Saturday, June 11, 2016


Complicaldo: O Pesado e Feio Mundo Complexo

 

As pessoas falam - sem saber do que falam – em “caldo de cultura” ou “caldo cultural”. O que seria isso? Caldo é um cozido de legumes ou carnes muito tempo fervido, adensado por vezes com maisena ou fubá ou outras farinhas, a modo de sopa. Não é coisa da nobreza, é algo da pobreza, da “ralé”, dos “de baixo”, daqueles que, não podendo ter alimentos nobres, satisfazem-se com o pouco e o parco.

Assim, o caldo cultural seria o restolho dado à base humana, o que sobra da Grande Cultura do Conhecimento (Magia-Arte, Teologia-Religião, Filosofia-Ideologia, Ciência-Técnica e Matemática). A Grande Cultura é servida aos culturalmente exigentes e o que sobra embaixo, a Pequena Cultura, é ofertada reelaborada pela propaganda como boa ao povo “inferior”.  Enfim, são os restos da mesa principal.

Como a coletividade foi ficando cada vez mais complicada diante da individualidade, o motivo do título é este: complexo-caldo cultural é ofertado aos diminuídos, o resultado mais palpável sendo que “passa batido”, não é pego em razão da complexidade – o povo “baixo” simplesmente não pode absorver.

Antes, “antigamente”, até a chegada da ampla produção da mídia a população podia, com algum esforço induzido, chupar ruidosamente pelo menos um tiquinho do caldo, agora não pode mais.

A COMPLEXIDADE DA MÍDIA (avalie você)

MÉDIA
INVESTIGAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA
Cinema
Quantas indústrias cinematográficas? Quantas salas de exibição?
Internet
Começou em 1989 no mundo e em 1995 no Brasil, mas abarcou tudo em toda parte.
Jornal
Milhares e milhares, contando somente os de papel.
Livro-Editoria
Google Livros e Projeto Gutenberg avaliaram que são menos de 150 milhões de títulos, um para cada 48 seres humanos, mas tente ler! Se você conseguir ler um por dia a partir de uma idade de compreensão de 15 anos até a avançada de 85 anos, durante 70 anos x 400 dias/ano (para dar conta com zeros) atingiria 28 mil, menos de 30 mil e isso seria 2/10.000 de tudo. Repare que ainda restariam 149.970.000 outros sem ler.
Rádio
São milhares no mundo.
Revista
Incontáveis milhares, especialmente em instrumentos com o ISSUU.
TV
Centenas e centenas online. Se você fala inglês, então são milhares.

O excesso imobilizou TODAS as pessoas, inclusive eu, mormente eu, você também, todos nós interessados, quanto mais os não-interessados! O “povim miúdo”, ainda mais apequenado por esse excesso, trancou-se, não vê mais nada.

ÊTA POVIM MIUDIM (os três povins)

http://images.uncyc.org/pt/6/64/Tresmacacos.jpg

O povo, para se proteger e continuar operante não vê, não fala e não ouve: finge que vê, finge que fala, finge que ouve. Vê TV, quer dizer, nada. Lê jornais ridículos ciente de estar sendo enganado (como disse a frase da década dos 60/70: não leio jornal, eu mesmo invento minhas mentiras).

E esse complicaldo, caldo-complexo, deu liberdade expressiva a uma multidão de estúpidos, de ignorantes, que antes não podia se expressar porque custava caro – agora custa “baratíssimo” fazer os tais livros-minuto e a produção aumentou desmesuradamente.

O mundo complexo tornou-se feio e pesado de inutilidades.

É bom, de algum modo é bom, não deixa de ser, a democracia é mesmo a joia das joias, temos de aceitar, temos de tolerar, Deus nos ajude a ser pacientes. Agora qualquer boboca, sem reverência pela enorme produção mundial, põe-se a ensinar como se fosse “doutor por causa da honra” de alguma universidade de prestígio. Não quero ser um Paulo Francis e ficar esbravejando, o objetivo é outro, é mostrar como a falta de simplicidade, a falta de compostura, a falta de dignidade quando à presença e antiguidade da Cultura geral leva tanta gente a proclamar e a proclamar-se.

Carecemos de candura.

Exageramos mundialmente no tom.

Quem diria que as liberdades democráticas viriam dar nessa lama em que afundamos? Quem imaginaria tal lodaçal das consciências?

Serra, domingo, 16 de agosto de 2015.

GAVA.

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