Eles eram cinco e
saíam todo dia para o Happy Hour antes de ir cada qual para as respectivas
famílias, eram todos casados.
Nesse dia o João
estava mal e quando digo mal é mal de verdade, mal MESMO, nem as piadas
tradicionais ou as novas o acordavam do torpor.
- O que cê tem,
João?
- Tô mal, não tô
legal, tô meio sentido com uma coisa que aconteceu.
Alguém brincou, pra
ver se melhorava o humor dele.
- Ih, zentem, o
João está sentidinho, que gracinha.
Nem isso ajudou,
João continuou mal. Ficaram ali mais uma hora das três ou mais que eram
tradicionais e foram para suas casas. Ficaram todos num mau-humor danado,
ácidos, o de um contaminou todo mundo, saiu todo mundo bicudo e chutando lata.
No dia seguinte
tinha tudo voltado às boas, mas dois meses depois foi a vez do Zeca.
Saltando tempo,
todos foram passando por uma coisa assim, mas persistiam, os cinco. Veio uma
fase de bonança, eles rememoraram, ficaram horas falando de como cada um tinha
“ficado sentido”, que coisa mais brega e mais florzinha, tá me estranhando?
Aí, fatalmente,
sendo cinco não tardou fazerem graça com os “cinco sentidos”, esses
corporais-mentais externinternos. Os cinco sentidos do corpo: visão, audição,
paladar, olfato, tato. Quem seria a boca? Quem seria olho? Lembraram-se da
revista, depois filme, V de Vingança, conversaram sobre
muitas coisas. Chegaram à conclusão de que os sentidos vinham sendo
mal-explorados. Pensando na curva do sino, há um lado bem ruim do qual ninguém quer
se aproximar e há 2,5 % de excelência – como fazer para proporcionar aos outros
39 em 40 algo da experiência superior? E se colocassem loja para a qual fossem
trazidas as melhores coisas de todo o planeta, sem qualquer preconceito? Não
que fossem deixar suas tarefas principais, tudo demorava quatro anos para
amadurecer e também eles não queriam brigar uns com os outros, melhor é a
amizade, vamos contratar alguém como gerente.
Nem era o caso de
afrouxar, afinal de contas ainda que não esgotasse, seria um bom capital,
multiplicado por cinco. Falta não faria a nenhum deles, todos bem sucedidos em
seus ramos respectivos, era mais o caso de ser cuidadoso.
Como explorar os
cinco sentidos ao máximo?
Como oferecer as
melhores de todas as experiências mentais mundiais? Os 40x? Ora, bolas, onde
estavam essas melhores entre todas as experimentações? Não se tratava de
excessos, de drogas, só as experiências legítimas.
Como não existia
nada de semelhante (exceto - mais modestamente e não dirigido - na Playboy
revista) no mundo, imediatamente eles se tornaram famosos, o que ajudou seus
negócios isolados. A par do bar-restaurante onde eram indicados os lugares a
ir, os livros a ler (com base naqueles 1.000 de todo tipo, também com
consultores), eles colocaram revista justamente com esse nome Os Cinco Sentidos. Franquearam o bar a
4 %, criaram camisetas, patrocinaram shows. A imprensa divulgou e nem foi
preciso pagar, pois os editores eram clientes.
Acumularam
conhecimento, colocaram consultoria para executivos estressados em longas
negociações. As empresas ficavam felizes em pagar, esses homens e mulheres lhes
davam lucros de milhões, de dezenas de milhões, de centenas de milhões – e, no
final de tudo, quem pagava era o acionista.
Colocaram empresas
de turismo, com excursões especialíssimas por todo mundo custando verdadeiras
fortunas, inclusive o trem indiano com passagem de 1.200 dólares POR DIA.
Descobriram tantas
vertentes que foi realmente sucesso total.
E continuaram com
toda simplicidade indo ao Happy Hour, hora cada vez mais feliz.
E assim nunca mais
ficaram sentidos com os aborre-cimentos.
Serra,
quarta-feira, 04 de abril de 2012.
José Augusto Gava.
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