Wednesday, August 21, 2013

Pai dos Burros (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


É incrível ver como papai é pouco visitado pelos filhos!

                       (imagens de dicionários e livros)

                       Eu, por exemplo, sempre visito papai. Não tô me gabando, é apenas o fato, não estou zombando dos irmãos que não o veem. Seja em casa, seja na Internet, seja no dicionário incorporado ao Word, estou sempre visitando o velho. Não sinto vergonha nenhuma, amo o velho, ele me ajuda muito, fico sempre com ele, tenho dívida de gratidão, tanto tempo trabalhando pela gente é algo mesmo de admirar.
Papai é muito devotado e ficou anos colhendo para proporcionar à gente essa herança fabulosa. E o pessoal que trabalha no escritório dele? Caramba, que dedicação, papai arranjou uma turma boa que trabalhou décadas com ele para deixar esse legado para nós.
                       
                       Claro que não reclamo dos irmãos e irmãs, mas bem que eles podiam visitar o velho. Que é que custa? Vai arrancar pedaço? Muitas e muitas vezes vi o velho num canto, sem ninguém chegar perto. Dá pena de ver o estado de abandono, sem quem faça grandes debates sobre tudo que o velho proporcionou para nós ao longo de tanto tempo! Que ingratidão! Com tantos filhos espalhados pelo mundo, a gente até se sente mal, porque ninguém liga. Tantos que ele ajudou, tantos escritores que apoiou, tantos fazedores de discursos, tantos candidatos, tantos universitários e hoje tão poucos a visitá-lo, dá até vergonha na gente.  E papai quieto, não fala nada, não diz uma palavra, se a gente quiser tem de ler, porque demonstrar ele não demonstra. O velho fica quieto no canto dele, é de lamentar, viu? Tanta ingratidão dá asco na gente!


Serra, domingo, 01 de abril de 2012.
José Augusto Gava.

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