Saturday, September 28, 2013

Vivendo na Roça Durante a Guerra (da série Conto N'Ato)

Vivendo na Roça Durante a Guerra

Vivíamos num lugar tão distante de tudo, tão separado do veio central da civilização que não fazíamos diferença.
Ninguém veio pedir a nossa ajuda.
Isso foi o mais humilhante.
Nem um bom-dia. Nem por deferência “vocês podem ajudar?”
Nada, ficamos totalmente apartados e de fato só fomos saber depois, e por meios indiretos, quando foi notificado através do noticiário bíblico em Gênesis.
TERRA DA PERIFERIA (é como nos vêem)
Só porque eu sou pequenininho?
Não vem diminuindo, não, tô falando.
GRUPO LOCAL
VIA LÁCTEA
CENTRO
A capital não se preocupa com a gente, não, eu fico puto.
PERIFERIA
VIZINHANÇA
Tudo pobre que nem nóis.
SOL-ITÁRIO, SOL-ZINHO
Tá vendo lá longe? É o centro, a capital.

Acho que a vizinhança também não ficou sabendo de nada, é muita desconsideração!
Uma briga destamanho e não sobrou nada pra gente, nem servir como base durante trânsito, como quando a Inglaterra Grande Bretanha pediu ao Brasil para trair a Argentina. Nem sequer ficamos a ver navios, porque não passou nenhum aqui para o nosso culto da carga, a menos que tenha passado e a gente não tenha reparado.
A gente fica passada!
Se pelos menos tivessem pedido licença para acantonar as tropas enquanto elas estavam indo daqui para ali e voltando dali para aqui e assim sucessivamente, toda aquela coisa emocionante das nossas moças ficarem babando pelos guerreiros, mas não, de jeito nenhum, nem um alô, nada mesmo, ficamos no “ora, veja”.
A falta de respeito é assombrosa.
Que sejamos roceiros, tudo bem, somos da periferia, nosso bairro nem tem estradas celestiais pavimentadas, mas assim também já é demais.
Aquele porradeiro danado entre as Tropas do Senhor e os Anjos Rebeldes e nós aqui, nem vimos na televisão.
Vou te contar, é de ficar injuriado.
Serra, quarta-feira, 28 de novembro de 2012.
José Augusto Gava.

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