Ele era físico mais
ousado que os outros, não tinha medo do falatório dos pares, grande parte dos
quais viviam de fazer “papers” e encher lingüiça, contando e recontando,
esquentando e requentando sempre as mesmas descobertas dos verdadeiros gênios
que abriam as largas avenidas pavimentadas pelos outros com paralelepípedos,
depois com pedrinhas e por fim com pastilhas minúsculas, cada qual com seu
infinitésimo.
Incomodava-lhe
seguir na trilha de usar graduandos, mestrandos, doutorandos para pesquisar
suas teses, na tentativa de com tantos pequenos fazer um grande.
Aquilo de publicar
em revistas só para ganhar as promoções medíocres não lhe interessava, ele se
sentia independente dessas pequenas correntes, queria pegar o grande canal do
grande rio da vida, fazer algo original, não derivado, que fosse seu mesmo.
Então, pensou.
Sem seguir modas,
sem temor, pensou.
Ora, o povo fala
“força de vontade”. Evidentemente cada força corresponde a um campo e as forças
são todas conhecidas: força gravinercial (gravitacional-inercial), elétrica,
magnética, fraca e forte. São cinco no plano da física-química (primeira ponte)
e não podem ser outras nos planos superiores biológico-p.2, psicológico-p.3,
informacional-p.4, cosmológico-p.5, dialógico-p.6.
Para todos os
planos, são somente aquelas.
Se houvesse chance
dessa “força” de vontade existir, o que ela seria? Campo físico não poderia
ser, contudo poderia ser aplicação biológica de força física, modelação
eletromagnética desde os primórdios da Vida na Terra há 3,8 bilhões de anos. Se
houvesse uma “força de vontade”, ela constituiria o “campo da vontade”, a que
corresponderia uma “partícula de vontade”. Já que a partícula presumida
existente do campo gravitacional é o gráviton, a do campo da vontade seria o vóntadon,
esquisito de falar, sem dúvida alguma, mas só até nos acostumarmos; ademais, a
segunda geração já falaria sem qualquer embaraço.
O que seria o
vóntadon?
Por suposto, há uma
curva do sino associada ao uso dele, desde os menos dotados 1/40 até os mais
repletos dela, 2,5 % de todos, os ricos em vóntadon, aqueles de vontade
inquebrantável. Quais seriam as equações da partícula-campo, o campartícula
vóntadon? Seguramente elas agiam desde a biologia-p.2, passando pela
psicologia-p.3, mas tinham de ter suas características definidas no
eletromagnetismo de Maxwell, dentro das possibilidades das quatro equações, uso
particular delas.
As cinco forças
físicas interfeririam no campartícula vóntadon?
Ele começou os
testes, tanto na administração de eletrochoques em cobaias (pois não eram mais
permitidos em humanos; infelizmente, em cobaias, ele se condoia, mas o que
fazer? – procurou aplicar em si mesmo, observando cuidadosamente os
resultados). Depois investigou as drogas, os químicos, os fármacos. Também
releu todos os relatórios sobre os astronautas, desde a simples circulação da
Terra, as voltas orbitais, até as poucas idas à Lua.
E os raios
cósmicos?
E o cinturão de Van
Allen?
Buscou as fontes de
informações, os relatos dos balonistas desde 200 anos, os primeiros aviadores,
tudo que dissesse respeito a exposições diferentes da média: as minas
profundas, os batiscafos franceses, os relatos dos remanescentes dos
bombardeios atômicos no Japão.
Tudo mesmo, tudo.
Leu milhares de
páginas.
E começou a fazer
projeções de experiências.
Sabe aquilo de
“dobrar a força de vontade”? Pois ele conseguiu, tanto no sentido de
multiplicar quanto no de reduzir, quebrar. Obviamente isso teria aplicações
militares e foi nesse ponto que paramos de ter notícias dele. De repente, sumiu,
ninguém sabe, ninguém viu. Escafedeu-se. Uns dizem que as Forças Armadas
queriam para si, bem como temiam o uso contrário dos aparelhos; que os foram
aprimorando. Que as forças armadas de outros países o raptaram e que ele vive
agora em instalações profundas.
Todo tipo de boato
veio apimentar as fofocas diárias.
Uns dizem que ele
foi para algum “programa de testemunhas”, que mudou de nome. Em todo caso,
claro, nunca publicou em revista nenhuma.
Assim, puf.
Que coisas os
milicos vem escondendo?
A gente fica com “a
pulga atrás da orelha”, coçando, coçando.
Serra,
quinta-feira, 05 de abril de 2012.
José Augusto Gava.
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