Sunday, October 27, 2013

Matemáticas Pura e Aplicada (da série Expresso 222..., Livro 1)


Matemáticas Pura e Aplicada

 

                        A matemática “pura” seria aquela que não tem aplicação, senão a mera busca pelo prazer do descobrimento, enquanto a “aplicada” seria o contrário, aquela que serve às técnicas e ciências, ou outras áreas do conhecimento.

                        Mas a matemática pura fatalmente se torna aplicada um dia, e toda matemática aplicada de hoje não tinha uso antigamente, de modo que a distinção é inócua, e porisso mesmo irritante, ferindo o Princípio de Occan da não-criação de categorias desnecessárias de definição.

                        Os matemáticos “puros”, estando na linha de frente da criação, zombam de seus parceiros “aplicados”, porque estes estariam lidando com a plebe rude e selvagem, com os ignorantes. Estes outros acham aqueles tremendos esnobes, uma falsa elite cheia de faniquitos e ares de superioridade. É a mesma rixa que existe entre cientistas e técnicos, ou entre os pesquisadores teóricos e os laboratoristas.

                        Não existe matemática “impura”, da qual a “pura” fosse o oposto, nem “inaplicada”, da qual a “aplicada” fosse o contrário. Porisso os nomes não fazem sentido.

                        Mas nós podemos falar em frente de onda da criação, e em operadores da criação, aqueles que estão procurando aplicações práticas para a teoria recém-descoberta. Ou em teóricos e práticos. Mas, como esses nomes já são usados em outras seções do conhecimento, é melhor definir precisamente essas duas categorias novas, para diferenciar sem malícia e conotações de valor dois grupos que trabalham em distintos pontos da mesma flecha, uns à frente e outros atrás, mas todos buscando o mesmo alvo.

                        Daí teríamos os CRIADORES e os OPERADORES.

                        Os matemáticos criadores têm várias alturas, desde os grandes até os pequenos, desde os definidores de áreas totalmente novas, até os que vão atrás detalhando os quadrinhos do grande cenário.

                        Os criadores grandes são reconhecidamente poucos, não passam de 100 em toda a história humana escrita. Os pequenos são milhares, criando por ano 100 mil teoremas, cuja compreensão holística ou generalizante depende justamente dos maiorais.

                        Os matemáticos operadores também se dividem em grandes e pequenos, e trabalham em várias seções do Conhecimento geral, naquilo que chamei de partidos do conhecimento, especialmente na Ciência e na Técnica. E entre grandes e pequenos medeia uma quantidade enorme de outros.

                        Pois bem, agora temos conceitos úteis.

                        Os criadores estão na ponta da flecha, avançando para o desconhecido, arrancando as matemáticas da Matemática, transformando o potencial no real, que servirá à espécie humana. Os operadores também cumprem uma tarefa importantíssima, pois vão na outra ponta transferindo o conhecimento recém-adquirido às pessoas que não tem identidade com a matéria. Eles estudam o que foi criado e tornam-no inteligível às massas. Embora o outro trabalho seja fundamental, pois sem descoberta não pode haver aplicação, a dedicação desses operadores é de extrema importância, pois sem eles o mundo não se matematizaria, ficaria sempre trabalhando em níveis baixíssimos de compreensão e eficácia.

                        Com esses novos conceitos nós já ficamos sabendo do que estamos falando, ou seja, alguém criar, lá na frente, e alguém operar a transferência aos não-matemáticos. A coisa deixa o misticismo do “puro” e do “aplicado” para cair em categorias sem quaisquer conotações de valor, que levam sempre a julgamentos desfavoráveis e rastros de ódio.

                        Vitória, quarta-feira, 10 de abril de 2002.

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