O Professor chegou
com umas doideiras que vou te contar!
O plantel todo ali
prestando atenção, mas uns riam, sim, que a gente via, nem adianta negar. Até
eu ri das loucuras dele.
Ele misturou
matemática com futebol, porisso algum espertinho chamou de Futemática,
matemática do futebol.
Começou dizendo que
direção (”por exemplo, esta reta”, disse ele) forma ângulo <; daí, treinamos
ângulos dias inteiros até sabermos distinguir 10º, 45º, 90º, o que fosse e
acertar precisamente. Até que ele tinha um pouco de razão.
Depois passou aos
sentidos, para frente e para trás, adiantar ou atrasar a bola, que sempre
seguia parábolas. Que era parábola? Aprendemos tudo de parábola e de gravidade,
aquelas fórmulas de enlouquecer a gente, potência de tiro, distância a atingir,
encobrimento, bola rente ao solo, máximo alcance aos 45º graus, etc., etc.,
etc., aquilo não acabava nunca, um mês inteiro, quando é que íamos jogar
futebol? A turma tava inquieta, uns pensaram em sair, mas já estavam
acostumados a gastar, quem ia querer voltar pra pobreza?
Depois, ele
entregou a faixa de capitão ao goleiro que, disse ele, era o que ficava parado
e tinha melhor visão de campo e no avanço do adversário podia posicionar a
defesa. Quem é que já viu goleiro como capitão? Mas não é que melhorou nos
amistosos?
Depois, ele passou
a falar do retângulo do campo.
“Que é um
retângulo?”
Os companheiros não
sabiam onde enfiar a cabeça. Um falou “é uma coisa assim” e traçou um retângulo
torto.
O Professor então
dividiu os retângulos em ESTÁTICOS e DINÂMICOS e mostrou que estático era o
desenho, dinâmico era o movimento e eles se combinavam para formar a MECÂNICA FUTEBOLÍSTICA. Nunca tinha ouvido
falar disso, que doideira. Ele disse que a MF (mecânica futebolística) era uma
parte da psicologia e que nós éramos psicólogos jogando com outros psicólogos.
Eu, hem, eu não sou doido não, meu camaradinha, quero ficar longe de psicólogo.
Mas ele tanto
explicou que compreendemos: devíamos entender várias necessidades dos times
adversários, dos cartolas, dos outros professores, das torcidas, quando
podíamos perder e quando devíamos ganhar para afastar tal ou qual time, tanto
falou que acabamos compreendendo pelo menos uma parte.
E quanto ao campo,
ele criou um programa para monitorar os jogadores presentes que podiam ser
vistos nas gravações das televisões; trabalhão lá na universidade, a cada
jogador atribuíram um número-pixel e criaram MAPAS DE JOGOS que mostravam a
densidade em campo, não sei explicar direito. Onde ficava o maior ajuntamento
(ele chamava de adensamento, estou lembrando)? Vimos que
frequentemente, quando havia ajuntamento de um lado do campo e entrava um
sacana sozinho pelo outro, a bola jogada para este fatalmente levava a gol.
Chamou isso de “movimento dispersivo”, será isso?
Você não vai
acreditar que foi isso que nos deu os oito títulos seguidos, depois que ele
saiu perdemos três e ganhamos de vez em quando. Ganhei uma fortuna.
Ih, tem muita
coisa.
E ele transformou
os jogos. Criou um Atlas futebolístico, um globo mundial para todos os times,
lá com os alunos dele de estatística na universidade, que é esta onde estamos.
Isso foi quando eu tinha 16, ficamos um ano nisso, com 17 entrei pro
profissional, ganhamos aquelas oito, ele saiu, fique mais 13, saí com 38 e me
matriculei no curso de matemática em homenagem a ele, que é o professor aqui
que está se aposentando hoje, obrigado Professor pelos melhores anos de minha
vida.
Serra,
segunda-feira, 02 de abril de 2012.
José Augusto Gava.
No comments:
Post a Comment