Thursday, October 31, 2013

Conselho Estadual das Escolas Superiores (da série Expresso 222..., Livro 2)


Conselho Estadual das Escolas Superiores

 

                        De início no ES havia somente a UFES, fundada no ano do meu nascimento, 1954, em 2004 completando 50 anos.

                        Depois foram fundadas algumas faculdades em Colatina e em Cachoeiro de |Itapemirim, a seguir apareceu a FAESA em Vitória, a UVV (Universidade de Vila Velha, que dizem ter pertencido ao senador Eurico Rezende, agora falecido, fazendo parte do espólio), a expansão da UFES para São Mateus, faculdades em Linhares, Aracruz, Serra, Cariacica e até Afonso Cláudio, sem falar nas expansões de todas as anteriores.

                        A FAESA, de cubículos que tinha, cresceu a ponto de ter agora três campus. A UVV rivaliza com a UFES. Surgiu a UNIVIX, do ex-reitor Rômulo Augusto Penina e sócios, em Vitória.

                        Enfim, a coisa cresceu tremendamente, e já existem dúzias de escolas, nos lugares mais insuspeitos.

                        O Colégio Nacional criou faculdades, o Salesiano foi pelo mesmo caminho, o Darwin se associou com uma universidade de fora do estado, até José Teófilo de Oliveira, ex-secretário de estado da Fazenda, cooptou faculdades de fora.

                        A educação dando tanto lucro (na UNIVIX o curso de arquitetura custa 625 reais por mês. Sem contar que pode haver financiamento do governo federal, não sei, é preciso investigar, ninguém revela de boa vontade – nem as escolas particulares nem o governo), não admira que as faculdades brotem como cogumelos depois da chuva em pasto.

                        As pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) querem fazer faculdade a qualquer custo, para superacumular com a mais-valia, obtendo o direito de participar de concursos vedados aos que não tenham curso “superior” (não passa de uma tintura, tantas vezes), ou participando dos cargos de direção com uma incompetência digna de pena, porém apoiada no tal “canudo”, o diploma enrolado e guardado, símbolo de um povo escorado na burocracia improdutiva à portuguesa.

                        O resultado palpável é que quase todos estão dispostos a pagar quase qualquer coisa para ter o direito de sangrar o povo, de fazer parte da “bolha de cima”, como diz José Monteiro Nunes Filho, nosso amigo. E tome pseudo-formações do tipo pague-e-passe (a coisa é tão flagrante que em 2001 um analfabeto, levado a isso pela Rede Globo, se inscreveu e passou numa faculdade do Rio de Janeiro, levando à decisão do Ministro da Educação de FHC, Paulo Renato, de adotar uma pré-seleção baseada em prova escrita, redação anterior às provas propriamente ditas).

                        Durante anos as faculdades de Colatina aceitaram (e ainda aceitam, creio) a ida dos alunos nos finais de semana, de sexta à tarde a domingo de tarde, de todas as cidades das redondezas. Foi assim que um dos meus irmãos se formou em direito lá.

                        Enfim, a situação é bem triste.

                        Mas há males que vem para bem.

                        A Austrália ter sido fundada com gente degredada, assassinos e ladrões não impediu que 200 anos depois ela tenha se tornado um grande país. As pessoas mudam, as pessoas mudam rapidamente.

                        O futuro não vem só do passado, a linha infinitesimal do presente vai modificando a herança.

                        Então, de um passado bem ruinzinho de fato pode surgir um futuro grandioso. O pessimismo não é o melhor conselheiro porisso mesmo, ele mira somente o passado, que é circular.

                        Pelo contrário, o otimismo é o que permite enfrentar o futuro e planejar saídas, mergulhando no desconhecido com calma e confiança em si e nos outros. Daí ser necessário criar esse Conselho Estadual das Escolas Superiores do ES, digamos CESES, de tal modo que possa haver um planejamento DE CONJUNTO, unido, conjugado, pelos diretores de faculdades e os reitores das universidades, levando em conta as necessidades e promessas do Espírito Santo, povo e elites.

                        O que desejamos para nosso futuro? Como o ensino superior pode nos ajudar? Como essas escolas podem melhorar para atender nossas esperanças de melhoria? Há centenas de perguntas a responder.

                        Vitória, domingo, 12 de maio de 2002.

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