A Cadeia dos Eventos (da série Já que Conto)

A Cadeia dos Eventos

A família dos guardadores de presos decidiu se reunir para avaliar o desenvolvimento dela ao longo do tempo, onde andavam uns e outros, quem tinha feito o quê, essas coisas.

A reunião foi ali em Santa Lúcia (perto da Praia do Canto), naquela área ampla que ficou bem elegante e já sediou várias reuniões da SABU, a Sociedade dos Amigos de Burarama. De princípio o proprietário não queria alugar, porque era coisa de policial, podia sair tiroteio, mas intimidado como todos nós ficamos com a presença deles, aceitou e, adivinhe, dito e feito, saiu mesmo, se bem que foi mais tarde, já no finzinho da festa, já de noite, e foi só meia hora de balas trocadas, nada sério.

A PARENTADA SE FEZ PRESENTE

CADEIA	XILINDRÓ Daslú.
PRISÃO	JAULA Os confortos dos prisioneiros hoje em dia.
CUBÍCULO	DETENÇÃO
CELA O de baixo é que é o prisioneiro.	SEGURANÇA MÁXIMA
PENITENCIÁRIA Os passarinhos tomando sol.	GRADES

E assim por diante.

Apareceu o Panóptico, parente tão desconhecido que quase ninguém tinha ouvido falar. Sem falar nos puxa-sacos, tipo Algemas, Cordas, Amarração e outros, tudo cumpincha de baixo, gente da ralé, não sei por que os policiais levaram.

O que conduziu aos eventos mencionados foi que Jaula e Detenção, truculentas como sempre, zombaram de Cubículo e Cadeia não gostou, foi tomar satisfações. Cubículo, tão pequenino, que culpa tem de ser baixinho? Ah, vamos e venhamos, há que respeitar as diferenças. Penitenciária, aquela égua, grande e rude, meteu o bedelho, fez arruaça, já era de noite.

Na verdade, a coisa toda começou antes, Cubículo foi só a desculpa, ele estava falando mal do brasileiro Sistema Prisional, mas não começou, foi outra, a Cela, prima da Cadeia. Não podendo bater na Cela, Jaula deu um tapa no Cubículo, filho dela, e a Cadeia se doeu. Foi isso, tão simples quanto isso, não foi aquela “baguuuunça” que a imprensa reportou.

Quebra-quebra? Teve, teve quebra-quebra, onde não tem? Tudo amigável, tudo íntimo, nada que não pudesse ser consertado. A imprensa dá muita atenção, a verdade é essa. Uns tiros aqui, uns tiros ali, que é que tem? Se a gente não puder se divertir com os amigos, como vai ser? E, ademais, o pessoal cotizou e pagou os estragos, no final tava todo mundo rindo, só o Sistema Prisional que ficou um pouco pior, mas ele já tá doente e ninguém cuida dele, que é que nós temos com isso, caramba! Vá-te catar, seu puto.

Só sei dizer que depois nós rimos pra danar e fomos parar no Bar Brasil, que fica ali perto.

Rapaz, a gente rolava de rir.

Depois de passado o perigo a gente ri muito.

Serra, quarta-feira, 17 de outubro de 2012.

José Augusto Gava.