Thursday, August 15, 2013

Martelinho de Ouro (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


Começou como brincadeira.
Três amigos decidiram mandar confeccionar um martelinho de ouro, bem pequeno, do tamanho de uma falange de dedo. Penduraram no pescoço com uma corrente fina, mas resistente. E andaram com aquilo por meses. Pessoas perguntaram, eles desconversaram, pois não significava nada, mesmo.
Mais gente perguntando, eles inventaram que era tipo Caveira e Ossos, um daqueles clubes americanos universitários que acabaram protegendo um monte de empresários, presidentes, juízes, políticos e vice-versa.
Quanto mais escondiam mais atraentes se tornaram.

CLUBES DA ESCURIDÃO
(imagens de organizações secretas)

Para aceitar o quarto membro dificultaram à bessa e imaginaram um ritual boboca qualquer, que no quinto elemento se tornou mais bobo e mais atrativo, o sujeito saiu todo feliz e passou a contribuir com uma quantia razoável, criaram um fundo e todo mundo decidiu dar a quinta parte do que coube ao 5º. No sexto a coisa começou a se firmar e do sétimo em diante até os originais estavam acreditando. Lá pelo vigésimo tinha se espalhado e virado misticismo, todos acreditavam, inclusive os inventores da porcaria.
Quando tinha 300 membros eles estavam arrecadando uma baba por mês, compraram um terreno e começaram a construir a sede do Martelinho de Ouro na forma estilizada de martelinho mesmo e pintada de amarelo elegante em amplo terreno de periferia. Compraram os terrenos em volta e venderam aos membros, onde estes construíram mansões inacreditáveis.
Já tinha se espalhado no Brasil inteiro.
O Congresso votou por uma investigação sobre a moralidade das operações financeiras, exigindo ver a contabilidade, que nada tinha de errado. Isso chamou a atenção da imprensa nacional e internacional. As instituições da mesma espécie emprestaram solidariedade, exigiram de seus governos a permanência da democracia no Brasil.
Gente de todo tipo da política, do juizado, do governo, empresários, artistas se candidataram, mas 95 % ou mais foram rejeitados; mesmo os 5 % aceitos eram muitos, agora já milhares de martelinhos pendurados no pescoço. O medo de retaliação de tão poderosa organização (agora tida como existindo há centenas de anos nos bastidores) tornava intocáveis os usuários do cordão, fixado firmemente no pescoço, não podendo ser tirado em nenhuma situação – nem os mais perigosos bandidos ousavam tocá-los, mormente porque podiam sofrer desforras horríveis.
Então eles enviaram representantes à Trilateral, ao Clube de Roma, ao Bilderberg, aos Grandes Orientes e a todas as instituições irmãs.


Serra, quarta-feira, 11 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

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