Sunday, October 27, 2013

Serge Port, Stanislaw Black Bridge (da série Se Precisar Eu Conto)


Serge Port, Stanislaw Black Bridge


 

Sérgio é santo russo ortodoxo, um dos mais venerados, escolhido pelo pai judeu. Stanislaw é santo polonês, a mãe que quis, por ser judia de lá. Isso é duplamente engraçado, porque sendo ambos judeus adotaram para o filho nome de dois santos católicos, um ortodoxo e outro não: ficou Serge Stanislaw Portov, sendo ov (ou off) designativo de filho, filho de Port. É a verve judaica. A mania de zombar do destino.

Quando vieram para os EUA, ao chegar ao porto em Nova Iorque o menino ficou encantadíssimo com a Estátua da Liberdade e com o próprio sentido da liberdade, de modo que reduziu o nome para Port, Porto. E a ponte do Brooklin foi quanto bastou para Black Bridge, daí o nome artístico Serge Port, Stanislaw Black Bridge.

Nos Estados Unidos nós valorizamos qualquer um que trabalhe ou invente, que tenha méritos, venha de onde vier. O menino cresceu e foi ser humorista, grande cômico que trabalhou em todas as redes nas décadas dos 1950, 1960, 1970, quando finalmente morreu de infarto.

Ah, quanto nós rimos com suas brincadeiras!

Só para começar ele inventou o FEBEAM (Festival de Besteiras que Assola a América), impagável; se tivesse vivido até a década dos 1980 teria pegado Reagan e nas décadas de 1990, 2000, 2010 os sucessivos presidentes, especialmente Bush, Bush para canhão, pai e filho, este o Frankenstein Jr.

Puxa, como precisamos dele agora.

Não cheguei a conhecê-lo de perto, de falar e dar a mão em cumprimento, mas fui a vários shows, era formidável, você chegava sério e de repente, mesmo estando aborrecidíssimo acabava por rir, destramelava, soltava as tramelas mesmo, não tinha como evitar.

Fico pensando em todos os grandes humoristas de palco, de TV, de cinema que há nos EUA.

Será que dariam valor a eles nos demais países?

Esses dias estava fazendo o exercício de imaginar e achei que não, porque não se trata só de nacionalidade, é a tendência à liberdade de zombar das falsidades das autoridades e das falsas autoridades, é a questão central da libertação do gênero humano, embora hoje em dia isso tenha decaído.

Percorri mentalmente a Europa, a Ásia, a África, a América Latina (particularmente o Brasil, pois vivi lá dois anos) e onde quer que os tivessem colocado, não teriam chance, já que são poderes tirânicos. Dessa análise veio meu livro, Riso Libertário, que vendeu bastante. Não apenas analisei cada um deles como também insisti na tese sociológica de que o humor só aparece onde o vetor da liberdade está firmado e confirmado. E quando começarem a perseguir os humoristas nos EUA é sinal de que essa liberdade está esfumaçando.

Serra, domingo, 15 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

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