Thursday, August 15, 2013

Mano Tauro (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


É meu irmão, essa porra.
“Ainda bem que papai e mamãe estão mortos”, por assim dizer, quem iria querer que pai e mãe estivessem mortos? É para não passar vergonha, falo nesse sentido. Nossa, se eles estivessem vivos! Cruzes, só de pensar fico arrepiado. Mamãe, então, teria morrido.
Durovai, meu irmão, é corno.
O Mano Tauro.
O pessoal passou a chamá-lo de Tataka, para não dizer babaca.
Minha irmã veio falar comigo, eu que herdo essas melecas, como irmão mais velho, dá vontade de dar porrada nele, que bicho bobo, meu Deus do Céu, quem aquenta um otário desses? Por mim eu descia bordoada, vá criar vergonha na cara.
Sobrou pra mim, fui lá.
- Ô, Durovai, essa sua mulher tá te traindo, todo mundo na cidade sabe, está envergonhando nossa família, todo mundo vem me contar, não tenho mais onde enfiar a cabeça.
- Mas, Sérgio, eu gosto dela.
- Seu otário! Tem muita mulher no mundo, larga dela, a cidade toda tá comentando, nós somos antigos aqui, cara, uma das três famílias originais.
Não largou.
Essa mulher teceu uma rede, um emaranhado em volta dele, verdadeiro labirinto de palavras, ele não sabe sair, fica lá, prisioneiro.
Até contratamos uma prostituta, a Ariadne, para ver se o puxava de dentro, o trabalho dela foi muito bem feito, levou o amásio dela, o Teceu, mas não teve jeito, ele se fazendo de amigo, beberam juntos, ela se insinuando, o corno ficou fiel à infiel, não quis nada com a puta, ficava chorando “eu sou fiel, eu sou fiel”. Merda, é uma besta mesmo, corno e chorão, acho que não é nosso irmão (desculpe, mãe).
Uns chifres enormes, mal dava pra passar na porta, aonde ia todo mundo ficava olhando, ele nem se vexava de levar a ordinária, a safada. Minha mulher nem queria mais ir às festas onde ela prometia aparecer e se aparecesse ela saía.
Meu outro irmão mudou até de cidade, não agüentava mais.
Minhas irmãs nem saíam mais de casa.
E o cara de pau, chifrudo, continuava passeando pelas ruas.
Não agüentei mais, contratei dois cabras imensos para dar uma surra nele, ficou três semanas no hospital, tô nem aí, dane-se.
Não teve jeito.
Desisto.
É destino. Só entregando pra Deus.


Serra, quinta-feira, 05 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

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