A Gata Borradeira (da série Já que Conto)

A Gata Borradeira

A mãedrástica (madrasta-drástica) dela casara com o pai apenas pelo verde de seus dólares; quando ele morreu de morte naturalmente induzida, a madrasta ficou com receio de ocorrer uma segunda morte logo em seguida, porisso aquietou-se e nada fez à Gata Borradeira.

Quanto a isso há muita intriga e é preciso esclarecer um pouco. Na verdade tudo foi feito no sentido de proteger a moça.

Para evitar que as mentes pervertidas das filhas a influenciassem a Step Mother mandou-as uma para Harvard e a outra para a Caltech, pobres moças, tão distantes do Brasil.

AS UNIVERSIDADES MAIS PRESTIGIADAS (foi difícil escolher e só a muito custo elas foram para os EUA; elas bateram o pé que queriam ficar de qualquer jeito no Brasil, mas a mãe, durona, fez questão, que se há de fazer, o jeito foi ir sofrer no estrangeiro)

Não se pode dizer que as brasileiras estejam lá em cima, não estão.

Em compensação a Gata Borradeira pegou o boi e foi trabalhar meio expediente num escritório de advocacia na Avenida Paulista, pegando dois ônibus e dois metrôs na ida e outro tanto na volta, a sortuda. O estágio era necessário ao curso de datilografia, não de advocacia, a GB dava muito vexame porque ela, francamente, vou falar, ela peidava, que horror, só esse escritório a aceitou. Na frente de todo mundo, ela não conseguia segurar.

A mãedrástica com grande esforço conseguiu esse estágio, a GB ficava na última mesa nos fundos perto do banheiro masculino, que homem faz a toda hora e em todo lugar, não tem nem vergonha.

Eu a conheci ali. Fui eu, sim, que a apresentei ao príncipe, o João Carlos, filho do patrão e herdeiro do escritório de contabilidade, na época estava se formando na Universidade da Rua 3. Ele não ligava, porque tinha um problema no nariz, não sentia cheiro de nada, a GB era bom papo, é boa mãe, eles vivem bem no Morumbi, nos últimos anos o escritório decuplicou de tamanho, está atendendo até as multinacionais, vê o que são as coisas. Ela me agradece até hoje, não há de quê, foi um prazer. Batizou uma das meninas com meu nome, fiquei até envergonhada, veja só.

CASAS DO MARUMBI

Essa é a casa, ainda na maquete.	Essa foi a casa que me deram, não precisava (mas aceito de bom grado).
Ela não quis aparecer na foto, é muito simples e envergonhada.	Essa é a piscina das crianças.

Ai, é a vida.

Serra, sábado, 06 de outubro de 2012.

José Augusto Gava.