Thursday, October 31, 2013

Portas Lógicas (da série Expresso 222..., Livro 1)


Portas Lógicas

 

                        Em Lógica, dita matemática, há isso que os da Informática chamaram de “portas lógicas” (em inglês/português: OR/OU, AND/E, NOR/NÃO-OU, NAND/NÃO-E), conceito incompleto que fere minha consciência.

                        Porque portas podem estar abertas ou fechadas. Se estão abertas deixam passar tudo e se estão fechadas não deixam passar nada, e não se trata disso.

                        As tais “portas lógicas” são também separadores binários, relativos à base 2 (que comporta o 0 e o 1). Se fossem de outras bases, seriam separadores octais (base 8), separadores decimais (base 10), separadores duodecimais (base 12), separadores hexadecimais (base 16) ou separadores sexagesimais (base 60). Portanto, um único nome serve a qualquer base, digamos base 4 (separadores quaternários), base 7 (separadores heptais, o que os matemáticos mais altos acreditam seja a melhor base). E assim por diante.

                        Os SEPARADORES BINÁRIOS constituem uma encruzilhada, um par polar oposto/complementar, e porisso mesmo só conduzem às chamadas linguagens de máquina ou baixas, ou de processamentos digitais ou seqüenciais, próprios para a memória e as percepções lentas, por oposição às linguagens altas, como as humanas, que podem ser de processamentos paralelos ou analógicos, próprios para a inteligência e as percepções instantâneas.

                        Há um cruzamento: sim ou não, 1 ou 0, verdade ou falsidade? Para isso servem os separadores binários. Não são somente portas, que ficam fechadas ou abertas, são também cruzamentos em que o impulso toma a esquerda ou a direita, exclusiva ou inclusivamente (um, outro, ou ambos, ou nenhum). Mas, como sabemos, as linguagens POSSÍVEIS são muitas, não só a de base 2. Nós mesmos podemos falar linguagens de quaisquer bases.

                        Então entra em cena o Poderoso Ocam, que disse outrora, em plena Idade Média (vê-se que ela não era tão negra quanto se diz) para evitarmos o excesso de conceitos, ou a imprecisão deles, por extensão.

                        Os impulsos não são apenas barrados, eles são igualmente desviados.

                        O SEPARADOR-E diz que se dois impulsos chegarem juntos eles seguem, caso contrário não, e a resposta será sim, verdadeiro. O SEPARADOR-NÃO inclusivo pede que chegue um ou o outro, ou ambos, tanto faz, a resposta sempre é sim, verdadeiro também. Maria E Pedro casaram, verdadeiro. A vida se expressa em Maria OU Pedro.

                        É uma triagem, é um desvio, é um processo de separação, tanto estático (que a porta representaria) quanto dinâmico, pois é necessária permanente atenção (isso a porta não representaria, e sim um agente por trás dela, movendo-a como separadora) – em conjunto uma mecânica.

                        Conseqüentemente PORTA serve para o que é estático, monal, lógico, não-relacional, digital, seqüencial, ao passo que SEPARADOR seria usado para o que é dinâmico, dual, dialético, relacional, analógico, paralelo.

                        Trocar uma impropriedade por outra não parece muito interessante. Mas, se chamarmos de PORTA-SEPARADORA para incorporar o agente ou autonomia, fica pior, de modo que devemos achar uma alternativa que expresse a dialógica (lógica-dialética).

                        Como se trata de estabelecer condições, podemos falar de CONDICIONADORES, por exemplo, condicionadores binários, ternários, quaternários, etc. Acabamos de achar o nome que procurávamos, e que agora expressa a CONDIÇÃO DE DIÁLOGO, inclusive entre os seres humanos e as máquinas, que tanto pode ser CONDIÇÃO LÓGICA ou estática, quanto CONDIÇÃO DIALÉTICA ou dinâmica, daí CONDIÇÃO DIALÓGICA ou estáticadinâmica ou mecânica.

                        Veja que a coisa é importante.

                        O simples fato de chamar de “porta” levou a que as linguagens baixas ficassem obrigatoriamente separadas das linguagens altas, e retardou consideravelmente a migração para a inteligência e o controle artificiais, ainda que tenha dado acesso mais rápido à memória artificial.

                        Vitória, sábado, 20 de abril de 2002.

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