Complicaldo: O Pesado
e Feio Mundo Complexo
As pessoas falam -
sem saber do que falam – em “caldo de cultura” ou “caldo cultural”. O que seria
isso? Caldo é um cozido de legumes ou carnes muito tempo fervido, adensado por
vezes com maisena ou fubá ou outras farinhas, a modo de sopa. Não é coisa da
nobreza, é algo da pobreza, da “ralé”, dos “de baixo”, daqueles que, não
podendo ter alimentos nobres, satisfazem-se com o pouco e o parco.
Assim, o caldo
cultural seria o restolho dado à base humana, o que sobra da Grande Cultura do
Conhecimento (Magia-Arte, Teologia-Religião, Filosofia-Ideologia,
Ciência-Técnica e Matemática). A Grande Cultura é servida aos culturalmente
exigentes e o que sobra embaixo, a Pequena Cultura, é ofertada reelaborada pela
propaganda como boa ao povo “inferior”.
Enfim, são os restos da mesa principal.
Como a coletividade
foi ficando cada vez mais complicada diante da individualidade, o motivo do
título é este: complexo-caldo cultural é ofertado aos diminuídos, o resultado
mais palpável sendo que “passa batido”, não é pego em razão da complexidade – o
povo “baixo” simplesmente não pode absorver.
Antes, “antigamente”,
até a chegada da ampla produção da mídia a população podia, com algum esforço
induzido, chupar ruidosamente pelo menos um tiquinho do caldo, agora não pode
mais.
A COMPLEXIDADE DA MÍDIA (avalie você)
MÉDIA
|
INVESTIGAÇÃO
QUANTITATIVA E QUALITATIVA
|
Cinema
|
Quantas indústrias cinematográficas?
Quantas salas de exibição?
|
Internet
|
Começou em 1989 no mundo e em 1995 no
Brasil, mas abarcou tudo em toda parte.
|
Jornal
|
Milhares e milhares, contando somente os de
papel.
|
Livro-Editoria
|
Google Livros e Projeto Gutenberg
avaliaram que são menos de 150 milhões de títulos, um para cada 48 seres
humanos, mas tente ler! Se você conseguir ler um por dia a partir de uma
idade de compreensão de 15 anos até a avançada de 85 anos, durante 70 anos x
400 dias/ano (para dar conta com zeros) atingiria 28 mil, menos de 30 mil e
isso seria 2/10.000 de tudo. Repare que ainda restariam 149.970.000 outros
sem ler.
|
Rádio
|
São milhares no mundo.
|
Revista
|
Incontáveis milhares, especialmente em
instrumentos com o ISSUU.
|
TV
|
Centenas e centenas online. Se você fala
inglês, então são milhares.
|
O excesso imobilizou TODAS as pessoas,
inclusive eu, mormente eu, você também, todos nós interessados, quanto mais os
não-interessados! O “povim miúdo”, ainda mais apequenado por esse excesso,
trancou-se, não vê mais nada.
ÊTA
POVIM MIUDIM
(os três povins)
O povo, para se proteger e continuar operante
não vê, não fala e não ouve: finge que vê, finge que fala, finge que ouve. Vê
TV, quer dizer, nada. Lê jornais ridículos ciente de estar sendo enganado (como
disse a frase da década dos 60/70: não leio jornal, eu mesmo invento minhas
mentiras).
E esse complicaldo, caldo-complexo, deu
liberdade expressiva a uma multidão de estúpidos, de ignorantes, que antes não
podia se expressar porque custava caro – agora custa “baratíssimo” fazer os
tais livros-minuto e a produção aumentou desmesuradamente.
O mundo complexo tornou-se feio e pesado de
inutilidades.
É bom, de algum modo é bom, não deixa de ser,
a democracia é mesmo a joia das joias, temos de aceitar, temos de tolerar, Deus
nos ajude a ser pacientes. Agora qualquer boboca, sem reverência pela enorme
produção mundial, põe-se a ensinar como se fosse “doutor por causa da honra” de
alguma universidade de prestígio. Não quero ser um Paulo Francis e ficar
esbravejando, o objetivo é outro, é mostrar como a falta de simplicidade, a
falta de compostura, a falta de dignidade quando à presença e antiguidade da
Cultura geral leva tanta gente a proclamar e a proclamar-se.
Carecemos de candura.
Exageramos mundialmente no tom.
Quem diria que as liberdades democráticas
viriam dar nessa lama em que afundamos? Quem imaginaria tal lodaçal das
consciências?
Serra, domingo, 16 de agosto de 2015.
GAVA.
No comments:
Post a Comment