Thursday, October 31, 2013

Ataques Sutis (da série Expresso 222..., Livro 2)


Ataques Sutis

 

                        No livro de Michio Kaku, Visões do Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, ele diz na página 119: “Teólogos cristãos algumas vezes definiram a ‘alma’ como algo independente do mundo material, que existe mesmo após a morte. A teologia cristã, com suas elaboradas recompensas, punições pelo pecado e promessas de vida eterna, afirma a separação da carne e do espírito”, grifo e negrito meus.

                        Como poderiam definir essa separação, distinção, isolamento, desunião do corpo e da alma? Pois não está estabelecido, POR DEFINIÇÃO, que eles ficam juntos durante o período de encarnação? A alma, por assim dizer, “desce” até o corpo que está sendo constituído no útero e com ele se junta, para constituir um corpo-alma único, SEM SEPARAÇÃO até que a morte os separe. Não devemos entender que o corpo tenha uma alma, ou que a alma tenha um corpo, como se fosse algo de fora, mas que são um e o mesmo, temporariamente, durante a vida, sendo ao fim dela apartados.

                        A alma não fica dentro do corpo, como sardinha dentro da lata, e sim constitui um par polar indissolúvel, até que venha a morte. Então não foram os cristãos que afirmaram isso. Na realidade a rebentação se deu com Descartes (francês, 1596-1650, 54 anos entre datas. Tomando 27 como média, lá por 1623 é que a coisa mudou). Como a Reforma é de 100 anos antes (Lutero, alemão considerado o iniciador efetivo dela, viveu de 1483 a 1546, 63 anos entre datas, média em 1515), isso já é resultado da visão de mundo protestante de antagonismo, e não do catolicismo, que é Igreja Católica (universal).

                        O protestantismo e a visão de mundo geral de “racha”, de rompimento, de quebra que trouxe é que proporcionou aquele espírito de que Descartes se valeu para separar (e antagonizar) corpo e mente ou espírito ou alma.

                        Não foi, de maneira alguma, o cristianismo católico.

                        Foi Descartes, especialmente, e dessa separação, propiciadora de uma nova liberdade muito necessária, aliás, se valeram os cientistas, os filósofos e todos que dela necessitavam, para fazer prosperar a visão de incompatibilidade, de desunião irremediável que, exacerbada, tornou-se essa chaga que corrói o mundo todo, hoje.

                        Havendo, no meio científico/técnico e filosófico/ideológico, gente pérfida, ou aqueles que, sem maiores raciocínios, vão acompanhando o humor detestável dessa cambada, muitos ataques frontais, diretos, que são menos daninhos, porque se pode reagir a eles, e subversivos, indiretos e sutis, que passam despercebidos, foram sendo feitos, visando minar as religiões.

         Durante 25 anos fui ateu, dos 18 aos 43, porém nunca me comportei assim, sem respeito pelas crenças alheias. Não sou religioso, contudo é triste ver como as pessoas podem escorregar facilmente para esse tipo de atitude.

            É como a heresia que afirmava que Jesus tinha duas naturezas separadas, a de Deus e a de homem. Seria esperado que Deus não pudesse vencer a separação? É evidente que Deus, infinito, não pode caber inteiro no mundo finito, daí Jesus não poder ser TODO-DEUS, sendo apenas o que de Deus encarna, cabe num corpo humano. Entrementes, seria tolice dizer que as duas naturezas estavam separadas, e que na cruz, símbolo da separação, não tivesse sofrido o Deus-em-carne, apenas o homem, em seus horrores menores. Ali sofreu o Deus a privação que é estar na carne, sem poderes. ESTA é a doação significativa, o rebaixamento por amor até o nível da humanidade - terrestre, fechada planetariamente, e por via de conseqüência menor, provinciana.

            Infelizmente as pessoas confundem tudo.

            Por não pensarem a fundo, elas confundem alhos e bugalhos.

            Vê-se que o pensar em profundidade é a única salvação.

            Vitória, terça-feira, 14 de maio de 2002.

           

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