Sunday, October 27, 2013

E o Clube de Roma Virou Herói... (da série Expresso 222..., Livro 1)


E o Clube de Roma Virou Herói...

 

                        Em 1968 o Clube de Roma publicou um livro, Limites do Crescimento, que causou furor nas esquerdas, e prontificou as direitas a deter o crescimento dos pobres (pois os recursos, dizia o Clube, iriam se esgotar; e, neste caso, é melhor que sobre para os ricos), no que ficou conhecido nestes 34 anos como ECO-FASCISMO, isto é, usar a ecologia como tampão para o crescimento dos países que então eram chamados depreciativamente de países subdesenvolvidos, o que os fazia se enfurecer e querer o desenvolvimento a qualquer custo, tencionando os parcos recursos do mundo, serem renomeados como países em desenvolvimento, o que pode passá-los apenas de ultramiseráveis para supermiseráveis com louvor.

                        Não é uma entidade secreta, como a Maçonaria (os homens de preto), nem a AMORC (Venerável Sociedade Rosa-Cruz), nem os Iluminnatti. Nem é violenta como a Camorra italiana ou a sua versão americana, a Máfia. Nem é instituição científica como o Instituto Hudson, do falecido Herman Kahn, nem a Corporação RAND, futurologistas em nome e a favor dos EUA. Nem é secretíssimo como o Grupo Bildenberg, nem sombria como a Comissão Trilateral, nem ostensiva como o agora falecido Fórum de Davos, que estava chamando atenção demais com as manifestações.

                        Foi fundado em 1968 por 30 especialistas, homens públicos que depois ficaram ainda mais famosos e participaram da definição de muitas políticas mundiais, inclusive o que agora é a globalização (que Maurice Strong prefere chamar, em vez de GOVERNO MUNDIAL, que implica direção de uns por outros, SISTEMA MUNDIAL, que parece implicar democracia e participação igualitária).

                        Recebendo o repúdio geral das esquerdas, porque significava a condenação de bilhões ao subdesenvolvimento e à fome, em lugar de ir buscar novas frentes de ondas tecnocientíficas que abrissem o cenário da produção e da organização, o assunto tratado em Os Limites do Crescimento caiu forçosamente no esquecimento.

                        Eis quando, em 2002, olhando na Internet, vejo o Clube de Roma sendo aclamado quase como herói, como se fosse ele o responsável pela onda ecológica e por todo o trabalho dos ecologistas, quando o recado foi claro: “olhem, os recursos vão acabar. Vamos cuidar de nos apropriarmos deles, antes que os pobres e miseráveis o façam”.

                        Seria como se, passados os 57 anos desde a Segunda Grande Guerra, os israelitas erguessem em Israel uma estátua de Hitler, para saudá-lo como o Salvador da Pátria.

                        Ora, vamos!

                        Agora mesmo, deixado afastado de propósito todos esses anos, reolhado O Ano 2000, de Herman Kahn, podemos ver que está cheio de previsões erradas, sempre em desfavor dos então pobres e miseráveis. Foi escrito em 1967, 35 anos atrás, e a maioria de suas previsões foi para o brejo, o que não declina a qualidade do estilo fascista, a fluência negativista do texto, a sobriedade da pseudodemonstração.

                        É preciso reler também Os Limites do Crescimento, não apenas como crítica, mas para ver até os extremos a que nós seres humanos podemos chegar para afastar o próximo, que deveríamos, segundo Jesus, sentir bem próximo de nós. A que enormidades podemos recorrer para preservar nossas condições de sobrevivência, a ponto de declarar uma nova linha imaginária Norte-Sul entre os pós-industrializados e os “em processo de industrialização”, quer dizer, os que ainda devem chegar à industrialização que eles já estão abandonando, ou, lendo ainda de outra forma, os que devem comprar suas máquinas obsoletas, sua poluição, suas relações degradadas de trabalho, etc.

                        É demais, para qualquer um.

                        Isso deve nos prevenir com relação aos EUA e a ALCA, ou a NAFTA, ou qualquer coisa que venha dos ricos (EUA, Japão, Europa).

                        Vitória, sábado, 13 de abril de 2002.

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