Thursday, August 15, 2013

Franqueamento Demoníaco (da serie Se Precisar Conto Outra Vez)


Com isso de franqueamento (projetar um sistema de compra-e-venda com contabilidade, com desenho padrão da loja e com treinamento do co-proprietário, do gerente e dos funcionários) ao custo ao co-sócio de 4 % do faturamento, esse meu conhecido pensou que as coisas do capeta (do mesmo jeito que o c* de bêbado) não tinham dono.
Quer dizer, ninguém assume, mas várias pessoas são demoníacas, partidárias mais ou menos ocultas do Cão.
Então, ele decidiu se aproveitar disso, passar a perna no próprio demo e enviar fitas-demo para todo possível co-sócio, todo pretendente; claro que como aqueles e-mails chatos e as antigas cartas propondo compra, a maioria, 97,5 % ou mais eram descartadas. Se apenas 1/40 ou 2,5 % respondessem, ainda assim em 20 milhões de famílias brasileiras (metade dos 40 milhões – para dar conta com zeros – de todas) seriam 0,5 milhão ou 500 mil pretendentes.
De fato, há muita gente demoníaca em toda parte, inclusive no Brasil. A gente vê as notícias nos jornais, revistas, TV, e m toda parte.
Ele colocou o sistema e foi de vento em popa.
Vários se associaram e passaram a servir ao Coisa Ruim.
As coisas do Coisa estavam se espalhando e vários, muitos mesmo entre os brasileiros seguiram esse caminho dos produtos diabólicos, esquecendo-se do amor ao próximo. Alguns eram tão ousados que diziam ser “do Bem”, como se de Deus fossem e não, como era verdadeiro, se tivessem renunciado ao livre-arbítrio, ao livre-querer para bandear-se ao “caminho largo”.
Por exemplo, as Lojas do Ziza vendiam “vencer a qualquer custo”, “desvio de verbas”, “envolvimento em esquema de corrupção”, “sonegação à farta”, “farinha pouca, meu pirão primeiro”, “disfarça e pega”, “furação de olho”, “furar fila”, “consumo desenfreado de drogas”, “música alta nos ônibus”, “espancamento de animais”, “espancamento de mulheres” (aliás, essa variedade de espancamentos tinha grande saída, produto vitorioso), “freqüentadores de rave” e tantos, tantos produtos que nem sei contar direito. Muitos governantes do Executivo, muitos juízes do Judiciário, muitos políticos do Legislativo, muitos empresários eram clientes fiéis.
Ele estava enriquecendo.
Vivia à farta, viajava muito, era casado, mas traía a esposa, dava muitos presentes aos amigos, a casa era imensa, muito dinheiro no banco, ações, investimento em outras empresas, enfim, ficou riquíssimo.
E foi envelhecendo, até ficar bem velho e morrer. Achou que ia pro céu, por ter enganado o Velho, mas foi para o inferno, diretamente até o Trono do Diabo, que agradeceu o bom trabalho e o espetou com o tridente sem nem piscar.
E o Brasil ficou com todas essas coisas horríveis que há por aqui.
Eu era o anjo de guarda dele, fiquei triste.


Serra, sexta-feira, 13 de abril de 2012.
José Augusto Gava.

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