Rent a Child
Esse cara viu a oportunidade e foi em cima da pinta: alugue uma criança! Para quê ter a sua própria, o que dá tanto trabalho? É melhor alugar por temporada. Não havia parto e dor, não tinha de acordar de noite, não tinha os cinco primeiros anos perigosos, não tinha creche para levar e pegar, não tinha escola, não tinha febre, não tinha pirraças nem nada mesmo que aborrecesse.
Só tinha o lado bom.
Tudo de bom.
Pegava num final de semana, digamos sexta de noite e devolvia no domingo de noite, assim como pai ou mãe separados. Se “desse defeito” (ninguém dizia assim, dizia “ficar doentinho”) podia ligar ao pai ou à mãe, que vinham buscar. Esses pais e mães participantes do programa eram treinados, assim como os filhos e as meninas; se você desejasse que chamasse de “pai” ou “mãe” custava mais caro, pois tudo era medido, tudo era mensurado, nada saía baratinho, mas valia a pena, todo o amor, todo o sentimento extravasado, tudo de bom.
As crianças ganhavam presentes, claro.
O programa era para casais que não queriam ter filhos e lá para frente o marido ou a mulher perguntavam inadvertidamente “querida, por quê mesmo não tivemos filhos?” Depois do aluguel saíam rejuvenescidos, sabendo perfeitamente por que não tinham tido, especialmente se pedissem a modalidade emburrada, as crianças pirracentas (tudo perfeitamente treinado, nada saía dos eixos). Eles esqueciam-se por que eram felizes sozinhos e ao passar pela experiência, mesmo tutelada, reconheciam as razões.
Os maridos e as mulheres ficavam encantados com esse “triscar”, esse toque mínimo. “Pegavam simpatia” e quando desejavam de novo só queriam aquele ou aquela, o que também encarecia, pois havia reserva, certa disputa que aumentava o preço.
Pais e mães aderiram aos programa, principalmente os da classe média, que preparavam melhor e ofereciam exemplares mais qualificados que os destreinados ou irreverentes dos pobres ou miseráveis, estes sem formação nenhuma. Justificavam-se ao alugar os garotos e meninas dizendo que era “pelo bem deles e delas”. E, é claro, embolsavam as gordas recompensas. Ninguém via nada de errado, como os pais e mães de artistas mirins também não viam, ou quem os emprestava para as campanhas publicitárias. E além do mais essas crianças alugadas eram MUITO BEM TRATADAS, principalmente quando percebiam o jogo.
ATORES E ATRIZES MIRINS
As empresas eram muito cuidadosas: tome vacina, defumação, limpeza de unha, educação esmerada, banhos de loja e assim por diante.
E alguns pensaram: por quê não vender as crianças (sale a children)?
ISSO TAMBÉM EXISTIA (o comércio internacional de crianças para adoção)
Exceto em caso de estrupo, a responsabilidade é do pai e da mãe.
Serra, segunda-feira, 03 de dezembro de 2012.
José Augusto Gava.
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