Os psicólogos
estavam reunidos: costureiros de alta costura, modistas, desenhistas,
padronistas e mais um monte de gente, tudo em volta da mesa para planejar a
humanidade – o que haveis de vestir?
Pois era de almas
humanas que tratavam.
Mais daquelas das mulheres que dos homens, mas
dos homens também, das crianças, dos velhos, de todos que tinham uma superfície
psicológica e uma estrutura mental psicológica, tanto sentido quanto razão.
E o foco era a
Moda, mulher volúvel que mudava sempre: “a Moda é Móbile”, já diziam. E havia a
Moda Verão, bela e luminosa, colorida e vaporosa com cores vibrantes próprias
da estação, bem como a Moda Inverno, séria e compenetrada, de cores cinza e
pastel.
Eles tinham ideia
do que fazer: separar os seres humanos entre ricos e pobres, de modo que
aqueles não tivessem remorsos relativos à distinção e estes não percebessem estarem
sendo excluídos, pelo contrário, deveriam comprar roupas de moda e marca, que
só em razão da etiqueta já custavam 30, 40, 50, 60 % mais caras; faziam isso
sem reclamar, gastando o que tinham e o que não tinham para ficar parecidos com
os que tinham sem reclamar, só para ficarem um tanto separados dos mais pobres
ainda, ou menos ousados.
Os psicólogos mais
separatistas ali presentes pretenderam até criar Moda Primavera e Moda Outono,
quatro estações de mudança de pele durante o ano, mas a maioria foi contra,
bastavam duas, pois mais que duas iria abrir um fosso por demais notável.
A ideia era a da
variação.
Roupas novas na
forma e no conteúdo, visando destacar os que podiam comprar (os ricos) dos que
não podiam (os pobres), expondo duas vezes por ano roupas caras. Mudavam-se os
padrões pelos traçados ou desenhos, os tecidos de base, as cores, os cortes, os
adereços, tudo que se podia ajuntar para mostrar essa sutil diferença projetiva
que é a liberdade, a capacidade de avançar sem consideração pelos outros.
Essa era a missão:
destacar sem provocar revolta.
Pelo contrário, os
pobres queriam parecer sem poder e com isso se tornavam ainda mais submissos. Os
psicólogos (práticos, não teóricos; porém isso faz falta, se puder ser colocado
sem ostentação) quebravam a cabeça, pediam ajuda aos tecnartistas (os
técnicos-artistas das 22 tecnartes), aos magos, usavam todos os seus
conhecimentos. E de seis em seis meses lançavam as coleções Da Estação,
digamos, Coleção de Verão. Os ricos corriam às lojas para separar-se dos
pobres. Os pobres também “passavam os olhos” para tentar evitar o
distanciamento, pelo menos os pobres não-conformados. Era uma luta em dois
rounds anuais e os pobres sempre perdiam, nocaute.
Que fazer?
Foi isso que
perguntou Lênin.
Serra,
quinta-feira, 05 de abril de 2012.
José Augusto Gava.
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