Thursday, October 31, 2013

Dois Mil Artigos (da série Expresso 222..., Livro 2)


Dois Mil Artigos

 

                        Por diversas vezes me convidaram para escrever em jornais. Primeiro foi O Pioneiro, de Linhares, em 1974 e 1975, quando eu estava em Vitória. Depois, quando voltei a Linhares, entre 1984 e 1987, tornei a escrever para ele e outro jornal de lá. A seguir foi A Tribuna, em 1988 e 1989, e A Gazeta, um tanto depois, pelas mãos de Carlos Umberto Filipe.

                        Eles sempre me cortam. Acho que não gostam da minha forma de abordagem, sei lá. Ou talvez meus artigos não interessem mesmo.

                        Mais recentemente, neste ano de 2002, tentei de novo A Gazeta, através do nosso amigo CUF, mas eles nada publicaram.

                        A outra vez que escrevi para este jornal, de 110 artigos que fiz publicaram 11, uns 10 %. Há muita gente escrevendo para a coluna de opiniões, principalmente gente famosa, entre outros, daí não me darem espaço. Não fico chateado, mas o fato é que tive que me conter na abordagem dos assuntos, porque o público leitor poderia não tolerá-los.

                        Então, pensei, quantos artigos eu poderia escrever, abordando os livros que leio?

                        Bom, fico fora dois dias e meio (48 horas mais viagens de ida e volta), sobram cinco dos seis de folga. Se escrever três por dia, são 5 x 3 = 15, fora as falhas. Seriam 667 dias diretos, coisa de 1,83 ano. Contando que são cinco em cada oito dias, num ano seriam aproveitáveis uns 228 dias. Daí 667/228 = 2,93, quase três anos para os dois mil artigos.

                        Então posso escrever seis mil artigos em nove anos, tendo tempo de vida e condições de fazê-lo em relativo sossego.

 Qual a utilidade e significado deles? Eu não sei, mas como penso continuamente e não posso ficar guardando isso na minha cabeça, o jeito é colocar para fora e torcer para que tenham algum sentido e proveito para a humanidade, que sejam de alguma ajuda.

                        Em termos de páginas, creio que seriam em geral duas, talvez três, digamos 2,5 por artigo, no total dos nove anos coisa de 22,5 mil páginas, o mesmo tanto que o modelo, posteridades e ulterioridades, exceto que neste conjunto existiam muitos gráficos, folhas para capítulos e repetições no primeiro capítulo do esboço geral, para tornar o texto independente inteligível pelo leitor que o lesse isoladamente.

                        Juntando uns 50 em cada bloco teríamos 450 grupos, menos que os 618 (252 do modelo e 366 das posterioridades/ulterioridades) do outro conjunto que fiz, também em nove anos.

                        Com isso posso varrer minha experiência em leitura.

                        Sou leigo, não formado em faculdade, embora tenha passado duas vezes em engenharia, duas em física e uma em filosofia, deixando os cursos incompletos.

                        Digo tudo isso para chamar atenção para o que podemos fazer para ajudar, um pouco que seja, as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os ambientes (municípios/cidades, estados e mundo), com o tiquinho que sabemos. Mesmo que seja ínfimo nosso conhecimento, ele pode servir a alguém, adiantando um ponto de vista que, por um pequeno bloqueio, não permitisse desvendar um objeto ou sujeito.

                        Isoladamente podemos pouco, os indivíduos, mas não estamos sós. Estamos em conjuntos crescentes, de famílias ao mundo. O precário que façamos pode ser auxílio significativo. É como na fábula recente dos ecologistas, na qual um beija-flor, portando um dedal de água, corre para tentar apagar o fogo que consome a floresta da qual um bando de bichos muito maiores foge. À zombaria de que ele nada poderia fazer ele responde que pelo menos está tentando ajudar, não está fugindo.

                        Se cada um fizer um pedacinho, pode ser que a gente consiga – como diz o povo, com a ajuda de Deus, na realidade, Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI.

                        E fica também como instruções aos meus filhos.

                        E como mensagem aos que gostam um pouco que seja de mim, amigos e parentes.

                        Não sou modesto, longe disso, é só que somos realmente diminutos, relativamente ao todo. Em cada um, claro que não, temos nosso tamanho definido.

                        O problema parece ser que todo mundo quer ser publicado, ou publicado já, sem contar que podemos ter uma postura mais reservada, de longo prazo, garantindo um falar lento e macio com todos e cada um, sem evidenciação. Na minha ânsia de servir, de colaborar, eu também desejei muito expor os assuntos, com uma ponta de sofreguidão de ser aceito e reconhecido.

                        Entretanto, pensando bem, essa exposição, sobre ser acabrunhante, humilhante, prostrante, é contraproducente, negativa, contrária aos nossos melhores interesses de pesquisadores profissionais ou leigos. Se a exposição for de 1 a 99 % (pois ninguém atingiria a unanimidade) de fama ou apelo geral do povelite/nação, ou qualquer conjunto, sobra cada vez menos tempo para buscar e ser útil escrevendo. De todo modo, pessoas muito famosas em seu tempo acabam por desaparecer do cenário logo em seguida, como podemos ver em tantos exemplos históricos, alguns bem recentes, de gente considerada luminar em suas vidas e que um século depois se tornaram completamente obscuras, portanto não lidas.

                        Devemos perguntar-nos: o que desejamos mesmo, apenas o nosso ou o total proveito?

                        Como diz o povo com tanta graça, há gente desejando aparecer, nem que seja como o papagaio de pirata pousado no ombro do personagem principal, como ator coadjuvante muito remoto ou mero extra do filme da Vida-racional geral.

                        O melhor é despir-se desses sentimentos, e deixar que o mundo chegue àquilo de que ele necessitar.

                        Então, quando pensei isso, vi que tinha mesmo que escrever, não importando se teria serventia. Primeiro, tem para mim, como um desabafo, um desafogamento, um desanuviamento mental, uma terapia. Depois, se tiver para a coletividade, ficarei mais feliz ainda.

                        Vitória, terça-feira, 07 de maio de 2002.

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