal. Ficaram ali mais uma hora das três ou mais que eram tradicionais e foram para suas casas. Ficaram todos num mau-humor danado, ácidos, o de um contaminou todo mundo, saiu todo mundo bicudo e chutando lata.
No dia seguinte tinha tudo voltado às boas, mas dois meses depois foi a vez do Zeca.
Saltando tempo, todos foram passando por uma coisa assim, mas persistiam, os cinco. Veio uma fase de bonança, eles rememoraram, ficaram horas falando de como cada um tinha “ficado sentido”, que coisa mais brega e mais florzinha, tá me estranhando?
Aí, fatalmente, sendo cinco não tardou fazerem graça com os “cinco sentidos”, esses corporais-mentais externinternos. Os cinco sentidos do corpo: visão, audição, paladar, olfato, tato. Quem seria a boca? Quem seria olho? Lembraram-se da revista, depois filme, V de Vingança, conversaram sobre muitas coisas. Chegaram à conclusão de que os sentidos vinham sendo mal-explorados. Pensando na curva do sino, há um lado bem ruim do qual ninguém quer se aproximar e há 2,5 % de excelência – como fazer para proporcionar aos outros 39 em 40 algo da experiência superior? E se colocassem loja para a qual fossem trazidas as melhores coisas de todo o planeta, sem qualquer preconceito? Não que fossem deixar suas tarefas principais, tudo demorava quatro anos para amadurecer e também eles não queriam brigar uns com os outros, melhor é a amizade, vamos contratar alguém como gerente.
Nem era o caso de afrouxar, afinal de contas ainda que não esgotasse, seria um bom capital, multiplicado por cinco. Falta não faria a nenhum deles, todos bem sucedidos em seus ramos respectivos, era mais o caso de ser cuidadoso.
Como explorar os cinco sentidos ao máximo?
Como oferecer as melhores de todas as experiências mentais mundiais? Os 40x? Ora, bolas, onde estavam essas melhores entre todas as experimentações? Não se tratava de excessos, de drogas, só as experiências legítimas.
Como não existia nada de semelhante (exceto - mais modestamente e não dirigido - na Playboy revista) no mundo, imediatamente eles se tornaram famosos, o que ajudou seus negócios isolados. A par do bar-restaurante onde eram indicados os lugares a ir, os livros a ler (com base naqueles 1.000 de todo tipo, também com consultores), eles colocaram revista justamente com esse nome Os Cinco Sentidos. Franquearam o bar a 4 %, criaram camisetas, patrocinaram shows. A imprensa divulgou e nem foi preciso pagar, pois os editores eram clientes.
Acumularam conhecimento, colocaram consultoria para executivos estressados em longas negociações. As empresas ficavam felizes em pagar, esses homens e mulheres lhes davam lucros de milhões, de dezenas de milhões, de centenas de milhões – e, no final de tudo, quem pagava era o acionista.
Colocaram empresas de turismo, com excursões especialíssimas por todo mundo custando verdadeiras fortunas, inclusive o trem indiano com passagem de 1.200 dólares POR DIA.
Descobriram tantas vertentes que foi realmente sucesso total.
E continuaram com toda simplicidade indo ao Happy Hour, hora cada vez mais feliz.
E assim nunca mais ficaram sentidos com os aborre-cimentos.


Serra, quarta-feira, 04 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

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