Thursday, October 31, 2013

A Liberdade Diminuída (da série Expresso 222..., Livro 2)


A Liberdade Diminuída

 

                        Em seu livro, Água (como o uso deste precioso recurso natural poderá acarretar a mais séria crise do século XXI), Rio de Janeiro, Ediouro, 2002, Marc de Villiers diz, página 32: “E talvez a questão mais difícil de todas: em todo ecossistema, além de um ponto crítico dentro de um espaço finito, a liberdade diminui à medida que os números crescem. Isto é tão verdadeiro para os seres humanos em relação aos espaços finitos do ecossistema planetário quanto para os elefantes do Okavango ou as moléculas de gás em um frasco vedado”, grifo e negrito meus.

                        Antes do modelo a gente aceitaria isso como: 1) afirmação do autor, 2)declaração de autoridade, 3) verdade presumida.

                        O modelo não secundou a dúvida metódica cartesiana, porque faz restrições a ela, mas rejeitou como inadequadas as afirmações unilaterais, por a soma é zero, quer dizer, 50/50. Assim, diz ele, A LIBERDADE TANTO DIMINUI QUANTO AUMENTA À MEDIDA QUE OS NÚMEROS CRESCEM.

                        Ela diminui PORQUE um número maior de pessoas, PARA OS MESMOS RECURSOS, conduzirá ao estreitamento do uso potencial dos recursos reais, quer dizer, sua transformação em riqueza unilateral, pessoal (indivíduos, famílias, grupos e empresas).

                        Ela aumenta PORQUE esse número acrescido traz maior conhecimento, maior e melhor aproveitamento dos recursos atuais e descobertas de outros, mais oportunidades, dilatação do SER e de sua rede de apoios ou amparos. Não somos unilateralmente menos livres agora que temos seis bilhões de pessoas, do que quando éramos 100 milhões, há dois mil anos. Quantas coisas estão disponíveis no presente tempespaço que não estavam há 20 séculos?

                        Mas, de fato, ela diminui PORQUE estamos todos mais apertados, não podemos sair correndo pelos campos, já que tudo está cercado pela idéia capitalista de propriedade, atributo do ser-burguês, domínio de classe, conveniência da exploração, predicado dos terra-tenentes, etc.

                        Contudo, ela aumenta PORQUE, desse jeito organizados, podemos multiplicar nossas forças e capacidades, colecionando objetos dos quais nunca saberíamos, com conhecimento mais baixo e menos gente.

                        Logo, o modelo vê com extrema desconfiança esse tipo de declaração. E pergunta: a quem interessa tal afirmativa? A Psicologia refaz a pergunta em vários índices: 1) a quais figuras (pessoais, como vistas, e ambientais: municípios/cidades, estados, nações e mundo) interessam esta postulações?;  2) quais os objetivos por trás delas?; 3) a quais economias/produções elas atendem preferencialmente?; 4) que sociologias/organizações as estão fazendo?; 5) que geo-história ou espaço tempo, ou seja, que dominância políticadministrativa a torna imperativa?

                        Veja que antes os países ricos não a faziam e foi um avanço considerável começarem a ver o perigo, através do movimento ecológico, na realidade de sustentação sócio-econômica.

                        Como se sabe, esse é o neo-malthusianismo, a sobreafirmação de Malthus (economista e demógrafo britânico, 1766-1834, 68 anos entre datas), o capitão das forças antipopulares, de todos os que querem o seu pirão primeiro.

                        É lógico que é preocupante, é evidente que devemos fazer alguma coisa para deter a destruição. A questão central é: o quê? Ela se dividiria, democraticamente, numa consulta geral, universal, de todos os elementos de psicologia, ou seja, todas as pessoambientes, e não apenas aos dominantes de agora, os países centrais, ditos pós-industriais.

                        Se disserem só um lado da sentença (“a liberdade diminui”), então estão servindo a um só lado da humanidade, no caso os que acham que mais gente significa redução da liberdade. Liberdade de quem (figuras)? Liberdade para quê (objetivos)? Liberdade com quê (economia/produção)? Liberdade como (sociologia/organização)? Liberdade quando e onde (espaçotempo ou geo-história, ou dominação políticadministrativa ou governempresariado)?

                        O quê?, eis a pergunta fundamental.

                        Não podemos aceitar as posições dos escritores do primeiro mundo como se fossem o supra-sumo da sabedoria.

                        Elas atendem, evidente e cruelmente, às suas necessidades, conscientes ou inconscientes.

                        Isso nem diz respeito à legítima preocupação do autor, e à sua felicidade de fazer esse apontamento crucial. Diz respeito à moralidade humana, de não usar dois pesos e duas medidas. Quando interessava aos centrais crescer, era plenamente justificável fazê-lo. Quando deixou de interessar, criminosos eram os outros. Claro que andar para frente, na menor distância entre dois pontos, é importantíssimo até que se chegue à borda do precipício. Neste instante mais do mesmo levaria ao desastre e à morte.

                        Contudo, devemos ter cuidado.

                        Como disseram eles, o preço da liberdade é a eterna vigilância.

                        Vitória, terça-feira, 21 de maio de 2002.

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