Thursday, October 31, 2013

A Fantasia como Libertadora (da série Expresso 222..., Livro 2)


A Fantasia como Libertadora

 

                        No modelo há a esquerdireita, a denominação geral dos pares de opostos/complementares.

                        Podemos colocar na esquerda o real ou passado, e na direita o virtual, ou futuro; no centro teríamos o virturreal ou passado (anterioridades) /futuro (posteridades), ou presente (atualidades), porque suprimi os nomes antigos (passado, presente e futuro, como improbabilidades).

                        A prosa toda é virtual, claro, não é real.

                        Na direita, no virtual, tomando-se essa tecnarte, a prosa, podemos dizê-la PROSA REAL e PROSA VIRTUAL, como faríamos com tudo, com todas as demais formas de tecnartes do corpo (da visão: prosa, poesia, fotografia, dança, moda, pintura, desenho, etc.; do paladar: comidas, bebidas, pastas, temperos, etc.; do olfato: perfumaria, etc.; da audição: músicas, discursos, etc.; do tato, sentido central: arquiengenharia, paisagismo/jardinagem, decoração, esculturação, tapeçaria, cinema, teatro, urbanismo, etc.).

                        A PROSA REAL é a que trata do passado, usando o que já conhecemos (porque ninguém, realmente, pode estar completamente afinado com a atualidade, a não ser em si mesmo – quer dizer, manter atual o fluxo de informações, pois quanto mais distante o objeto ou sujeito, mais tempo leva para a informação sair dele e chegar a nós, se a velocidade de transmissão é a mesma). Assim, todos os romances, toda a literatura que descreve tipos humanos, fá-lo sobre o passado, dando lições psicológicas às gentes, em retratos mais ou menos elaborados, desde os grandes mestres até os trapaceiros.

                        A PROSA VIRTUAL divide-se em duas, como coloquei no modelo, a fantasia e a FC, ficção científica, que redenominei FT, ficção tecnológica ou técnica, porque ela obviamente ela não é científica. Só os cientistas fazem em suas disciplinas FC verdadeira. A FT é claramente antecipatória, futurista (todo “ismo” é doença do info-controle/comunicação, informação/controle, IC, agoraqui humano). Ela mira inequivocamente o futuro. Como a fantasia não pode ser realista, como não se volta ao passado, por razões óbvias deve ser fábula, irreal, deve voltar-se ao futuro. Mas não é futuro humano tal como o depreenderíamos por projeção da atualidade.

                        Segue-se que é FUTURO ALTERNATIVO.

                        Mas, sé é futuro alternativo, não é deste plano de nossas percepções, tal como as aceitamos; então, correlativamente, deve haver um PASSADO ALTERNATIVO, bem como um PRESENTE ALTERNATIVO.

                        Então, teríamos: 1a) a prosa real (romances dos vários tipos), voltada para o passado, 1b) a prosa virtual (FT) , voltada para o futuro; 2a) a prosa alternativa real, fantasia sobre o passado, humano ou não, 2b) a prosa alternativa virtual, fantasia sobre o futuro, humano ou não.

                        O que caracterizaria a FANTASIA, prosa alternativa?

                        Nos romances o autor deve inventar sobre a PSICOLOGIA REAL (figuras reais, objetivos reais, economias/produções reais, sociologias/organizações reais, espaços reais e tempos reais), ou seja, as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundos).

                        Na FT ele deve arquitetar sobre a PSICOLOGIA VIRTUAL, com cenários e sujeitos virtuais, mas ainda baseados em caracteres e quadros humanos, projeções ou induções a partir do que é conhecido.

                        Na fantasia teríamos de 1 a 100 % de ALTERNATIVIDADE, desde um leve deslocamento, que só fosse perceptível pelos estudiosos (magos/artistas, teólogos/religiosos, filósofos/ideólogos, cientistas/técnicos e matemáticos) até a totalidade dos objetos e processos, em que tudo fosse diferente do que conhecemos, da língua à sociedade/civilização/cultura, dos conhecimentos à Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo, fogo/energia, no centro a Vida e no centro do centro a Vida-racional) – enfim tudo mesmo.

                        Fica evidente para todos que essa tarefa de 100 % de invenção é a mais dura de todas. Nos romances os autores devem ser muito criativos, mas têm como base o que conhecem dos seres humanos e dos cenários terrestres. Na FT ainda há como base indutiva o passado, projetado adiante, com modificações. Na fantasia TUDO pode ser diferente.

                        Então, por dedução, dos criadores de fantasias é exigido MUITO MAIS, porque eles devem criar ROMANCES ALTERNATIVOS e FT’s ALTERNATIVAS. Daí, os tipos de fantasia (f) seriam: a fR (fantasia real) e a fT (fantasia tecnológica).

                        É tido como certo que os autores de FT e de fantasia são criadores menores. Não é verdade, ou, se é, é porque eles se deixaram amedrontar pela possibilidade de julgamento negativo, ou pelas manifestações de desaforo de quem quer que seja. Não precisa ser assim, pode ser justamente o oposto. Os criadores de fantasias podem se tornar não apenas os autores preferidos no futuro (como deveria ser), como efetivamente os melhores e mais fecundos, criando fantasias cada vez mais perfeitas e densas.

                        Creio que, logo isso seja percebido, não demora muito, esses autores de fantasia se tornarão grandes, maiores que qualquer coisa do passado. Onde há maiores probabilidades de erros? Onde há mais chances de deslizamento para a incompetência? Ora, é esse quadro de grau muito mais elevado de armadilhas que tentará os gênios do amanhã.

                        Nessa época veremos obras realmente espantosas, dilatando ao máximo os raciocínios e os sentimentos humanos - obras verdadeiramente esplendorosas.

                        Através dessa grandeza que lhe será característica, a Fantasia (em maiúsculas conjunto ou grupo ou família de fantasias) se tornará libertadora das mentes (razões) e dos corações (sentimentos) humanos, permitindo grandes vôos de pensimaginação.
                        Vitória, segunda-feira, 6 de maio de 2002

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