Thursday, October 31, 2013

400! (da série Expresso 222..., Livro 2)


400!

 

                        Meu filho, Gabriel, leu numa revista que antes de Collor entrar eram produzidos 40 tipos de veículos, e que depois da abertura que ele proporcionou são agora 400 tipos diferentes. Certamente isso quer dizer que todos os Fiat Palio são contados como espécies distintas, e não como uma só, como seria mais justo, mas mesmo assim é muito.

                        Com aquele jeito que o Bush pai chamou de Indiana Jones dos trópicos, ou algo semelhante, o Indiana Jones do Sertão, Collor fez algo, abriu o Brasil, que as elites mantinham fechado, sangrando o povo brasileiro sem permitir acesso às mercadorias estrangeiras. Como ele expôs, os carros produzidos aqui eram carroças – e eram mesmo, o que a gente só foi ver perfeitamente depois, em termos de “tecnologia embarcada”, como dizem.

                        Apesar de ser um meliante, Collor (e sua trupe ou tropa) abriram efetivamente o país, em apenas dois anos que ficaram lá. A nação não é mais a mesma.

                        Se dividirmos 400 por 40, teremos 10, que deve ser o fator de abertura EM TUDO, da indústria automotiva às telecomunicações, ao conhecimento dos alimentos, à Internet – para o bem e para o mal.

                        O resultado dessa audácia foi a desacomodação das elites e do povo brasileiro, toda a sociedade/civilização/cultura brasileira lançada à competitividade internacional, e nacional-endurecida. Pois o Brasil, retirado à competitividade maior, tinha parado de evoluir psicologicamente, como um feudo ou reserva para as elites daqui. Detida a evolução das figuras, dos objetivos, das economias/produções, das sociologias/organizações, do espaçotempo brasileiro. Apresada a agropecuária/extrativismo, as indústrias, o comércio, os serviços e os bancos. Contido o Conhecimento alto (Magia, Teologia, Filosofia e Ciência) e baixo (Arte, Religião, Ideologia e Técnica) e a Matemática. Toda a Tecnociência alta (Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6) e baixa (Engenharia/X1, Medicina/X2, Psiquiatria/X3, Cibernética/X4, Astronomia/X5 e Discursiva/X6) refreada.

                        Tudo paralisado como um feudo psicológico das elites perversas e malditas, incapazes de competir no mercado internacional e porisso mesmo fechadas sobre si. Sem concorrência, estagnada, vedada, obstruída, sem poder alargar os horizontes, não tendo acesso a problemas por resolver, recebendo-os já resolvidos e com isso toda uma nação candidata à morte.

                        Do modelo sabemos que a soma é 50/50, portanto em dois anos Collor e sua cambada, segundo afirmam, desviaram mais de dois bilhões de dólares. Não que devessem receber como prêmio essa quantia vultosa, mas veja só como é a Natureza, como é o trabalho de libertação, muitas vezes vindo justamente das mãos de assassinos, de bandidos, de criminosos.

                        Que espetáculo extraordinário é o mundo!

                        Só os geo-historiadores podem apreciar devidamente as mudanças, de onde elas vêm, como se manifestam, como se aprimoram, como completam seus movimentos. A grandeza dos jogos, a formação das redes, o rompimento dos laços, o desemperramento das juntas e dos maquinismos.

                        Os acadêmicos estiveram e estão longe de compreender essas coisas. Por exemplo, dizem que Collor e sua gangue tramaram essa coisa toda comendo pato à Pequim na China, e que eles eram comunistas na origem, sabe-se lá.

                        Que ironias finérrimas a GH nos reserva.

                        Vitória, segunda-feira, 20 de maio de 2002.

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