É meu
irmão, essa porra.
“Ainda
bem que papai e mamãe estão mortos”, por assim dizer, quem iria querer que pai
e mãe estivessem mortos? É para não passar vergonha, falo nesse sentido. Nossa,
se eles estivessem vivos! Cruzes, só de pensar fico arrepiado. Mamãe, então,
teria morrido.
Durovai,
meu irmão, é corno.
O Mano
Tauro.
O
pessoal passou a chamá-lo de Tataka, para não dizer babaca.
Minha
irmã veio falar comigo, eu que herdo essas melecas, como irmão mais velho, dá
vontade de dar porrada nele, que bicho bobo, meu Deus do Céu, quem aquenta um
otário desses? Por mim eu descia bordoada, vá criar vergonha na cara.
Sobrou
pra mim, fui lá.
- Ô,
Durovai, essa sua mulher tá te traindo, todo mundo na cidade sabe, está
envergonhando nossa família, todo mundo vem me contar, não tenho mais onde
enfiar a cabeça.
- Mas,
Sérgio, eu gosto dela.
- Seu
otário! Tem muita mulher no mundo, larga dela, a cidade toda tá comentando, nós
somos antigos aqui, cara, uma das três famílias originais.
Não
largou.
Essa
mulher teceu uma rede, um emaranhado em volta dele, verdadeiro labirinto de
palavras, ele não sabe sair, fica lá, prisioneiro.
Até
contratamos uma prostituta, a Ariadne, para ver se o puxava de dentro, o
trabalho dela foi muito bem feito, levou o amásio dela, o Teceu, mas não teve
jeito, ele se fazendo de amigo, beberam juntos, ela se insinuando, o corno
ficou fiel à infiel, não quis nada com a puta, ficava chorando “eu sou fiel, eu
sou fiel”. Merda, é uma besta mesmo, corno e chorão, acho que não é nosso irmão
(desculpe, mãe).
Uns
chifres enormes, mal dava pra passar na porta, aonde ia todo mundo ficava
olhando, ele nem se vexava de levar a ordinária, a safada. Minha mulher nem
queria mais ir às festas onde ela prometia aparecer e se aparecesse ela saía.
Meu
outro irmão mudou até de cidade, não agüentava mais.
Minhas
irmãs nem saíam mais de casa.
E o
cara de pau, chifrudo, continuava passeando pelas ruas.
Não
agüentei mais, contratei dois cabras imensos para dar uma surra nele, ficou
três semanas no hospital, tô nem aí, dane-se.
Não
teve jeito.
Desisto.
É
destino. Só entregando pra Deus.
Serra,
quinta-feira, 05 de abril de 2012.
José
Augusto Gava.
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